Fazia cinco anos que não voltava para a cidade em que nasci e cresci. Andando pelo centro, de repente, um susto: toca alto uma música dos Racionais MC's onde só se escutava forró e brega. No coreto da praça, uns moleques estavam fazendo uma batalha de rimas. "É o rap de Araioses invadindo a cena / tudo o que vai, volta / menos a morena." Com esses versos nasceu a Batalha do Café na cidade de 43 mil habitantes, fundada por indígenas arayos.
Como várias praças nordestinas, toda a noite as pessoas se dividem entre os que sentam em bancos de concreto para ver a TV no poste e os que fazem sua caminhada aproveitando que o sol se pôs. Mas agora tem gente jovem se reunindo ao redor de uma caixa de som e um bule de café.
Os MCs parecem dois boxeadores. Antes do combate, uns olham para baixo e se concentram. Outros se estudam, encaram o rival, fazem cara feia. Quando começa o duelo, no lugar da troca de socos, disparam ofensas e críticas no tempo do beat. No primeiro round, cada um tem 30 segundos para atingir o rival. No segundo round, a ordem dos oponentes se inverte, e a porradaria verbal segue.
Ycaro Lima, 23, trouxe a batalha para a cidade depois de participar de uma rinha na vizinha Parnaíba, no estado do Piauí. "No começo a gente nem sabia assim muito das regras, tá ligado? As pessoas passavam rindo da nossa cara, chamando a gente de louco. Mas aquelas risadas ali, mano, me faziam rimar mais. Aí eu cantava alto pra eles ouvirem e se tocarem do que eu estava falando", conta o MC.
Nas festas locais, o que mais toca é o funk, superando o forró, o samba, o axé, o eletrobrega e o reggae, estilo que mais representa o Maranhão (a Jamaica brasileira). Mas, entre os jovens, o que impera é a rima.