Cacá Diegues recebeu pelo menos 600 mensagens no dia em que completou 80 anos, 19 de maio. "Pelo menos" porque parou de contar. "Fiquei feliz em saber que as pessoas não me esqueceram", diz o cineasta por telefone, do Rio, de onde só saiu duas vezes desde março.
Entre as pessoas do grupo de risco, ele se define como a mais paciente e obediente do mundo. Lava as mãos com frequência, usa máscara e mantém o distanciamento social enquanto se dedica a dois projetos, um novo livro e o roteiro do longa-metragem "Deus ainda é brasileiro", que evita chamar de continuação de seu "Deus é brasileiro", lançado quase 20 anos atrás.
2020 tem sido um ano de efemérides para o diretor. "Bye Bye Brasil", filme que ele dedicou ao povo brasileiro do século 21, foi lançado há 40 anos. Só não imaginava que, neste novo século, o país percorrido pela Caravana Rolidei, trupe comandada por José Wilker em companhia de Betty Faria, Fábio Júnior, Zaira Zambelli e Jofre Soares, permanecesse um país arcaico, fundado no genocídio indígena, na exploração sexual e na confusão das ideias entre progresso e devastação. O filme foi exibido em 3 e 5 de setembro no Belas Artes Drive In, em São Paulo, dentro do Memorial da América Latina.
Entre um projeto e outro, o detentor da cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras aproveita a quarentena para ler e assistir ao que estiver passando na TV de 75 polegadas que instalou em casa. Conta ter achado chato "O Irlandês", de Martin Scorsese, mas que no período reviu Alfred Hitchcock, assistiu finalmente a "Breaking Bad" (adorou, aliás) e virou fã do youtuber Felipe Neto. Os elogios mais rasgados ficam para "Pacarrete", filme de estreia do cearense Allan Deberton, que Cacá Diegues define como "maravilhoso". "É sobre um personagem que só pode ter existido no Brasil e no interior do Ceará."
Confira a entrevista que ele concedeu ao TAB.