Topo

Aba Anônima

A área de reportagens sobre sexo, prazer e erotismo de Splash


Medo, delírio e gozo numa casa de massagens de Manhattan

Aba_massagemNY_capaiV2 - Adams Carvalho/UOL
Aba_massagemNY_capaiV2
Imagem: Adams Carvalho/UOL

P.B.*

Colaboração para o TAB, de Nova York

30/08/2022 10h54

Receba notificações de novas publicações no seu email

Email inválido

Sentada sozinha em um bar no bairro de Upper East Side, em Manhattan, escrevo este texto enquanto aguardo um expresso martíni. Vestindo camiseta, calças largas e um tênis, observo o contraste entre os sujeitos de terno e as adoráveis femmes em seus vestidos de verão. O que mais me fascina em Nova York é o poder do anonimato. Depois de uma noite inteira sendo admirada nua, fodendo, gemendo e gozando no pau de um desconhecido, sinto o prazer de agora ser invisível.

Tudo começou no início do outono passado, meados de novembro. Minha bolsa de estudos nem se comparava à grana violenta rolando no bolso dos boys de Wall Street, e eu mal conseguia pagar o aluguel. Entre as amigas que fiz na universidade estava Chloe. Conversávamos muito sobre como era difícil nos mantermos na cidade. Naquele contexto, a "gig economy" representava uma saída para estudantes quebradas, como nós, sem família rica, como a maioria dos alunos em nossa classe. Passear com cachorros, trabalhar como babá, cuidar de pessoas idosas. Com muito esforço, nos virávamos.

Chloe então me revelou que começara a trabalhar em um "massage parlor" — ou spa, termo preferido — em Midtown, alguns dias por mês. "Uma massagem sensual com o chamado 'final feliz'", explicou. "Pago meu aluguel em uma semana. Sobra mais tempo para estudar", disse.

"Mas como são esses homens? Você não se sente explorada?", foram minhas primeiras reações. Chloe riu diante do meu espanto. "São os caras de Wall Street. Chegam de terno. Querem relaxar no meio do dia. E honestamente? Fico com a calcinha molhada na maioria das vezes...".

Naquela mesma noite pedi o contato do "parlor". Desde então, as calcinhas molhadas têm sido muitas. Poder secá-las com dólares certamente é uma vantagem.

***

Aquele dia estava sendo frustrante. Tínhamos um expediente a cumprir, independentemente de haver ou não clientes. Meu turno terminava às 23h, horário em que o "parlor" fecha, e eu não havia ganhado um único maldito dólar até então. Como em todo "frila", alguns dias eram melhores do que outros. Aquele estava péssimo.

Às 22h30, um cliente liga. Queria uma massagem de uma hora. A secretária perguntou se alguma das meninas estaria disponível. Ficar além do expediente significava ficar sozinha no spa com o cliente, quando todas as meninas e a secretária já haviam ido embora. Por questão de segurança, era algo que evitávamos fazer. Mas aquele havia sido um dia ruim e eu não queria voltar para casa sem nada.

Resolvi aceitar.


***

Pontualmente às 22h30, o interfone do spa tocou. Patrick chegou vestindo calça e camisa sociais. Era branco, não muito alto. Tinha os cabelos castanhos-escuros, um pouco grisalhos. O ar cansado denunciava um dia exaustivo.

Segui o ritual do spa: esperei-o no corredor, pedi que lavasse as mãos e o conduzi até minha sala, a de número 7. Patrick não era um cliente novo e já sabia o que fazer. Nesse ritual, o cliente deixa o dinheiro em um envelope; eu recolho o valor e peço que ele "fique à vontade", o que basicamente consiste em tirar toda a roupa e deitar-se na cama de bruços. Após pegar o dinheiro, saio da sala, conto as notas, guardo-as e espero até ter certeza de que o cliente teve tempo para se despir.

Enquanto eu mexia com o dinheiro, pude ouvir as garotas e a secretária se despedindo. Eram 22h37. Por não haver mais clientes naquele dia, elas sairiam antes das 23h. "Não se esqueça de apagar as luzes e trancar a porta", me disseram. Isso significava que eu ficaria sozinha no spa com Patrick por mais tempo do que eu havia previsto. Estava receosa, já pensando no que faria caso algo desse errado.

Ansiosa, retornei à sala de número 7. Patrick me aguardava já deitado de bruços, nu. Perguntei se poderia usar óleo na massagem. Ele concordou. Naquele ponto, tentava controlar minha ansiedade e analisar sua linguagem corporal. Cada cliente se comporta de uma forma diferente. A maioria quer tocar em nossos corpos, mas perguntam pelo nosso consentimento e respeitam as negativas, se não estivermos a fim. Eu queria saber qual era a de Patrick.

Na massagem acontece uma coisa muito louca. Quando rola a tal química com o cliente, consigo sentir a energia sexual fluindo já no início do toque no corpo. Nem preciso chegar perto do pau pra ficar com tesão. Aos poucos, enquanto massageava as costas de Patrick e sentia suas mãos delicadamente procurando minhas coxas, observei aquela minha ansiedade inicial se transformar em excitação. Patrick perguntava se poderia acariciar minha bunda. Comecei a sentir a tão familiar sensação da calcinha ficando molhada. A essa altura, eu tinha certeza de que estávamos sozinhos.

