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Gang bang, pinga e torresmo: o prazer é brusco em hotel liberal da Baixada

Adams Carvalho/UOL
Imagem: Adams Carvalho/UOL

Do TAB, em Praia Grande (SP)

08/11/2022 22h00

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Na hora combinada para o check-in, às 19h30 de sábado, tudo permanecia escuro e quieto atrás do portão trancado do Beach Clube. O endereço do único hotel liberal em terras paulistas estava certo, apesar de não haver na fachada nenhuma placa. Procurei a campainha e nada. Bati palmas, e não houve resposta. Mandei mensagem no WhatsApp para Lando, seu proprietário e meu contato, e ele não visualizou.

Os minutos passavam, e parecia que tinha ido para o saco a prometida estadia repleta de gang bangs, ménages à trois, trocas de casais e outras aventuras lúbricas na Praia Grande (SP). Decidi dar uma volta até a praia para espairecer. Quando cheguei à esquina, vi duas pessoas mexendo no portão e voltei: eram os funcionários do bar do hotel.

Entrei com eles e encontrei no fundo meu cicerone. Lando estava arrumando a festa de aniversário que aconteceria mais tarde. "Essa é a mesa de bilhar, mas cobrimos porque aqui uma garota vai ser confeitada com chantili para os convidados caírem de boca. Quem colocar a mão sai da brincadeira", explicou, com um sorriso flutuando em seus lábios.

Ele me mostrou as dependências, incluindo meu quarto, uma das oito suítes disponíveis. "As camas são reforçadas com base de alvenaria, porque não aguentava mais comprar uma nova todo mês", revelou. Em tempos de amores líquidos, o colchão também ganhou revestimento de lona impermeável para se proteger de suores, secreções, biritas e outros fluidos amatórios.

Aproveitei para guardar minha mochila e cochilar até a festa começar. O pernoite seria longo e louco — ainda mais porque o quarto ao lado foi destacado como "lokal kent", território liberado para triângulos sem bermudas, polígonos para polígamos e toda a geometria da sacanagem.

Se meu quarto falasse

Desperto de meus sonhos com um funk no ouvido: "Talarica / Tava sentando no macho da tua amiga / E tu vai levar um pau." O batidão das caixas de som ganhava um mash-up vindo da habitação ao lado: uma garota arrastara dois caras para um sofá-cama que rangia e batia contra a parede. E ela repetia tanto "ai, cacete, ai, caralho" que parecia um remix improvisado.

De repente, murros na porta: "Natália, tá fazendo o que aí?". Segundos de silêncio. "Relaxa, a gente tá só conversando", respondeu. Era uma meia-verdade, afinal, havia ali um diálogo de urros e gemidos. A amiga não se convenceu: "A gente acabou de chegar e você já tá dando, porra?".

Eram 22h, e o fuque-fuque já pegava fogo. Ao sair dos meus aposentos, bato com a porta em um rapaz que estava parado no corredor. Já ia pedir desculpa quando olhei pro lado, e mais dois estavam se esgueirando na minha janela, tentando ver algo pela fresta da cortina. Sem conseguir localizar o epicentro da gritaria, o trio de bisbilhoteiros se confundiu, mas mostrou zero constrangimento com o flagra e já partiu para a maçaneta da porta seguinte para ver se estava aberta. Privacidade não é mesmo o forte do Beach Clube.

Deixei a ala de dormitórios e desci as escadas para o salão principal. Lá estava rolando uma jogatina bem distante dos típicos bingos das colônias de férias de funcionários públicos que pululam pela costa. "Quem for sorteado vai ganhar uma mamada", anunciava ao microfone a drag queen que cuidava do cerimonial do festim.

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Imagem: Adams Carvalho/UOL

Bacanal, bom e barato

"Os vizinhos estão acostumados. Ou são meus amigos ou meus funcionários. Fora que aqui tem boa acústica, e deixo o som baixo." Lando tinha uma fábrica de autopeças no ABC Paulista até o início do século, quando reviravoltas da economia o fizeram fechar a empresa.

Sua casa de veraneio virou empreendimento. "Eu já frequentava o mundo do swing. Aí convidei um amigo para a praia, e ele falou: 'Aqui dá tranquilo para fazer um clube.' Tinha tanto espaço que decidi montar uma pousada junto. Com o lucro daqui, paguei até a faculdade de medicina da minha filha", contou sobre o estabelecimento de 21 anos de existência.

O Beach Clube é a versão "low cost" dos hotéis libertinos. Enquanto para desfrutar de seus similares no Nordeste ou no Caribe você vai desembolsar milhares de reais, o acesso à alternativa caiçara começa com R$ 200 de diária, que inclui a entrada na festa, mais um cascalho para transporte e bebida.

Quanto ao estilo de hospedagem, o local está mais para um motel de beira de estrada (a rodovia Padre Manoel da Nóbrega, que liga todo o Litoral Sul, está logo ao lado) do que um hotel-butique pé na areia. O fundo musical vem dos motores dos carros, não das ondas do mar, distantes cinco quarteirões dali.

