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Depois do futebol, o encontro para relaxar e gozar com os amigos em SP

André Nery/UOL
Imagem: André Nery/UOL

Mateus Araújo

Do TAB, em São Paulo

24/01/2023 22h00

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A meia preta, na metade da canela, foi o que primeiro chamou atenção de Márcio* ao ver a foto de Tiago* em um aplicativo de pegação. Não tinha rosto à mostra, só a perna peluda, longa, com panturrilha definida e coxa musculosa. O cenário de um vestiário e o figurino peculiar eram suficientes para decifrar quem estava do outro lado da tela: um jogador de futebol em busca de sexo.

"Curte fetiche?", digitou imediatamente o rapaz. Tiago já sabia aonde a pergunta os levaria: "muitos caras têm fetiche em atleta", conta, acostumado às abordagens daquele tipo. Futebolista, o homem alto, magro, com barba grossa e aparada alimenta o tesão de outros homens com seu estilo mais sisudo e tímido.

Márcio queria papo e delirou quando Tiago passou a retribuir o desejo. "Ele perguntou quando eu teria treino e disse que queria transar comigo quando eu saísse. Ele queria que eu fosse de uniforme, sem tomar banho."

Camuflada num jardim bem em frente ao Largo do Arouche, no centro de São Paulo, a Chilli Pepper pode até passar despercebida por pessoas menos atentas. A fachada coberta de plantas trepadeiras e um letreiro luminoso, porém discreto, que anuncia um "single hotel" ("hotel para solteiros", em tradução literal) esconde, por dentro, um enorme parque de diversões do prazer. Ali só entram homens, todos dispostos a desfrutar horas de vapor para dilatar os poros e soltar a libido.

Márcio e Tiago, que têm cerca de 30 anos, marcaram de se encontrar num dos quartos da Chilli, numa noite pós-treino. Não quiseram saber das piscinas do hotel, nem do bar ou do pátio onde outros caras desfilavam sem roupa. Assim que se encontraram, não houve tempo para conversa. "Fui direto para o quarto em que ele estava."

Trancados, Márcio tirou o uniforme de Tiago lentamente, entre beijos e alguns abraços, e deslizou o rosto por todo o corpo do atleta, esfregando o nariz onde havia suor — aquilo o excitava. Foi alguns minutos cheirando o pescoço pegajoso até descer para a axila. Márcio dedicou mais tempo à virilha de Tiago, lambendo toda a região em torno do pênis enrijecido para, então, abocanhá-lo. Dali seguiu para os pés, onde roçou a língua entre os dedos e fungou extasiado o perfume que lhe fascinava.

Márcio se contorcia de prazer. Tiago se deleitava. Transaram por horas naquele quartinho, explorando todas as posições possíveis. Suaram juntos desta vez. "Gosto de dar prazer", confessa o jogador.

Jogadores do time Bulls - André Nery/UOL - André Nery/UOL
Jogadores do time Bulls, de São Paulo, trocando de roupa no vestiário
Imagem: André Nery/UOL
Jogadores do time Bulls - André Nery/UOL - André Nery/UOL
Jogador do time Bulls, de São Paulo, trocando de roupa no vestiário
Imagem: André Nery/UOL

Pós-treino

Dias de treino e jogo tendem a ser puxados para a equipe do Bulls, um time de futebol formado por homens gays do qual Tiago faz parte. O encontro marcado naquela sauna não foi à toa: é ali que, semanalmente, ele e outros amigos relaxam após os exercícios. A Chilli é patrocinadora da equipe e dá acesso gratuito aos atletas.

"Antes mesmo de a gente ser patrocinado pela sauna, muitos dos jogadores já frequentavam a casa. Alguns já iam direto do treino. Depois da parceria, foi ainda melhor, porque a gente une o útil ao agradável", contava um dos atletas no final de um treino, em dezembro, na zona oeste de São Paulo. "A gente vai relaxar, tomar uma cervejinha, conversar com os amigos e, se for o caso, rola alguma coisa a mais."

Aquele último jogo amistoso da equipe antes do recesso de final de ano terminou, claro, com uma ida à sauna. Oito deles seguiram direto da quadra para a Chilli. Lá se reuniram numa das mesinhas do pátio, em torno de duas mesas, para conversar sobre paqueras e campeonatos. Vez ou outra, alguns aproveitavam, mais soltinhos, para circular pelos dois andares movimentados.

A presença do time já é conhecida dos frequentadores. O grupo altera o perfil do hotel, um conhecido destino pós-balada daqueles que sempre querem esticar a noite. "As pessoas têm uma imagem de que hotel e sauna gay estão ligados a um tipo de gay baladeiro, que sai da festa e vai pra sauna. Mas existe quem usa o espaço para relaxar ou se hospedar. Então, vincular a imagem também para um lado de saúde, que é o esporte, é muito interessante. Faz a Chilli ser mais sexy", comenta o empresário Douglas Drummond, dono do local.

Em junho de 2022, o Bulls aproveitou a festa de aniversário da sauna para lançar duas edições especiais de seu uniforme. "Viemos eu e um amigo mostrar. A gente entrou no clima e ficou sem a cueca por baixo da bermuda. O pessoal adorou", brinca um jogador. "Meu amigo é um cara de 1,94m, grandão, em todos os sentidos, aí a galera se divertia."

Jogadores do time Bulls - André Nery/UOL - André Nery/UOL
Último jogo do time, antes do recesso de final de ano, em 2022
Imagem: André Nery/UOL

Proibido

O que acontece na sauna fica na sauna. Alguns segredos nem mesmo os colegas de time sabem. "Ninguém pode desconfiar, por favor", dizia Fernando*, rindo, por telefone, antes de contar a aventura que viveu por ali. Foi numa dessas esticadas pós-treino que ele reencontrou um ex-colega de trabalho e iniciaram uma "amizade" fetichista que não pode sair daquela porta.

Fernando e Augusto* trabalharam na mesma empresa por cerca de dois anos, mas nunca saíram juntos ou trocaram papo além do trivial. A conversa entre os dois só começou a rolar depois da demissão de Augusto, quando passaram a trocar mensagens pelas redes sociais. "Ele tem namorada e sempre foi muito fechado. Mas começou a comentar meus stories de treino. Até que um dia perguntou se podia assistir a um jogo. Eu falei que sim, e ele foi para um amistoso".

Depois da partida, foram tomar uma cerveja num boteco próximo à quadra. Ali surgiu o convite: "falei a ele que ia para sauna, e perguntei se queria ir. Achei que ele não ia topar, mas aceitou. Foi engraçado. Ao mesmo tempo, me excitou".

Os longos e escuros corredores facilitaram a pegação. A pouca luz, com raras incidências que saem das frestas dos quartos ou da decoração avermelhada, resume as cenas em silhuetas. A movimentação nas estreitas transversais só é possível de se notar bem de perto ou pelos sons dos gemidos e respirações ofegantes. "Fui mostrar a ele como era o espaço. Num canto mais escuro ele me deu um beijo", conta Fernando.

Transaram encostados numa parede. Augusto mordia o lábio enquanto Fernando o penetrava no labirinto. Dois homens os assistiam, se masturbando, bem ao lado. "Ele gritava, com voz grossa, me chamando de 'meu macho'." O grito excitava ainda mais o jogador, que avançava com mais força e velocidade na fricção. "Ele ficou louco com aquilo."

Augusto e Fernando se reencontram, sempre que possível, na sauna.