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Farol de tendências no Brasil, Alexandre Frota apostou errado em 2022
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Durante anos Alexandre Frota foi uma espécie de farol das tendências nacionais.
Era galã de novela quando nada mobilizava mais as atenções dos brasileiros do que uma boa trama de Roberto Talma.
Foi para a Manchete quando a emissora parecia prestes a criar seu reinado no campo da teledramaturgia; e voltou para os palcos globais muito antes de o barco da concorrência afundar.
No fim dos anos 1990, levou a "Malhação" o seu laboratório de temáticas e estéticas que pareciam convergir até o Colégio Múltipla Escolha.
Em seguida, viu o cavalo da Casa dos Artistas passar encilhado e montou. Tudo isso muito antes de reality show virar modinha por aqui.
Anos depois ele não se constrangeu em mudar o mindset para desfilar sua arte na indústria pornô e nas revistas masculinas quando produtoras como a Brasileirinhas pareciam ter mais futuro do que qualquer startup do Vale do Silício.
Virou funkeiro quando as caixas do Furacão 2000 começavam a estourar os tímpanos nos bailes da juventude Brasil afora.
E líder político quando uma onda varreu o país nos protestos de 2013.
Todos os caminhos levavam a Brasília, e era para lá que o ex-ator iria.
Frota então se tornou um dos mais virulentos representantes da ultradireita brasileira. No novo figurino, ele se engajou na luta contra a ideologia de gênero, contra a Lei Rouanet e contra artistas como Chico Buarque, a quem já chamou de "filho da puta" que pedia voto para Lula por supostamente defender a "volta da mamata". Pelo post, publicado no Twitter em 2017, foi condenado a pagar R$ 30 mil em indenização ao autor de "Deus lhe pague".
Naquele ano, Frota fazia das redes uma tribuna para conclamar os brasileiros a marcharem com ele num ato contra a pedofilia em defesa da família.
Não demorou para o artista cair nas graças da família Bolsonaro, que o recebeu como um dos seus no barco do populismo de direita radical. A joint venture rendeu a ele uma filiação ao PSL e mais de 155 mil votos para sua candidatura a deputado federal. Um case de sucesso que levavam invejosos, como este colunista, a chamá-lo de Forrest Gump da cena nacional.
Chegando a Brasília, como se já não tivesse trocado de figurino o suficiente ao longo da carreira, Frota mandou desdizer aquilo tudo que nos disse antes. Rompeu com o bolsonarismo, ameaçou contar tudo o que sabia sobre o clã, começou a divulgar áudios constrangedores trocados com o presidente e fez subir uma hashtag mostrando seu desejo de consertar o "erro". O "erro" era ter apoiado e ajudado a eleger Jair Bolsonaro, que na época estava prestes a romper com o partido pelo qual ambos foram eleitos.
De lá pra cá, Frota resolveu fazer papel de mocinho. Alinhou a barba, botou pra secar o terno e passou, veja só, a distribuir opiniões sensatas e razoáveis a respeito da política, da sociedade e até da cultura nacional.
Num turning point que nem novela da Globo seria capaz de botar no ar, ao fim da legislatura Frota já estava fazendo o "L" e pedindo votos para Lula.
Antes disso, ele deixou o PSL, partido implodido por Bolsonaro, e migrou para o PSDB. Tudo porque via em João Doria, então governador de São Paulo, o futuro presidente. Pelo currículo de quem se adiantou às modas, políticas e estéticas, em todos os grandes momentos das quatro últimas décadas da República, era difícil imaginar que justo desta vez ele estava apostando no cavalo errado.
Frota não fez a conversão sozinho. Levou para o mesmo caminho a também ex-bolsonarista arrependida Joice Hasselmann, hoje uma espécie de voz da moderação comparada com os primeiros anos de vida pública.
Mas o faro de oportunidade de Alexandre Frota desta vez falhou.
Na reta final da campanha, o hoje (e por enquanto) deputado tucano até conseguiu fabricar um hit ao gravar um vídeo mostrando ao desafeto Tarcísio de Freitas (Republicanos), um novato em São Paulo, alguns pontos turísticos da capital do estado que promete governar. Mas Tarcísio riu por último.
Mesmo com todos os memes, o candidato apoiado pelo presidente largou para o segundo turno à frente de Fernando Haddad (PT), deixando para trás o governador Rodrigo Garcia, neotucano como Frota.
E Frota, que dizia estar de "saco cheio" da vida em Brasília, não repetiu o feito da última campanha. Recebeu apenas 24,4 mil votos em sua tentativa agora de se eleger deputado estadual — um naco do que obteve há quatro anos, mas ainda assim menos vexatório do que Hasselmann. Ela teve apenas 14 mil votos, uma diferença de quase um milhão de eleitores em relação a 2018.
"Eu já esperava o resultado adverso da minha campanha. O PSDB se esfacelou nessa eleição, e não foi por falta de aviso", disse ele à Folha de S.Paulo após o revés. Após o diagnóstico, e a piscadela de Rodrigo Garcia em direção a Tarcísio e a Bolsonaro, Frota anunciou sua saída do partido. Não é o primeiro a deixar o ninho tucano e nem será o último a apagar a luz.
Em busca de novas oportunidades no mercado, ele conta que tem buscado contato para se colocar à disposição do ex-presidente Lula na caminhada do segundo turno. Desta vez, ele mesmo admite que vai ser difícil se reinventar.
"A esquerda tem problemas comigo pelo passado, mas estou de olho no futuro."
Pelo saldo das apostas anteriores, é bom não desdenhar.
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