"As pessoas estão desesperadas por informação, mas não sabem onde encontrá-la", opina Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência — organização dedicada à defesa do uso de evidência científica nas políticas públicas. Além da mídia tradicional falando do novo coronavírus, tem influenciador youtuber, tuiteiro e especialista para todo os gostos compartilhando conteúdos sobre o assunto em velocidade e volume frenéticos. Mas como saber em qual informação confiar?
Leandro Tessler, divulgador científico e professor do Departamento de Física Aplicada na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), ressalta que esse questionamento é ainda mais relevante quando até mesmo governantes passam informações ou determinam ações contraindicadas pela ciência.
Para tentar compreender a circulação de fake news e desinformação sobre a covid-19, Tessler criou, ao lado de Átila Iamarino, do doutorando Rafael Geurgas e de outros colegas, uma "hotline". Quem quiser contribuir, pode encaminhar mensagens e informações recebidas sobre o tema para o número (19) 99327-8829. "Estamos mapeando a desinformação com o objetivo de mitigar o efeito dela. O antídoto não é outro: é informação confiável", afirma Tessler. O grupo já recebeu mais de 20 mil mensagens e pretende mapear as bolhas de onde vêm o conteúdo falso — e qual caminho ele percorre.
Nessa hora, a melhor tática para se blindar da desinformação é evitar mensagens encaminhadas que não remetam a um link confiável, como a um site de um jornal reconhecido ou de uma universidade. Aquele áudio que o seu amigo te mandou, de um suposto médico, pode ser falso. Nas redes sociais (e principalmente no WhatsApp, onde as mensagens são criptografadas e, portanto, não há checagem de conteúdo), qualquer pessoa pode escrever ou gravar o que quiser. A desinformação está cada vez mais profissionalizada, incluindo os temerosos deepfakes.
Para tentar diminuir a circulação de conteúdo falso, o YouTube informou ao TAB que mudou as regras de monetização dos vídeos sobre o novo coronavírus. Agora só monetizam canais verificados. Há uma "prateleira de notícias específicas sobre covid-19" para destacar atualizações provenientes de canais jornalísticos na página inicial do site. Além disso, vídeos relacionados ao assunto trazem um painel com link de informações fornecidas pela Organização Mundial da Saúde.
Outro exemplo de iniciativa contra a difusão de notícias falsas sobre o novo coronavírus partiu do Twitter, que vem removendo conteúdos que atentam contra a saúde pública — até mesmo de contas oficiais, como foi o caso de dois posts do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ainda assim, nenhuma das plataformas é capaz de remover todo o conteúdo falso no momento em que ele é postado. Nesse caso, é importante não baixar a guarda.
Se, por um lado, é responsabilidade individual conferir a fonte da informação que estamos consumindo, por outro, é essencial que produtores de conteúdo sejam cautelosos e não se empolguem com o número de cliques, escorregando na informação. Mariana Varella faz um alerta para os próprios profissionais da saúde: "Você pode passar um áudio para uma pessoa da família, que vai encaminhar, e aquilo pode sair de controle", avalia.
Pasternak vai na mesma linha: "Não é o momento de postar como pessoa física", alerta aos colegas cientistas. "Nesse momento, as pessoas vão olhar para nós como 'os caras que sabem do que estão falando'. Não podemos nos dar ao luxo de fazer hype por empolgação", adverte.