29 de novembro
De última hora, informaram que o balanço mensal foi antecipado. Após o ritual dos presentes para os aniversariantes de dezembro, o diretor anunciou abruptamente: "Doze é meu último mês como shachou". Depois de 33 anos à frente da fábrica, ele decidiu que era a hora de passar a liderança para o filho.
"O que lamento é não ter conseguido mudar a mentalidade de vocês, principalmente brasileiros. A qualquer momento querem mudar de emprego se não estiverem felizes. Esta fábrica movimenta 22 bilhões de ienes por ano; 85% da produção das peças é fruto do esforço estrangeiro, dos brasileiros. Mas muitos não estão comprometidos com a fábrica."
No atual quadro, 20 brasileiros estão há mais de 10 anos na fábrica. Eles são comprometidos, supôs. Os demais, disse não saber se estão engajados, pois faltam quando têm compromissos, como reuniões anuais dos colégios dos filhos. Ou quando pedem férias — quatro brasileiras pediram 30 dias de ausência entre dezembro de 2019 e janeiro de 2020 para visitar a família no Brasil. "É impensável na mentalidade japonesa", definiu.
Depois do discurso, saiu da sala. "Bom dia, pessoal", retomou Riku. "A partir do ano novo, ano novo. Pra vocês pode parecer legal, mas o novo diretor não entende nada do serviço. Vou dizer: prefiro o velho gritando do que o filho dele, que só olha gráficos de produtividade. Ele não tem nenhum sentimento por brasileiro, não custa nada mandar metade da gente embora e trocar por vietnamita, que aceita salário menor. Quem quer ficar procura se esforçar, porque ninguém sabe o que vai acontecer", alertou.
"É, fia, nós só somos números", Vitória comentou baixinho.
Bruna, há 7 anos ininterruptos no Japão, fala pelos cotovelos. Na casa dos 20, loira, nissei e paulistana, adora trocadilhos sexuais e tatuagens — uma das suas, no pescoço, diz forgive (perdoe, em inglês). É uma das garotas que vai sair de férias. "Tá contando os dias, hein. Mas o tempo passa rápido, não tem erro: é só acordar, vir pra fábrica, voltar pra casa só pra dormir, acordar...", brincou Ren, encostado na janela do fumódromo. Há 17 anos no Japão, o tempo todo nesta fábrica, Ren só visitou o Brasil uma vez. "Agora nunca mais, né."