'Clube dos Pauzudos' reúne em SP gays, bis e 'héteros com aliança'
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Igor, 31, é um homem com ar misterioso. Calado, apesar de sorridente, à primeira vista parece tímido. Até se soltar.
Numa noite de sexta-feira de fevereiro, em pé sobre o balcão de um bar, nu, ele exibia o pênis ereto, convidando, com os olhos e com um gesto com a mão, alguém que quisesse acariciá-lo.
Alto e másculo — nem tão musculoso nem tão magro —, o rapaz tem um corpo naturalmente definido e peludo. Um cara comum, um tanto bruto, mas bastante sexy. Ninguém costuma rejeitar seu chamado. "Acho que, por ser um homem normal", diz, outros caras sentem tesão por ele.
Em noites de sextas-feiras, duas vezes por mês, Igor é barman em um clube só de homens num casarão no bairro de Santa Cecília. Do final de tarde até a madrugada, eles passeiam sem roupa pelos dois andares do prédio se exibindo e apreciando o corpo uns dos outros, sobretudo aquilo que fez o espaço se tornar conhecido entre os frequentadores como Clube dos Pauzudos.
Na penumbra, cada um explora seus fetiches como quer. Um olhar mais ardente serve de convite para transar em público, em grupo ou no escurinho. Em madrugadas como aquela, Igor é uma atração da casa. Ele é contratado para servir bebidas aos clientes e "interagir" com eles sexualmente de tempos em tempos. Nessa brincadeirinha, que mistura álcool e desejo, se fala pouco e se goza muito.
Negócios ou prazer
O Clube dos Pauzudos, na verdade, é a Wild Thermas Club, uma sauna com bar e serviços de estética. O valor do ingresso varia, de acordo com os dias e programação, mas custa em média R$ 50. Entre quadras e quadras de espigões robustos, a casa de dois andares passa despercebida propositalmente em Santa Cecília. Sem sinalização e sem movimento na frente, a entrada no local é discreta, quase em código. Quem chega precisa tocar uma campainha para a porta se abrir. Dali em diante, tudo é livre.
"Vim a trabalho, e aproveitei para 'resolver' uns negócios aqui", dizia um carioca barbudo de 40 e poucos anos, enquanto vestia as roupas numa espécie de vestiário cheia de armários. Ele tinha chegado ao clube no início da tarde e, umas 19h, voltava para o hotel onde estava hospedado, a dois quarteirões dali.
Grisalho, parrudo e excessivamente simpático, o homem jogava charme para outros rapazes que chegavam à casa. "Quem sabe não levo alguém pro hotel?", brincava. "Aqui é para relaxar, cara", repetia ele, deixando à vista uma grossa aliança na mão esquerda.
Como ele, há muitos homens que fazem sexo com homens frequentadores assíduos da Wild — alguns deles casados com mulher. "Esses vêm principalmente durante a semana", conta um dos donos do clube, o empresário Almir Nascimento, 64. "Durante a semana, é mais fácil [para esses homens] criarem um álibi, tipo reuniões de trabalho, clientes que desejam fechar negócios num jantar, num café após o expediente ou mesmo tirar algumas horas durante o expediente de trabalho."
Durante horas, eles experimentaram no clube o desejo que nem sempre podem viver lá fora. Subir as escadas da Wild, por exemplo, significa querer mais que flerte além do lounge onde funciona o bar com música eletrônica. No primeiro andar, quase todo escuro e com sussurros como som ambiente, há salas de diferentes tamanhos onde as pessoas fazem sexo e se exibem.
"Aqui todo mundo é comum. Não tem isso de um tipo específico, tem vários estilos. O negócio é curtir", contava um funcionário da casa, explicando o funcionamento da sauna.
Na sala ao lado, um jovem de 30 anos, pelado, chamava atenção dos outros. Esparramado numa cadeira pendurada ao teto por cordas pretas, contorcendo-se para trás, ele deixava à mostra em evidência o pênis grande. Uma luz amarelada o iluminava solitário, destacando seu corpo. Ninguém o tocava, mas três caras se masturbavam admirando-o.
Noite selvagem
Igor caiu como uma luva na Wild, há 3 anos. Seu jeito marrento e enigmático desperta o fetiche daqueles que curtem primeiro alimentar uma paquera com o rapaz só de cueca, por trás do balcão, até serem surpreendidos pela "apresentação" dele. "Transo com eles aqui mesmo. Alguns são mais tímidos, aí querem me levar lá pra cima. Quando é possível, eu vou", conta ele, que já chegou a transar com dez pessoas numa mesma noite. O sexo é um "mimo" da casa oferecido aos clientes.
Antes do Clube dos Pauzudos, o go-go boy já trabalhava em casas de sexo e também fazia programas, mas ali encheu os olhos dos frequentadores discretos. "Encontrei uma amiga, na rua, com quem eu já tinha trabalhado antes, e ela me disse que queria me apresentar ao dono da Wild. Eu fui, conversamos, e fui chamado para trabalhar."
"É o jeito tímido e másculo dele, que foge totalmente do estereótipo do 'go-go boy tradicional', fortão, bombado, que chama atenção dos outros", confessa o dono do clube.
Passava das 23h naquela noite, quando Igor começou a surpresa. Trocou o posto no bar com outro colega e começou o show sobre o balcão.
O lounge começava a ficar cheio de gente. Um jovem, com seus 20 e poucos anos, com olhos fixos sobre o membro do barman, nem titubeou para se aproximar dele, assim que o viu facinho. Aproveitou a oportunidade e meteu a mão entre as pernas do rapaz, enquanto ele dançava sensual. Rapidamente, outros homens dirigiam a atenção para a cena.
A masturbação virou sexo oral. O menino deslizou a boca no pau de Igor e gozou, tocando-se sozinho. "Ele é um gostoso", cochichava o rapaz, que acabara de chupá-lo em público. Aquilo fez o clima esquentar no bar. Logo, um outro homem estava pronto para ser penetrado por Igor. Era só o começo, de fato, de mais uma noite selvagem nas ruas insuspeitas de Santa Cecília.
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