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Bloco liberal faz folia começar na rua e terminar em casa de swing, em SP

Gustavo Basso/UOL
Imagem: Gustavo Basso/UOL

Gustavo Basso

Colaboração para o TAB, de São Paulo

21/02/2023 22h00

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Um casal na faixa dos 30 anos deixa, um tanto sem graça, uma pequena sala à meia-luz, após longos e intensos gemidos femininos. Seria apenas uma cena normal em uma casa de sexo liberal, não fosse o fato de que Pedro* e Amanda* haviam se encontrado em um bloco de Carnaval 30 minutos antes. Trocaram olhares, depois beijos, logo rolou uma pegada mais forte. Até que decidiram entrar numa casa que funciona como quintal da sacanagem do Bloco das Coelhinhas.

Pagar R$ 200 pelo abadá do bloco dava direito a open bar e uso irrestrito dos ambientes de uma casa de swing no bairro de Moema, na zona sul de São Paulo. A dupla conta que nunca havia visitado um lugar assim antes e aprovou a comodidade: "Olha, se todo bloco tivesse algo parecido, ia faltar camisinha no segundo dia do Carnaval", diverte-se Amanda, antes de tomar o rumo da rua com um copo de gim tônica nas mãos.

Entre beijos — duplos, triplos, quádruplos — com amigas e afagos no marido, Samantha, ou Camila Voluptas (como prefere ser chamada), é uma das organizadoras do Coelhinhas, o primeiro bloco liberal do Carnaval de São Paulo, tido como "um dos mais tranquilos" pela polícia, segundo a própria.

Da rua para o labirinto

Protagonista de muitos destes beijos triplos no meio da rua, Luis* transita entre os presentes como se fosse anfitrião. De sunga apertada, adornada com um rabo de coelhinho, e abadá como complemento, o professor universitário é um veterano no meio. Há 20 anos entre os "swingers", ao lado da esposa, porta-se como anfitrião informal da festa.

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Imagem: Gustavo Basso/UOL
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Sem afobação, eles beijam uma amiga e dançam colados a ela; cada um para um lado pegou um conhecido para voltarem para o par, dançarem e continuarem nesse ritmo, de forma mais contida.

O casal Luca e Juliana*, no entanto, curte as músicas e o público sem tanto pudor. Ela tem 35 anos; ele, 28. Logo chamam atenção de outro casal na mesma faixa de idade.

Os quatro conversam um pouco e logo escolhem entrar na casa de swing. "Já saímos com outras pessoas antes, mas nunca num lugar assim. Montei uma planilha de blocos para nos planejarmos, e neste havia a observação 'acho que é um bloco de swing', o que bastou para animar a Juliana", conta animado o organizado servidor público.

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No escuro da pista de dança, os quatro se sentem mais à vontade e logo trocam de parceiros. Ao lado deles, Luis e Natália dançam sobre o balcão do bar: de calcinha transparente, ela deixa seu sexo depilado quase inteiramente à mostra, e é apalpada pela mulher de um casal. Já ele, agora apenas com a sunga preta expondo o corpo em forma e igualmente depilado, não é alvo de investidas.

"Apesar do meio liberal estar melhorando e se tornando cada vez mais liberal de verdade, ainda há um lado bem conservador", conta ele, que se define como pansexual. Garotas se beijando é uma cena onipresente. Homens se tocando continua um tabu.

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Imagem: Gustavo Basso/UOL

Luca reconhece o problema, mas prefere focar no trio que o acompanha rumo a alguma cabine. Passam por um casal heterossexual, onde uma loira punheta por baixo da calça um homem forte de 1,90m, aparentemente bem dotado. Não demoraria muito para os dois sumirem das vistas do público.

Na área agora exclusiva para casais — solteiros curiosos tinham de se virar para ter companhia —, passam por uma sequência de cabines trancadas, onde se ouviam gemidos de todos os volumes e tons. Antes mesmo de chegar às cabines, os quatro não se aguentam e começam a se pegar.

Morrendo de tesão depois de horas pegando o namorado e agora o novo parceiro, Juliana já está molhada antes mesmo de começar a ser tocada. "Sou um pouco voyeur, gosto de ficar assistindo", diz ela, ainda ofegante e sendo masturbada, virando-se para observar seu namorado e a outra mulher montada sobre ele.

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Imagem: Gustavo Basso/UOL

Dois casais passam por eles, param um pouco para observar, mas dão preferência a um outro casal hétero em uma sala exibicionista: ela o chupa com vontade, agarrando sua bunda e enfiando um dedo, enquanto ele, inabalavelmente duro, se diverte com a presença dos voyeurs.

Os dois casais jovens desistem de esperar algum desfecho e constroem seu próprio final feliz. As duas garotas sendo chupadas ao mesmo tempo geram uma sinfonia de gemidos que atrai uma mulher em uma cabine vizinha. Pelo "glory hole" aberto (buracos que permitem que a pessoa transe com quem está na cabine ao lado, sem que um saiba quem é o outro), ela estica a mão, tentando apalpar o que alcançasse. Focadas, as garotas dão pouca atenção à investida, ao que a vizinha desiste. Segundos depois, seria sua vez de gemer alto sendo chupada.

Não era a primeira transa de Luca e Juliana naquele dia, nem mesmo o primeiro sexo grupal. "De manhã estávamos na casa de uma amiga minha depois de um bloco, e acabamos transando; depois viemos para cá", conta a também servidora. Pela terceira vez no dia, ele goza, agora ajudando a namorada a ser chupada pela garota do outro casal

Satisfeitos, os quatro deixam a cabine em direção ao fumódromo, onde Luís, a esposa Luisa, o casal da loira e o homem alto bem dotado conversam, demonstrando cansaço após 6 horas de festa. Luis relembra as dificuldades vividas ao longo dos 20 anos para consumar o relacionamento liberal. "Casas de swing, que eram exclusivamente para casais héteros, pareciam saunas. Você recebia um roupão, chinelos; logo vieram os motéis com janelas para os quartos vizinhos. Hoje, com os aplicativos, tudo ficou mais fácil. Não há comparação", conta o veterano aos quatro iniciantes.

Na despedida, restaram os planos para novos encontros, mas em um ambiente mais íntimo, como em suas próprias casas. A rotina, mesmo para quem foge das relações a dois, não é feita de Carnaval e suas traquinagens.

*Nomes trocados a pedido dos entrevistados