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'Submarino' que visita Titanic leva ao limite o conceito de turismo mórbido
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O desaparecimento de um "submarino" que levava turistas para ver os destroços do Titanic no Oceano Atlântico é a camada mais profunda de um fenômeno que especialistas chamam de "turismo mórbido" (ou apenas "macabro", a depender da tradução).
Na embarcação estavam pessoas que pagaram cerca de R$ 1,2 milhão para passear até o ponto do naufrágio. Lá, poderiam submergir por oito horas, a 3,8 mil metros de profundidade, e conferir os destroços do navio inglês que afundou em 1912, matando 1.500 pessoas. Programão, né?
Entre os desaparecidos estão o bilionário britânico Hamish Harding e o escritor e ex-comandante da Marinha francesa Paul-Henry Nargeolet, o mais notório especialista no naufrágio do Titanic.
Eles não são os únicos fissurados nessa história, que movimenta a pirataria e os negócios de quem mistura ambição e amadorismo na mesma embarcação. Além do cinema, ela é recorrentemente reconstituída em cruzeiros que reproduzem cenários, pratos e até a música que embalou os tripulantes e passageiros antes de afundar.
Em 2012, quando o acidente completou cem anos, um navio com 1.300 fãs refez (quase) toda a viagem do Titanic: partiu do cais de Southampton, na Inglaterra, e se dirigiu até o ponto do Norte do Atlântico em que um iceberg se chocou contra a embarcação. Uma bisneta de um dos passageiros estava na viagem.
Por uma coincidência macabra, foi naquele mesmo ano que a modelo brasileira Nana Gouvêa viralizou ao fazer um ensaio fotográfico nos lugares de Nova York destruídos pelo furacão Sandy.
Ela não foi a primeira, mas fez escola: era o começo da era das selfies sem-noção.
Em terra firme, o turismo mórbido virou um nicho entre visitantes de campos de extermínio, túmulos e cemitérios famosos — os de Oscar Wilde e Jim Morrison, em Paris, são campeões de visitação —, locais de desastres naturais, como o vulcão Vesúvio, na Itália, ou mesmo áreas de desastres históricos, como Chernobyl, na Ucrânia, e o Marco Zero, onde ficavam as Torres Gêmeas de Nova York.
Esse tipo de entretenimento movimenta curiosos e também polêmicas.
Em abril deste ano, o Memorial de Auschwitz, na Polônia, precisou se manifestar após viralizar uma foto em que uma turista aparece sentada e sorrindo sobre trilhos que levavam ao antigo campo de concentração nazista. "Ao chegar a Auschwitz, os visitantes devem ter em mente que entram no local autêntico do antigo campo onde mais de 1 milhão de pessoas foram assassinadas. Respeite a memória deles", escreveu o perfil oficial do Museu.
Quatro anos atrás, a instituição já havia publicado uma série de fotos de turistas brincando felizes no local com uma dura mensagem: "Existem lugares melhores para aprender a andar sobre uma trave de equilíbrio do que o local que simboliza a deportação de centenas de milhares para a morte."
Quando se fala em turismo macabro, fala-se também sobre os limites éticos aos quais visitantes e responsáveis pelos locais devem estar atentos. Há, inclusive, quem considera inadequada a cobrança de quaisquer valores para acessar espaços que, em tese, deveriam representar a manutenção da memória histórica e seus horrores.
Curiosamente, um dos autores responsáveis por cunhar o termo "turismo mórbido" é homônimo de John Lennon, ex-beatle cuja morte trágica leva até hoje multidões de fãs e turistas à frente do edifício Dakota, em Nova York, onde o ídolo foi assassinado.
Lennon (o professor) escreveu, em um artigo recente publicado no jornal britânico "The Guardian", que o turismo macabro é uma tendência em alta, mas não uma invenção, da sociedade contemporânea. Segundo ele, o fenômeno já era observado desde os tempos do obscurantismo, quando peregrinos viajavam para visitar tumbas e locais onde morreram os mártires da Igreja Católica. Ele lembra ainda que Waterloo, na Bélgica, também virou ponto de peregrinação após a famosa batalha de Napoleão e que um dos primeiros campos de batalha da Guerra Civil americana foi transformado, ao fim dos conflitos, em atração.
Mas nem só de ostentação ou curiosidade mórbida vive o turismo macabro. "Nós vamos a esses lugares porque somos inerentemente fascinados pela morte dos outros e, no final, nesses lugares encontramos nosso próprio senso de mortalidade", disse em entrevista à BBC Brasil o filósofo Peter Stone, do Instituto de Pesquisa de Turismo Mórbido. Para ele, no mundo de hoje estamos muito divorciados da realidade social da morte, que é profissionalizada e gerida por médicos. "Por isso a morte se torna uma espécie de calcanhar de Aquiles da sociedade moderna. A morte é a atração final."
Que os turistas do submarino Titan voltem inteiros à superfície para contar como foi a experiência.
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