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Supersalário e 10 folgas no mês: os privilégios de ministros do TCU

Um novo penduricalho, aprovado em dezembro de 2023, fez com que a remuneração média de ministros e procuradores do TCU (Tribunal de Contas da União) crescesse em média 30% nos últimos dez meses, segundo levantamento do UOL.

O salário-base dos 19 membros do TCU varia de R$ 37,7 mil a R$ 41,8 mil. Um ministro chegou a receber mais de R$ 110 mil em um único mês — bem mais que o dobro do teto constitucional de R$ 44 mil.

O TCU "importou" uma regra das justiças Federal e do Trabalho que prevê a concessão de até dez folgas por mês a autoridades que comprovem acúmulo de processos e de funções.

Caso não queiram tirar as folgas, eles podem "vender" esses dias.

O benefício é pago em dinheiro e não entra no cálculo do salário dos ministros e procuradores do TCU. Também não está sujeito a dedução de Imposto de Renda.

Assim como juízes de outras cortes, os ministros do TCU têm direito a 60 dias de férias. Na hipótese de conquistarem mais dez folgas por mês, teriam direito, na prática, a até 180 dias de folgas remuneradas anuais — quase metade de um ano.

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Imagem: Arte/UOL

Os ministros do TCU têm direito ao benefício, por simetria constitucional entre seus membros e os do Superior Tribunal de Justiça, que regulamentou o pagamento da referida parcela em outubro de 2023.
TCU, em nota ao UOL

O tribunal registrou que o benefício foi reconhecido por ato normativo do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), assinado pelo presidente do STF, Luís Roberto Barroso.

O TCU também afirmou que "tem atuação rigorosa e impessoal no controle da legalidade da despesa pública, sempre sujeita ao controle" do STF.

Bruno Dantas, presidente do TCU (Tribunal de Contas da União)
Bruno Dantas, presidente do TCU (Tribunal de Contas da União) Imagem: Flickr TCU

Penduricalho aumenta remuneração em 30%

O conjunto de benefícios pagos às autoridades do TCU integra uma despesa chamada "vantagens indenizatórias e compensatórias".

Lá estão, por exemplo:

  • auxílio-alimentação;
  • ressarcimento de assistência médica e de medicamentos;
  • férias indenizadas;
  • outros auxílios;
  • outras vantagens indenizatórias.

É dentro desse último item que está sendo contabilizado o novo penduricalho.

Embora publique os valores desses benefícios em seu site, o TCU não indica detalhadamente parte deles.

Levantamento do UOL aponta que o TCU desembolsou R$ 2,4 milhões com a despesa extra entre dezembro de 2023 e setembro deste ano. A corte pagou, em média, R$ 12,8 mil a mais para cada autoridade, por mês.

A Constituição prevê um teto para os salários mensais dos funcionários públicos de R$ 44 mil. As remunerações no TCU excedem esse valor porque os penduricalhos não estão sujeitos ao limite constitucional.

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Imagem: Arte/UOL

O gerente de programas da Transparência Internacional, Renato Morgado, disse à reportagem que os dados dos contracheques devem ser apresentados "de forma detalhada, no mais alto grau de desagregação possível".

"Com isso, a gente pode compreender as diferentes categorias do que é pago, realizar análises, comparações — o que não é possível, quando esses valores são apresentados de forma agrupada", afirmou.

Morgado afirma que, na prática, o limite salarial "é, frequentemente, superado de forma indevida" a partir da inserção de penduricalhos e verbas indenizatórias "que permitem que o valor recebido fure o teto".

Para o gerente da Transparência Internacional, o Brasil tem penduricalhos demais concentrados no topo do funcionalismo público. Na avaliação dele, isso impacta a legitimidade das instituições.

"Os órgãos do sistema de Justiça e os órgãos de controle, como tribunais de contas, têm o papel de garantir o cumprimento da lei e o bom uso dos recursos públicos. Quando o topo dessas instituições vai desenhando regras em seu próprio benefício, aumentando o valor da remuneração e passando por cima do teto salarial, que eles deveriam garantir o cumprimento, você passa uma mensagem para a sociedade de que agentes públicos em posição de poder desvirtuam regras para benefício próprio."
Renato Morgado, gerente da Transparência Internacional

Penduricalho importado

O presidente do TCU, Bruno Dantas, regulamentou o pagamento do benefício em novembro passado.

A medida teve como base decisão do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) que equiparou benefícios recebidos por integrantes do Ministério Público e juízes.

Em seguida, o CJF (Conselho da Justiça Federal), o CSJT (Conselho Superior da Justiça do Trabalho) e o STJ também validaram o penduricalho.

Mesmo não integrando o Poder Judiciário, o TCU incorporou a licença, pois tem direitos e deveres equiparados ao STJ pela Constituição.

Na ocasião, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas manifestou-se contra. Bruno Dantas então suspendeu temporariamente os depósitos.

A área técnica do tribunal apontou "possíveis ilegalidades" na concessão do benefício e sugeriu a suspensão da licença.

Mas, em 13 de dezembro, o ministro do TCU Antonio Anastasia contrariou a área técnica e entendeu que deveria ser "outro o encaminhamento" da questão.

No plenário, a corte do próprio TCU liberou os pagamentos do novo penduricalho.

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