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OPINIÃO

Dominatrix revela bastidores de festa secreta de sexo no Carnaval de Veneza

Divulgação
Imagem: Divulgação

Mel Fire*

Colaboração para o TAB, de Veneza (Itália)

07/03/2023 22h00

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Esperando meu voo no aeroporto de Barcelona com destino a Veneza, comecei a ficar ansiosa para rever a cidade. Veneza exala sensualidade: pessoas mascaradas por todo lugar, o idioma delicioso de se ouvir, vielas a perder de vista. Ninguém sabe direito, ou sequer desconfia, o que se passa por trás daquelas portas antigas. E era exatamente uma delas meu destino final: estava a caminho de uma festa de sexo que acontece durante o Carnaval.

À noite, instalei-me no quarto que seria meu por três noites. Um aposento com móveis de época, papel de parede, divã, vista para o Grande Canal. Na primeira noite acontecia a festa privativa para nós, artistas. É a que usamos para nos conhecermos melhor — quer dizer, para rever quem já conhecemos e experimentar quem mais chamar atenção.

No meu caso, tenho um romance infinito com Matteo, um belo italiano de olhos azuis. Não são necessárias palavras. Apenas espiei para fora do meu quarto e lhe dei uma piscadela quando passou. Cinco minutos depois, lá estava ele batendo na porta já destrancada. Ele faz o tipo "365 dias": gostoso, dominador, e que deixa qualquer uma molhada só de falar umas palavras em italiano perto do ouvido.

Ele me beijou como se quisesse recuperar aqueles dois anos em que não nos encontramos. Me jogou na cama e forçou seu corpo contra o meu. Estava tão molhada que seu pau extremamente duro praticamente escorregou para dentro. Ele abafou meus gemidos com sua própria boca, e vice-versa. Foi inevitável não gozar rápido com esse instinto animalesco.

Subi em cima dele, e em menos de um minuto cavalgando, cheguei ao orgasmo; ele, logo em seguida, pediu para gozar na minha boca. "Benvenuta a Venezia, amore" — sussurrou no meu ouvido, depois de voltar do banheiro. Eu ainda estava na cama, mais preguiçosa do que nunca. Ele sorriu, mandou um beijo e saiu, fechando a porta de fininho. Fui dormir, pois no dia seguinte começaria a festa de verdade.

Às 18h, tomei o primeiro cálice de vinho. O primeiro de muitos, pois ainda tinha a tarde toda de preparo e o trabalho à noite. Chegaram araras de roupa, acessórios, maquiagens e sapatos ao vasto camarim ao nosso dispor.

A primeira noite é sempre uma cerimônia, onde não existe sexo nem swing liberados, apenas flerte, sedução e troca de carícias. E nossos shows, é claro. Dessa vez, foi em uma igreja antiga, toda de pedra (o endereço só é enviado duas horas antes do evento). O tema não poderia ser mais propício: inferno.

Luzes vermelhas, velas por toda parte, música sombria. Aos poucos chegaram os convidados, belos casais com trajes de gala e máscaras venezianas. Ao centro, um artista vestido com uma longa túnica e maquiagem demoníaca soou um instrumento semelhante a uma trombeta.

Um a um, os shows foram acontecendo. Modelos cuspindo fogo, uma dança sensual com uma serpente, um número de burlesco gótico. Vestida com uma roupa de látex de freira, brincando com uma vela e tirando um terço de dentro da vagina, fiz minha performance. Poeticamente profana.

A temperatura subiu, mesmo estando um frio absurdo do lado de fora. Carícias, beijos, risadas. Alguns casais se aventuraram pelos cantos, com as mulheres se ajoelhando e chupando os maridos (ou os maridos das amigas?). Sorri e fingi que não vi. Continuei dançando ao som da música ensurdecedora em um dos altares, fazendo gestos obscenos sempre que meus olhos encontravam Matteo.

O melhor estava por vir. O inferno foi apenas o aquecimento para o evento principal.

Na noite seguinte, o encontro do grupo foi em um palácio. Todos deviam vestir trajes de época e máscaras. Tínhamos também o dobro de convidados e de artistas, divididos em grupos entre as sete câmaras escuras, todas com artistas e convidados entrelaçados. Na câmara principal, um pianista vendado tocava peças clássicas venezianas, enquanto um artista alto com uma máscara de vinil passeava entre os convidados, carregando um chicote de couro e correntes. Noutro cômodo, ele chicoteou uma mulher que gemia alto de prazer, enquanto outra, algemada, chupava um homem e era comida por outro.

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Imagem: Divulgação

Eu estava com duas meninas italianas lindas em uma cama de época. Tinham corpo escultural, pele e lábios macios. Para a minha sorte, elas também gostavam de mulheres. Nós nos tocávamos e flertávamos com os convidados, convidando-os a iniciar a brincadeira. Nos beijamos, mordiscamos e lambemos os bicos dos seios.

Aos poucos, as convidadas se aproximaram, com tom de curiosidade e interesse. Eu as chamava para participar, lentamente tirava as maiores peças dos trajes complexos e acariciava seus belos corpos. Ouvia todas as línguas possíveis: inglês, italiano, francês, alemão. Aproveitava para experimentar um pouco de cada corpo que passava por mim.

Trocava beijos e carícias, deixando-as excitadas e depois incentivava os toques entre elas. Pouco a pouco, as cenas construídas ficaram cada vez mais complexas e dignas de um quadro renascentista: corpos nus se tocando, gemidos leves de satisfação, homens se despindo e observando onde poderiam entrar. Uma, duas, três, talvez quatro pessoas. Ou casais.

Duas mulheres chupando o mesmo pau, enquanto dois outros homens se aproximavam e as pegavam por trás. Uma mulher exibicionista cavalgava com gosto um homem que estava com a cara enfiada na bunda de outra, que por sua vez beijava a primeira. Eu passava e acariciava seus corpos, trocava beijos aqui e ali, lambia seus mamilos. Tudo isso ao som de Vivaldi.

O som dos gemidos se alternava com a música clássica, em uma harmonia quase perfeita. Era satisfatório ver aquelas pessoas chegando impecavelmente arrumadas e saindo destruídas, com um sorriso gostoso no rosto.

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Imagem: divulgação

Entre um cálice de vinho e outro, passava por Matteo para provocá-lo e puxá-lo para um canto, talvez levando mais uma artista conosco. Afinal, os convidados não eram os únicos que chegavam impecáveis e saíam destruídos...

Estava quase amanhecendo e os últimos corpos eram vistos possuídos de prazer em uma das câmaras, a minha preferida. Havia pinturas nas paredes e no teto, divãs e tapetes enormes. Estátuas de deuses gregos e cortinas grossas cobriam as janelas, do teto ao chão. Por uma pequena fenda, era possível ver o primeiro sinal da manhã refletindo no Grande Canal. As pessoas que por ali passavam, turistas e trabalhadores, não faziam ideia do que se passava por trás daquelas portas antigas.

*Mel Fire é modelo e dominatrix profissional

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL