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Câmera de segurança mostra que homem preso estava fora do local de crime

Imagens de câmeras de segurança obtidas com exclusividade pelo UOL indicam que a Polícia Militar pode ter cometido um erro na prisão de um suspeito de roubar um carro e trocar tiros com PMs em São Paulo.

O caso aconteceu em 24 de junho de 2023, no bairro do Jabaquara, zona sul da capital, e o homem, chamado Igor de Luna Medina, de 30 anos, está preso desde então.

A defesa dele anexou as imagens ao processo e aguarda decisão judicial.

Perseguição e tiros

Toda a ação foi registrada por câmeras instaladas nas fardas dos agentes. Elas mostram a abordagem, a perseguição a um carro, um tiroteio e a captura de um suspeito.

Usando carros e motos, os policiais seguiram em alta velocidade um Ford Ecosport prata que, segundo denúncias anônimas, era usado por assaltantes.

Imagens do tiroteio no Jabaquara, em 2023
Imagens do tiroteio no Jabaquara, em 2023 Imagem: Reprodução/UOL

Os criminosos abandonaram o carro após a perseguição e fugiram a pé. Um deles — o que desceu do banco do passageiro — disparou duas vezes contra os PMs.

As gravações das "bodycams" mostram um policial perguntando a um colega as características do criminoso que atirou. Ele responde que o assaltante estava com uma camisa bege de listras azuis.

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Sem conseguir localizar os criminosos, um dos PMs mostra uma mensagem que teria chegado de um morador conhecido, apontando para uma favela.

Os policiais vão até o endereço, entram em uma casa sem pedir autorização e prendem Igor, que tomava café com a esposa.

Igor usava uma blusa azul no momento da abordagem.

Igor de Luna Medina, preso por PMs em São Paulo
Igor de Luna Medina, preso por PMs em São Paulo Imagem: Reprodução

Na sequência, os PMs, com as câmeras ligadas, debatem sobre a roupa de Medina.

Um deles indica: o suspeito teria participado do assalto, ido até a casa da sogra, tomado banho, trocado de roupa e, por fim, voltado à casa onde foi detido. Tudo isso em meia hora.

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Contradição na versão policial

A polícia descreve no B.O. registrado na delegacia naquele dia um atirador com tatuagens nos braços — Igor tem tatuagens.

As contradições apareceram depois. Quem atirou estava com uma blusa de manga longa, apontam imagens obtidas pela defesa e anexadas ao processo.

As imagens de câmeras de segurança obtidas pelo UOL mostram que Medina estava a caminho de um salão de cabeleireiro, acompanhado do afilhado de 9 anos, meia hora antes do início da perseguição,

Ele estava com a mesma roupa azul de quando foi detido. O barbeiro do salão onde Medina esteve se mostrou surpreso com a prisão.

"Lembro perfeitamente da roupa dele, era uma blusa azul. Fiquei em choque quando soube que ele tinha sido preso, porque tinha acabado de cortar o cabelo", disse à reportagem.

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Medina aguarda julgamento. O advogado dele, Higor Henrique de Oliveira, afirma que as câmeras serão essenciais para livrar um inocente da prisão.

"O problema é que ele está preso desde junho. Quem será o responsável por apagar esse passado dele? Os filhos deles crescendo na família e ele preso, inocente."

* Esta reportagem é uma parceria do UOL com a ONG Conectas Direitos Humanos e apoio do Consulado Geral da Alemanha em São Paulo. Assista acima o documentário produzido por UOL Prime sobre câmeras corporais.

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