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Com bênção de Bolsonaro, Musk levou nova 'mina de esmeralda' para Amazônia
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Em maio de 2022, uma pesquisa Datafolha mostrava que 54% dos eleitores brasileiros diziam não votar em Jair Bolsonaro (PL) de jeito nenhum.
Em campanha antes mesmo da largada oficial, o então presidente corria risco de ver seu adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na época com 48% das intenções de voto, vencer a corrida logo no primeiro turno. Bolsonaro tinha 27% das intenções de voto.
De lá até outubro, como se sabe, o postulante à reeleição não mediu esforços para colocar a máquina do governo a serviço de sua candidatura. Ele turbinou o Auxílio Brasil, distribuiu dinheiro e provocou calote bilionário em banco público; usou cartão corporativo para distribuir lanche em motociatas com amigos e usou prédio público como palanque para desinformar diplomatas sobre as urnas eletrônicas.
A cinco meses do pleito, porém, uma preocupação de Bolsonaro era desfazer a imagem de pária mundial assumida com orgulho por seu antigo chanceler. Que tal, então, trazer para o Brasil uma celebridade da internet e vender para o público a ideia de que o capitão não andava assim tão desprestigiado?
Foi pensando nisso que ele mobilizou seu time de ministros para transmitir ao vivo uma cerimônia de beija-mão com o empresário sul-africano Elon Musk, o homem mais rico do planeta que estava prestes a comprar o Twitter e transformá-lo em seu playground.
Bolsonaro, em tese, queria mostrar que não só tinha amigos importantes como se preocupava com a Amazônia e as escolas públicas, instituições que ele fez de tudo para destruir ao longo do mandato. Com Musk no palanque, ele matava dois coelhos já espancados num pronunciamento só.
O encontro serviu para comunicar que os satélites da Starlink, de Musk, estavam prontos para levar internet às escolas públicas amazônicas e ajudar a mostrar a verdade sobre os índices de desmatamento da região.
Foi a maior ação de marketing que um presidente já promoveu em favor de uma companhia privada. Uma brincadeira que, como lembrou o jornalista Leonardo Sakamoto, colunista do UOL, custou R$ 136 mil aos cofres públicos.
Na época, muitos estranharam a conversa. A começar pela inversão de papéis: no hotel de luxo onde Musk fez rápida aparição, como um príncipe que vai à sacada acenar aos súditos, foi o chefe de Estado quem correu em sua direção, e não o contrário, como geralmente acontece quando alguma empresa vai a algum país prospectar negócios.
Bolsonaro parecia tão animado para posar ao lado de uma celebridade quanto no dia em que deixou o que (não) estava fazendo para tietar o apresentador da "Praça é Nossa", Carlos Alberto de Nóbrega, na Câmara, em 2019.
O suposto acordo com Musk botou o carro na frente dos bois: o anúncio foi feito antes mesmo de uma assinatura de convênio ou licitação.
Outra razão para estranhamento era o fato de o Brasil já possuir um sistema consolidado de monitoramento para a Amazônia e ele estava sob a gestão do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Quem fez questão de lembrar disso foi um ex-diretor do instituto, Ricardo Galvão, fritado em praça pública por bancar a divulgação de números da destruição que Bolsonaro preferia dourar.
Galvão alertava que os equipamentos de Musk não poderiam ajudar no combate ao desmatamento porque "satélites são para internet", e não para monitoramento. Bolsonaro parecia ignorar que o Brasil dispunha, desde 2017, de um sistema capaz de oferecer banda larga a territórios na Amazônia — um sistema que custou quase R$ 3 bilhões e que estava parado por causa de uma briga judicial.
Então, além de apertar a mão de um cosplay de Donald Trump, o que o dono da Tesla veio fazer no Brasil?
A pergunta pode ser respondida com a ajuda da reportagem assinada por Rafael Neves, publicada no UOL.
Um ano depois de todo aquele teatro, apenas três escolas na Amazônia foram conectadas à internet por meio dos satélites de Musk. Desde aquela abrupta aparição, e já com a devida anuência da Anatel, a Starlink já ganhou 50 mil clientes no Brasil, mesmo não tendo representação oficial no país.
Antenas da empresa já foram apreendidas em operações contra garimpos ilegais na Amazônia, onde o serviço conectou, finalmente, uma atividade dos tempos da Coroa ao século 21. Hoje as antenas ajudam exploradores a se comunicar e se antecipar a possíveis flagrantes.
Quem poderia imaginar que um acordo não assinado para levar uma tecnologia que já existia a uma região devidamente ameaçada poderia dar nisso?
Com ajuda de Bolsonaro, o ex-militar enquadrado pelo Exército por promover expedições em busca de ouro na mata, Musk exportava para o Brasil um dos know-hows da família, que enriqueceu explorando uma mina de esmeralda na Zâmbia. Níquel, mostrou a dobradinha improvável, é mesmo uma linguagem universal.
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