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Matheus Pichonelli

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Morador de Ubatuba relata falta de alerta sobre chuva e mutirão improvisado

Vista aérea de Ubatuba (SP) após a chuva, no domingo (19) - Eilor Marigo
Vista aérea de Ubatuba (SP) após a chuva, no domingo (19) Imagem: Eilor Marigo

Colunista do UOL

20/02/2023 12h22

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Morador de Ubatuba, município do litoral norte de São Paulo, o publicitário Eilor Marigo, 38, já estava na estrada quando resolveu dar meia-volta, desistindo da viagem até Paraty (RJ), onde passaria o Carnaval, no domingo (19).

Ele e a irmã mantiveram os planos para a festa mesmo após a forte chuva que atingiu a região e matou mais de 35 pessoas entre a noite de sexta-feira e a manhã do dia seguinte.

Até então, a única informação sobre as inundações e deslizamentos havia sido enviada em forma de alerta na sexta-feira (17). Foi um amigo de Paraty quem encaminhou pelo WhatsApp a previsão de um assessor náutico para o fim de semana. Era um aviso de que haveria tempo ruim, com previsão de rajadas e ventos fortes até segunda-feira (20), e informações técnicas sobre ondulação oceânica de até quatro metros.

Marigo e a irmã só visualizaram a dimensão dos estragos quando saíram de casa, na região do bairro do Lázaro.

"A expectativa era que chovesse de sábado até segunda, mas meio que caiu tudo de uma vez. Durante a madrugada de sexta pra sábado, a chuva foi muito forte, não parou um minuto. Quando acordamos, arrumamos tudo e por volta das 9h30 saímos pra pegar estrada. Moramos bem ao lado da BR-101. A 3 quilômetros de casa, vimos uma barreira enorme. Voltamos, tentamos seguir por outra via, mas estava tudo parado."

O aviso para não seguir adiante era feito pelos próprios motoristas que voltavam pelo contrafluxo. "Desiste, não vai passar", eles diziam.

Foi o que Eilor e a irmã fizeram. "Achamos que era mais seguro voltar e esperar."

No caminho, eles notaram que os trabalhos de remoção de árvores e coordenação do trânsito eram feitos, de maneira improvisada, pelos próprios moradores do bairro. "Está tudo meio bagunçado", ele ouviu de um senhor que ajudava a retirar a sujeira da pista.

Nas redes sociais, não havia nada nas páginas oficiais da prefeitura que orientasse os moradores diante da situação.

"Não tinha informação nenhuma. Ninguém sabia que teria uma tempestade assim. Nessa época de Carnaval, alta temporada, parece que evitam alarmar a população. Tudo o que a gente sabia vinha de fora", afirma.

O bairro onde eles moram ficou sem água o dia todo. A situação foi amenizada com a ajuda de uma caixa d'água, um "luxo" para os padrões locais. Outros bairros passaram o dia sem energia elétrica.

Sua casa não foi afetada, embora fique próxima ao local onde uma criança morreu em um deslizamento.

"Em São Sebastião e Ilhabela foi ainda pior. Em Camburi a situação está péssima, com muita gente desabrigada. Em Ubatuba teve também deslizamentos. Nessa época vira e mexe a estrada desbarranca. Mas dessa vez foram muitos pontos. Aqui é tudo morro e serra, e a infraestrutura é precária."

Marigo conta ter passado o dia ilhado. Só era possível sair de lá por barco. Ele, então, decidiu fazer um registro da situação com um drone. As imagens mostram três lugares onde houve queda de barreiras e árvores.

No dia seguinte, com a liberação das estradas, tentou novamente seguir viagem até Paraty.

Por conta do trânsito, o deslocamento, que geralmente dura 1h30, levaria quase 3h na previsão mais otimista. "Se começar a chover de novo, a gente cai fora", me disse ele, já na estrada, por mensagem de WhatsApp.