Aconteceu: a Semana de Arte Moderna chegou aos 100 anos sob o risco de cancelamento. Não bastassem os textos nos jornais, livros, a grita de artistas que a veem como branca, burguesa e paulista, o escritor Ruy Castro, em ensaio publicado dia 6 de fevereiro na Ilustríssima, da Folha de S.Paulo, chegou a afirmar que o festival de três dias só virou alguma coisa porque Oswald de Andrade gostava de reescrever a história. E que foi o governo militar, em 1972, que a tirou do esquecimento.
Convidado do programa "Roda Viva" no dia seguinte (7), repetiu tudo o que havia escrito.
Mesmo que a tese de Ruy Castro pareça exagerada, está claro que aquele encontro de artistas bancado por alguns ricaços e pelo próprio governo (na figura do "presidente da província" Washington Luís), em celebração aos 100 anos da Independência do Brasil, não foi propriamente o Big Bang da modernidade brasileira. Foi o quê, então?
Exposições e leituras sobre a Semana já tomam algumas praças — quase sempre em São Paulo. Em quase todas, a palavra "revisão" ecoa baixinho. Reconhece-se o marco, discutem-se as ausências.
Se ainda é difícil classificar o que foi a Semana de 22, repensar seus legados talvez leve mais cem anos. Afinal, como aquele movimento — hoje desconstruído por muitos críticos e historiadores — reverbera na produção artística nacional? O que resta de "moderno" em 2022? Foi o que TAB perguntou a artistas e pensadores, às vésperas do centenário.