'Viciada em sexo', mulher trans de 1,90m comanda festa 'gang bang' em SP
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A proporção que pode chegar a dez homens para uma mulher não incomoda os participantes. Com paus eretos à mostra, eles desfilam pelo salão — alguns sem camisa, outros já com a camisinha vestida para não perder tempo. Há preservativos em grandes bandejas, espalhadas por todos os ambientes. Quando um casal começa a transar no meio de uma das salas, outros homens se aproximam rapidamente. Os que estão mais distantes se masturbam. Quem chegou mais rápido e está próximo esfrega o pau na mulher, oferece o membro para um sexo oral ou para uma punheta. Não há muitas palavras, mas as relações se constroem fisicamente consensuais. Terminada a cena, o grupo se dispersa.
Com olhos atentos no ambiente escuro, os homens buscam um novo alvo para a cena se repetir. Apesar da aparente bagunça, tudo acontece sob o olhar atento de Duda, organizadora da festa. Com um leque e um microfone, a mulher trans de cerca de 1,90m de altura orienta os funcionários, faz avisos sobre as regras da casa, anuncia os produtos do bar e as atrações e anima quem está no salão.
Duas normas são rígidas: os homens não podem estar com seus celulares nas mãos, para evitar filmagens sem consentimento, e são proibidos de tentar qualquer penetração sem preservativo. São faltas punidas com expulsão "sem direito a reembolso do valor da entrada", destaca Duda. Para estar lá, os homens pagam R$ 70; os casais, R$ 40; e "crossdressers" (homens que se vestem de mulher na intimidade, os CDs), R$ 15. Mulheres cisgênero e trans desacompanhadas não pagam para entrar.
A festa acontece no cinema Kratos, na rua Aurora, no centro de São Paulo, em uma região que muitas décadas atrás levava o nome de Boca do Lixo, o Quadrilátero do Pecado. A entrada é por uma pequena porta de ferro, que num sábado de outubro estava toda decorada com bexigas pretas, vermelhas e douradas. O hall tem a bilheteria em um balcão de madeira preta com detalhes em estofado vermelho e uma prateleira com filmes de sexo explícito.
O caminho para as salas, que ficam num porão, é por uma escada e rampa. No meio, cabines para sexo com "glory holes" (buracos que permitem que a pessoa transe com quem está na cabine ao lado, sem que um saiba quem é o outro). No subsolo, um lounge com internet, um bar com vídeos de música (o palco onde há shows fica nesse ambiente), três pequenas salas de projeção, cabines abertas para sexo e um "dark room", para uma transa mais reservada e intensa. Camas e sofás estão espalhados por todos os ambientes.
Sábado de sol
Em décadas anteriores, ali funcionou o Cine Los Angeles, que também teve sua fase de exibição de filmes pornôs. Entre uma coisa e outra, o local abrigou um estacionamento. Por isso, o espaço tem estrutura improvisada, decorada com panos pretos e tapumes pintados da mesma cor. É um estilo mais "rústico", define um dos gerentes da casa.
As festas se repetem aos sábados no local há dois anos e começam às 14h. Em dias de casa cheia, como é o caso deste sábado ensolarado, chegam a atrair 300 pessoas e terminam perto da meia-noite.
Às segundas e quartas-feiras, o cinema é reservado para outras festas e, na sexta, para uma festa de CDs ("crossdressers"), onde elas recebem homens para sexo. Bebidas, petiscos, música e shows ao vivo fazem parte da festa, mas a principal atração é o sexo livre. Apesar de muitos chamarem a festa de swing (troca de casais), a especialidade é o "gang bang", ou "gang" para os praticantes (sexo grupal com predominância de homens transando com poucas mulheres).
Duda é uma praticante da atividade mesmo no horário de trabalho. Durante a festa, é possível vê-la fazendo sexo oral em um dos visitantes enquanto outro a penetra. "Sou viciada em sexo, mas hoje está mais movimentado e não dá para transar muito. Tem dias que eu chego a dar para 15 caras durante a festa", afirma. Os números também são importantes na prática, mesmo que tenha gente que garanta que vai mais para olhar, ver o movimento, beber algo e se distrair.
Sexo sem discriminação
As idades, tipos físicos e classes sociais são bastante variados, como se apenas o sexo grupal fosse capaz de juntar um grupo tão distinto. Um jovem soldado do Exército conta ter participado de missões de paz em Angola e no Haiti e está na festa pela segunda vez. Um senhor de cabelos brancos costuma sair com casais e fala que começou a frequentar casas de swing e festas liberais nos anos 1990. "Desde a época daquela música do Mamonas Assassinas, 'Neste raio de suruba já me passaram a mão na bunda/E ainda não comi ninguém'", brinca. Obviamente, o desempenho nas festas melhorou de lá para cá.
Um jovem gamer, que diz ter autismo, frequenta a festa ao lado da namorada, que tem uma paralisia cerebral que afeta o lado esquerdo. Uma "crossdresser" septuagenária desfila de máscara e fio dental, até a hora de voltar com pressa para casa, no meio da tarde. "Minha família está esperando", justifica. Em sua vida masculina, é casado pela terceira vez e só no primeiro casamento teve seis filhos.
Nem todas as famílias, no entanto, ficam do lado de fora. Uma jovem de 25 anos está no salão acompanhada da mãe. Para quem estranha, ela responde de bate-pronto: "Não tem pai que leva o filho para a zona? Por que minha mãe não pode me trazer aqui?". O sonho da jovem agora é formar um trisal com dois homens.
Presente à festa, a ex-atriz pornô Alexia Firenze, 39, diz que o sexo não é o único atrativo do universo "gang". Fala em aceitação e convívio com as diferenças. Como ela, outras mulheres na faixa dos 40 anos destacam essa diversidade. Uma delas cita que estava com muitos problemas de autoestima e acabou se recuperando nesse ambiente.
Pelo menos para Duda, o "gang" se tornou também um negócio lucrativo. Ela conta que se prostituía no cinema antes de começar a organizar as festas. Começou a fazer programas quando ainda era "crossdresser". "Eu guardava minhas roupas dentro do sofá da sala para esconder da minha esposa", comenta. Ela só transicionou aos 29 anos. A decisão significou um rompimento dela com a Igreja Universal do Reino de Deus, ambiente em que foi criada. Depois de começar as festas, passou a ser a arrendatária do cinema —- o antigo proprietário desistiu do negócio por causa da pandemia.
A festa, no entanto, vai além das cenas vistas no salão. Uma porta preta fechada no fundo leva a uma escada e, ao final dela, ao camarim, como o espaço é conhecido. Criado especialmente para as CDs, o espaço recebe também mulheres. Conta com armários para que as roupas masculinas das CDs sejam guardadas, um bazar de roupas e sapatos, loja de lingerie. Cris, outra mulher trans, é responsável pela produção das visitantes. "É um grupo muito heterogêneo, tem homens casados com mulheres, outros são gays. Umas são ativas com mulheres e passivas com homens; outras, só passivas", conta. Ela chegou cedo e só desce para o salão depois das 18h, após preparar todas as suas meninas. Também faz questão de ter o seu quinhão de prazer.
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