SÓ NA TRANSPARÊNCIA

Conheça a Asha Club, casa de swing com ar de balada na zona sul de São Paulo

Gustavo Basso (texto e fotos) Colaboração para o TAB, de São Paulo

Um casal jovem, trancado em uma cabine, é observado por todos os lados. De joelhos em um banco acolchoado, ela é penetrada por trás por ele, que gosta de ver os pares de olhos famintos excitados, se tocando e provocando.

Janelas não faltam a cada uma das cabines instaladas no labirinto da balada Asha Club, no coração de Moema, bairro da zona sul de São Paulo que é polo das casas liberais da cidade. "Glory holes" (aberturas na parede onde se pratica sexo oral e masturbação, sem contato visual entre os envolvidos), janelões envidraçados, celas e treliças lembram um confessionário. A psicóloga Patrícia*, 27, encontrou o que nem sabia estar buscando: sentir prazer se exibindo, enquanto transava com o parceiro que conhecera dias antes num aplicativo.

"É uma janela, mas também parece um espelho; às vezes o casal do outro lado estava na mesma posição, fazendo a mesma coisa. Dá muito tesão", explica ela, que teve sua estreia no sexo com mais de um parceiro minutos antes.

Com a long neck a quase R$ 25 e um gim tônica a R$ 40, o público majoritário é de casais, homens e mulheres com 35 anos ou mais, gente que trabalha em escritório, sobretudo engenheiros e gerentes de TI. Os homens chegam em trajes "padrão balada da zona sul paulistana": sapatênis, calça e camiseta e camisa lisa. As mulheres vestem minissaias e vestidos curtos, dos quais se livram rapidamente, no meio da balada.

Esta é mais uma reportagem da série publicada pelo Aba Anônima contando o que rola nas casas de swing pelo Brasil.

RECEPÇÃO CALOROSA

Frequentador assíduo de baladas, aplicativos e casais liberais, Bruno*, 31, recebeu como Patricia o tour oferecido aos novatos. Partiu dele o convite, mas de ambos o interesse. O prédio de fachada neoclássica foi escolhido para a iniciação.

A balada, que até 2017 chamava-se Vogue, recebe casais por uma pequena porta. "Casas de swing são espaços para a realização de fantasias", define o gerente Marcos Rebelo, 41, que recepciona os iniciantes logo na entrada.

Do lado de dentro, quem também recebe convidados é o casal Isabela*, 35, e Carlos*, 37. O beijo na boca de boas-vindas é prática das mais comuns entre o grupo mais animado da pista de dança, e não demora muito para tomar conta do pole dance que ocupa o centro do amplo espaço cercado de mesinhas, mesas e poltronas.

Na pista a pegação rola de leve. A coisa ferve mesmo com o strip-tease de mulheres e homens contratados, pelo menos uma vez por noite. O show funciona como uma espécie de divisor de águas: depois dele vai todo mundo para o labirinto — quem tem companhia se vira; quem não tem, corre para uma sala comunal, para tentar se arranjar.

Duas mulheres que já perderam boa parte das roupas elegantes da chegada dançam, se tocam e se beijam, observadas pelos demais. Um DJ comanda o som, dominado por música eletrônica. Logo outras se juntam a elas, tornando a dança mais erótica para entusiastas do bi feminino, algo quase unânime no mundo do swing. A interação de duas garotas é encarada com mais bons olhos que a de dois rapazes.

Além da pista, a casa tem lounge com poltronas e sinuca no andar de cima, além dos labirintos em ambos os andares (o de baixo é maior e mais diverso).

ACESSIBILIDADE SWINGUEIRA

Um pouco mais afastados e tímidos, Rogério*, 38, e Vânia*, 40, assistem à cena em torno da barra de aço escovado. É a primeira vez do casal na Asha, a quarta em uma casa de swing. Cadeirante desde que sofreu um acidente automotivo, três anos atrás, o segurança aposentado fez questão de experimentar os corredores do labirinto e as espaçosas cabines, antes de dar continuidade à noite. São as melhores que ele conheceu até então, afirmou.

Juntos há 20 anos, eles buscam esquentar a vida sexual. "Sempre tivemos uma relação muito ativa, mas depois do acidente algumas coisas se tornaram impossíveis, como o sexo de quatro, por exemplo", conta Rogério. Partiu dele o convite para trazerem terceiros e quartos para as transas do casal.

A vontade de ambos aumentou com o show de strip profissional, no mesmo pole onde antes as garotas provocavam os demais. Uma garota bronzeada, ornada com tatuagens e silicone, chamava homens e mulheres para contracenar com ela, enquanto as roupas iam ficando pelo chão. Toques e lambidas em áreas sugestivas eram normais, mas não passavam disso. O homem musculoso e depilado que subiu no pole dance seguiu um enredo semelhante, chamando apenas mulheres.

Como os novatos são apresentados à casa logo na entrada, quem estreia na Asha já sabe como agir (por observação e orientação). Casais e mulheres solteiras são as presenças mais requisitadas ali. Homens sozinhos só interagem com uma mulher acompanhada depois de trocar ideia com o marido — a maior parte do público é de casais. Ainda assim, a entrada dos banheiros e labirintos é muito bem sinalizada.

A diversão segue a sequência de uma balada: dança, papo, flerte — e aqui, as garotas têm espaço exclusivo no balcão e no meio da pista para sensualizar nos poles e se despir, sem serem importunadas.

TODO MUNDO NA MESMA CAMA

"As trocas e transas começam para valer somente depois dos shows", explica o gerente. Não demora muito para a pista ir esvaziando. Alguns sobem para o elegante lobby no andar superior, onde uma mesa de sinuca é usada mais para fantasias que para partidas. A maioria, no entanto, procura a placa "labirinto".

Patrícia e Bruno visitam o quarto compartilhado por casais e solteiros e uma grande cama circular. "Ficamos no sofá nos beijando, e vieram alguns caras pelos lados, por trás, me tocando, passando a mão, puxando e arrancando a minha roupa, enquanto o Bruno me incentivava a ir com um mais dotado", conta ela, que observou uma presença maior de homens que mulheres e sentiu falta de explorar seu lado bissexual.

"O dotado me chamou para ir para a cama e eu topei, e a partir daí foi coisa de filme: quando ele me colocou, veio uma mulher em cima de mim para me beijar, enquanto outras pessoas passavam a mão no meu peito, na minha bunda. Fiquei muito molhada. Gozei com a penetração um orgasmo muito diferente do que já tinha sentido."

Pedro* aproveitou o esvaziamento da pista para se soltar no labirinto com um paranaense. Homossexual assumido, foi com o homem para uma cabine, mas, ao trocarem de ambiente, foram convidados a deixar o labirinto — uma queixa comum em casas liberais. A mudança de perfil de frequentadores, que vai deixando de receber apenas casais para se abrir a ménages, cuckolds, hotwives e tantas outras nomenclaturas, parece não assimilar bem dois homens se pegando no escuro.

SERVIÇO
Asha Club:
Av: Dos Carinás 562, Moema, São Paulo, tel.: (11) 5093-7731. Funciona de quarta a sábado. Das 21h às 5h (qua.) e das 22h às 6h (qui. a dom.). Valor da entrada aos sábados: casal (R$ 190, revertidos em consumo, chegando até 23h30), mulher (R$ 60, revertidos em consumo) e homem (R$ 510, com consumação de R$ 130).

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