E não repare muito no mobiliário desgastado, nas manchas nas paredes e nos musgos nas telhas. Quem quer ação não está interessado em decoração.

Orifícios e seus ofícios

"Vai começar o gang bang. Cadê os homens desse lugar?", demandou a drag guia da safadeza. Ao centro do quarto, uma dama esperava em cima do colchão, enquanto os convivas se aglomeravam nos sofás do entorno, contra a parede e atrás da janela. Muitos para ver, mas poucos para agir. Só um par masculino tirou a roupa e vestiu a camisinha à beira da cama.

Como com esse quórum se formava no máximo um ménage à trois, a drag foi atrás de mais voluntários. E os encontrou nas salas de toque, se acotovelando atrás dos "glory holes". Nessa parte da casa, casais transam em compartimentos e podem abrir buracos por onde passam o olhar e o tato de mãos e paus dos solteiros, que estão atrás das divisórias de madeira compensada.

"Sai da fila da punhetinha e vai trepar de verdade, meu filho, que uma gostosa está te esperando", convocou a mestre sem cerimônia. Como há uma bela distância entre voyeurs e exibicionistas, que os tratados de psiquiatria podem explicar, só outros dois rapazes altruístas se ofereceram.

Com quatro cavalheiros, a gangue estava formada. Um quinto elemento, o prestativo marido da protagonista, segurava uma toalha na mão. "Tá muito abafado aqui, tô suando demais. Amor, me seca por favor", ordenou em uma pausa a esposa terceirizada. Enquanto ela era devidamente enxugada, seus atacantes tateavam suas ereções emborrachadas. Já os espectadores se dividiam entre os que torciam, faziam piadas ou se animavam a participar. Excitado, um casal pulou na cama e se juntou ao conglomerado carnívoro.

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Imagem: Adams Carvalho/UOL

Excessos da carne

A noite de prazer se acelerava e multiplicava. Desejo, realização e gozo se revezavam apressados. Até que chegou a hora do bolo. O aniversariante vestido de gigolô, com correntes douradas no meio da camisa aberta, convocou suas convidadas, fantasiadas com espartilho e cartola de melindrosa, para o parabéns.

Em cima da mesa, uma beldade estava coberta com chantili, uvas verdes e cerejas artificiais. Com ferocidade, lamberam a carne doce e cremosa. Mais afoita, uma garota subiu na mesa e, de quatro, avançou sobre os seios do "bolo vivo". O aniversariante aproveitou a posição para desferir um tapa na bunda da esfomeada, que meteu as fuças na cobertura branca. De repente, o que parecia um filme pornô ganhava uma cena de comédia pastelão.

Já a gata glaceada orientava a deglutição alheia. "Mexe mais essa língua. Isso, isso. Agora sim", instruiu um rapaz que se empenhava na sucção dos grandes lábios.

Na mesa ao lado, havia para os convidados outras delícias bruscas: nacos de porco frito e garrafas de cachaça temperada com cravo e canela. Apesar de o convite falar em "churrasco free", só se viram sobre as bandejas dali torresmo e batatinhas em conserva.

Como nas festas convencionais, depois do bolo veio a debandada geral. Eram 5h30, o sol aparecia e os comensais, casados ou solteiros, arrastavam a ressaca imoral para os dormitórios. Uns ficaram no hotel. Já quem mora na Baixada ou tem casa de temporada voltou para a redoma do lar e da vidinha "real e oficial".

Desjejum dos devassos

Nada de mamão com mel acompanhado de música fofa das pousadinhas litorâneas. Só os escombros da felicidade me recepcionaram na manhã seguinte: nas mesas e nos pisos se espalhavam latinhas de cerveja, guimbas de cigarro e embalagens de preservativo.

Saí dali atrás de uma padaria na vizinhança. Crianças brincavam na rua, aposentadas conversavam na calçada e cachorros latiam atrás dos portões reforçados, com placas de "vende-se pipa" e "açaí R$ 10".

Passou um carro com alto-falante. "Tem camarão sem cabeça pronto para fritar, e marisco direto de Cananeia." Não era exatamente o que queria botar na boca naquele momento. Achei um boteco e engoli um café com leite e um pão com manteiga enquanto testemunhava o fluxo das famílias rumo à areia, com crianças besuntadas de protetor solar e carregando baldinhos e pazinhas para erguer seus castelos efêmeros.

Alimentado, voltei para a fortaleza libertina, peguei a mochila, me despedi do anfitrião e rumei para a rodoviária para pegar um ônibus e subir a Serra do Mar em direção ao terminal Jabaquara. Entre o check-in e o check-out muita coisa entrou e saiu daquele hotel, mas era hora de dar adeus à Praia Grande e a uma devassidão vasta como um oceano.