"Posso te fazer uma massagem também?", perguntou. Via de regra, eu não permito que os clientes me toquem. Mas naquele momento, suas mãos esfregando a parte interna da minha coxa, não resisti. "Ok, sua vez!", brinquei. Tirei meu vestido preto curto e me deitei na maca de massagem, de bruços. Com uma mão, Patrick alisava minha bunda. "Posso tirar isso?", perguntou, referindo-se à minha calcinha. Gemi baixinho e disse que sim. A esse ponto, até minhas coxas já estavam molhadas. Minha buceta escorria.

Na meia-luz da sala forrada por espelhos, eu podia ver o nosso reflexo. Patrick se divertia com minhas reações. Tecnicamente, nada daquilo deveria estar acontecendo. Eu poderia ser mandada embora caso alguém fizesse alguma ideia do que estava rolando. E isso só aumentava minha vontade de foder Patrick. Ele me provocava com os dedos: alisava e esfregava meu grelo, fazendo movimentos circulares. Quanto mais aumentava a pressão e a velocidade, mais eu gemia. Havia esquecido quem estava sendo pago para massagear e quem recebia para gozar.

Aba_massagem01 - Adams Carvalho/UOL - Adams Carvalho/UOL
Imagem: Adams Carvalho/UOL

Patrick levantou um desafio: ele me daria US$ 100 por cada orgasmo - mas não adiantava tentar fingir, já que ele conseguiria sentir minha buceta se contraindo. Dei risada da aposta, mas topei.

Ainda me siriricando, Patrick me provocava. "Quero te pagar pra te ver gozando", falava no meu ouvido. O mix de siririca nervosa, situação arriscada e dinheiro "sujo", vindo de putaria, me deixava completamente louca. Gozei a primeira vez, com direito a tremidinha nas pernas. Ele não tirou a mão da minha buceta. "Mais US$ 100?", insistiu. O segundo orgasmo veio rápido. Eu estava determinada a gozar todo o meu aluguel.

Depois de gozar com seus dedos, agora queria sentar em seu pau. Implorando para que Patrick me fodesse, coloquei a camisinha. Seu pau era mediano, nada excepcional — mas isso não fazia a menor diferença. A sala de massagem já estava pequena demais. Acabamos fodendo no sofá de entrada do spa, eu torcendo para ter conseguido desligar as câmeras. Usei seu pau para gozar de novo, mas não permiti que Patrick gozasse. "Os orgasmos são só meus aqui hoje", disse. No quinto orgasmo, gozei em sua cara, enquanto segurava sua cabeça com força e ordenava que ele me chupasse.

Aba_massagem02 - Adams Carvalho/UOL - Adams Carvalho/UOL
Imagem: Adams Carvalho/UOL

Uma hora de massagem acabou virando três. Perdi as contas de quantas vezes gozei. Talvez o anonimato traga isso — o gozo de diferentes formas. Estar ali apenas para mim mesma, o foco absoluto no meu orgasmo, dinheiro e pau sendo objetificados como elementos que servem ao meu prazer, e não o contrário.

Fechei o spa, como fora acordado. Eu e Patrick nos despedimos. Não faço ideia se algum dia o verei de novo. O aluguel daquele mês não apenas foi pago, como também estão pagos os drinques que bebo silenciosamente enquanto escrevo, na sombra do anonimato.

Meu expresso martíni chegou, finalmente.

****
(Nunca passei por nenhuma situação de violência ou abuso no spa. Conversando com outras garotas, chegamos à conclusão de que "civilians tend to treat us worse than clients" -- pessoas comuns costumam nos tratar pior que os clientes. Vivemos muito mais abusos em nossos relacionamentos pessoais do que em nosso trabalho. De modo geral, estamos cientes de que nos expomos a riscos em qualquer relacionamento ou encontro sexual, incluindo o casamento. O problema não é o trabalho sexual, mas como a sociedade trata mulheres -- sejam as putas, sejam as santas mães e esposas, incluindo aquelas que passam por casos de violência doméstica. Uma das razões pelas quais acredito que trabalhadoras sexuais sejam tão estigmatizadas é por cobrarem por aquilo de que homens, no geral, acreditam ser naturalmente merecedores. É quase como se dissessem: como ousam?

Reconheço o privilégio de classe de trabalhar onde trabalho e de atender os clientes que atendo. Sei que está bem longe de ser a realidade de muitas trabalhadoras. Mas o meu contexto não invalida a minha experiência. Não é questão aqui de "romantizar o trabalho sexual" -- quem em sã consciência romantiza qualquer trabalho? --, mas de apontar quão múltiplas -- e mesmo prazerosas -- as experiências nesse ramo podem ser, assim como em qualquer área.)

P.B. é antropóloga e adepta da autoetnografia, método de pesquisa que explora experiências passadas e memórias do pesquisador. Em sua atual pesquisa de doutorado, estuda trabalho sexual, pornografia e a economia política do sexo em Nova York.