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'Já fiz sete no quarto escuro hoje': Rio tem festa de swing para trans

O tema da noite era Barbie, com todo mundo de rosa para celebrar o aniversário da DJ Cindy, fã da boneca. Mas a enfermeira Soraia*, 31, divertiu-se mesmo foi com os "brinquedos" dos homens da Festa Transmix, autodenominada a melhor de swing trans do Rio.

"Gosto da putaria. No quarto escuro já fiz sete hoje", ri Soraia, que vem de família evangélica, os pais pastores. Ela também é a decoradora da casa onde rola o evento.

"No dia a dia sou Álvaro. Mas tem muita gente tipo família tradicional brasileira, como a minha, lá no labirinto."

Na escuridão com "glory hole" e 11 cabines para oito pessoas, o perfil do público no dia em que a reportagem participou da festa era de homens sarados, jovens, alguns com barba longa e coque. Todos bastante abertos a interagir.

Pouco depois das 22h, muitos já estavam se divertindo com os pequenos buracos das paredes. Do outro lado, gemidos e mãos para apalpar tudo.

Soraia é uma das mais antigas frequentadoras do Club Mix, há 14 anos servindo de palco para o público trans adepto a festas liberais, no centro do Rio.

Esta é uma reportagem da série publicada pelo Aba Anônima contando o que rola nas casas de swing pelo Brasil.

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Imagem: Lucas Landau/UOL

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'Doida para dar'

Quem passa na frente da portinha pequena e discreta na rua do Mercado, com alguns seguranças na porta, talvez se surpreenda com o que se vê ao cruzá-la: uma escadaria dá para um espaço enorme com dois banheiros, um "dark room" e uma cama espaçosa, estilo king-size, no quarto ao lado.

Foi nos fundos da casa que Soraia fez sua festinha com sete amantes.

No andar de cima, um pequeno palco, pista de dança com sofás em volta e um bar, onde são servidos cervejas e drinques variados. Não se vende comida no local.

No terceiro andar, os visitantes encontram um quarto com jaula e brinquedos que lembram ferramentas de tortura, como corrente de ferro para prender no corpo. Uma loirona preferiu deixar as mãos soltas para se dedicar a uma chupada. "Sou doida para dar pra ele", disse ela, referindo-se ao homem que recebia a carícia.

O espaço amplo ainda conta com um quarto com parede de vidro, um "banheirão" com chuveiros e cabines individuais e mais um grande quarto para casais. A casa tem também um terraço com bar, sofás e lâmpadas penduradas, num clima de lounge.

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Cara feia para trans? Aqui, não

Natural de Nanuque, norte de Minas Gerais, a designer de moda Sarah Chimits, 29, frequenta o local há mais de dez anos. Mas, na maioria das vezes, diz, é só para encontrar as amigas e se divertir, sem sexo.

"É um lugar de refúgio. Como muitas frequentadoras mais antigas, não vim para transar, mas para dançar, beber. Claro que posso sentir vontade mas, aí, vou para a minha casa."

Ela resume o que todas que conversaram com o TAB frisaram: ali elas se sentem respeitadas, diferentemente de algumas festas de swing frequentadas por casais heterossexuais.

Há mais de 20 anos organizando festas liberais — algumas delas como cliente —, o promoter Robson Ganzá, 50, diz que as casas que fazem esse tipo de evento têm obrigação de ser "mente aberta".

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"Já vi mulher gritando, indignada, porque percebeu que um homem fazia oral em outro pelo 'glory hole'. Fora quando fazem cara feia para pessoas trans. É muita gente sem noção."

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Imagem: Lucas Landau/UOL

Amassos quentes

A maioria dos frequentadores da Transmix é de mulheres trans e homens cis. Muita gente vai até a porta, mas não entra por vergonha.

O francês Marco*, 31, por outro lado, estava tão à vontade que não se incomodou nem em ser fotografado. Tinha acabado de chegar ao Brasil a trabalho e, quando viu a página da Transmix no Instagram, decidiu que passaria ali a primeira noite de diversão.

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"Em Paris só vou a locais como esse", disse, depois de dar amassos quentes na biomédica amazonense Maria*, 21.

"Nunca vim pelo swing. Por ser uma mulher trans, acho esse lugar melhor do que qualquer outro", diz ela.

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Imagem: Lucas Landau/UOL

'Saía torta de tanto sexo'

A festa chegou no Club Mix em 2009. Antes disso, o espaço servia de ponto de encontro para garotas de programa trans e seus clientes. Sexo só era permitido fora dali.

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Naquele ano, um blogueiro escreveu sobre suas aventuras sexuais ali e notou o comportamento respeitoso entre os frequentadores. O público trans, então, adotou a casa como um lugar seguro.

O evento ganhou contornos de festa de swing, e o lugar deixou de ser um ponto de prostituição

O promoter Robson Ganzá acompanhou a transformação da casa e lembra que, no início, algumas mulheres trans resistiram à mudança de perfil. "Achavam que mulheres cisgêneros seriam a preferência dos frequentadores homens."

Até Isabelly, que organiza as festas no Club Mix, conta que tinha preconceito contra swing. "Não entendia isso de um homem casado levar a esposa para ela transar com outros homens. Achava ridículo."

Isso tudo até ir ver o que rolava por curiosidade. Gostou tanto que passou a promover festas voltadas a esse público. "Pintava e bordava. Saía de manhã toda torta de tanto sexo."

SERVIÇO
Club Mix: Rua do Mercado 25, centro, tel.: (21) 96457-5766. A festa Transmix acontece às quintas (22h às 5h). Valor da entrada: casal (R$ 80 até as 23h, R$ 100 após), mulher (vip até as 23h, e R$ 15 após esse horário) e homem (R$ 80 até as 23h, R$ 100 até 00h e R$ 120 após esse horário, com nome na lista).

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