LABIRINTOS DO PRAZER

Herdeira de casa pioneira das festas de sexo swingueiro de SP, Villa Imperium busca atrair novatos

Gustavo Basso (texto e fotos) Colaboração para o TAB, de São Paulo

Mais de 30 pessoas se aglomeram em torno de uma grande cama redonda forrada de couro sintético preto, dentro de um quarto de paredes aveludadas. Ao centro, duas mulheres nuas, de quatro, são penetradas por três homens.

Outras 20 pessoas observam: homens e mulheres, juntos ou não, as acariciam com algum pudor. Alguns apenas retroalimentam o espírito voyeur criado pela luz baixa e os gemidos que se multiplicam.

A sala mais ampla da Villa Imperium é a atração principal do labirinto da casa na noite de terça-feira visitada pela reportagem. É a noite mais popular do clube localizado em Moema, epicentro da cena swingueira paulistana.

Cercado de espelhos e janelas, o espaço permite que todos se vejam e sejam vistos, enquanto os mais empolgados, porém menos afeitos a tanta exposição pública, se juntam em trios, quartetos e outras variações nas cabines vizinhas, de onde vazam risos que logo são substituídos por mais gemidos para somar à sinfonia.

Esta é uma reportagem da série publicada pelo Aba Anônima contando o que rola nas casas de swing pelo Brasil.

PODE ENTRAR

Um homem na casa dos 35 anos abre a porta de uma das cabines e se divide entre o interior do cubículo e a cama central, onde agora cinco casais formam uma massa humana. "Quer entrar? Fica à vontade", convida o rapaz, peruano que vive em São Paulo há oito anos e agora namora uma brasileira.

Ela, enquanto isso, não dá nenhuma atenção à conversa, concentrada em receber sexo oral de uma loira, ambas acompanhadas de um homem grisalho que observa a cena com um sorriso malicioso e satisfeito no rosto. "Eu já gozei, agora é a vez dela", diz o rapaz, reforçando o convite para juntar-se ao quarteto. "O justo é o justo."

Em outra sala de onde não se ouve nada, quatro pessoas disputam uma pequena janela, acessível pelo outro lado do "labirinto", como é conhecido o espaço reservado à pegação sem moderação. Funcionário da Villa Imperium há sete anos, Sidnei* assiste a tudo como se fosse mais um frequentador comum. Diz não se cansar daqueles espetáculos.

"Tem gente que vem e volta quase toda semana", conta o responsável pela ordem e limpeza nos cantos escuros do labirinto.

ATRAINDO NOVATOS

Entre tanto entra e sai de corpos nus, a higiene acaba sendo uma preocupação constante, por isso Sidnei e outros três colegas circulam sem parar pelos dois andares.

Conquistar novos adeptos é um dos desafios do empresário Paulo Machado, criador e sócio da Villa Imperium há pelo menos duas décadas. Ele conta que, das cerca de 500 pessoas que frequentam a casa aos sábados — um dos dias mais lotados —, 60% são novatos que nunca foram em um clube de swing.

"Seja uma mulher solteira, um homem solteiro, um casal... eles estão ali pela primeira vez. O ponto mais importante é como você vai trabalhar esse público, envolvê-lo, fazê-lo gostar da experiência e da sua casa para voltar mais vezes", diz Paulo. Para ele, a solução é desfazer estigmas e preconceitos que a prática carrega.

"Muitos chegam sem ter nenhuma noção do que esperar; o homem do casal por vezes já foi a uma sauna, e conta que lá já chega, tira a roupa e usa só uma toalha pelado... Então toda a equipe se volta a acolher essa pessoa que está pisando em um terreno desconhecido", afirma. Como ocorre em outras casas, um ou uma hostess é destacada para apresentar a balada e seus ambientes.

"A pessoa tem que se sentir segura, sem aquele clima de pornografia meio pesada; aqui as pessoas estão bem vestidas, sentadas, comportadas", afirma, descrevendo o espaço.

Não faltam mesinhas, sofás e poltronas ao redor do palco e pista de dança que, segundo ele, são deliberadamente modestos, só para criar um ambiente de paquera onde casais e outras pessoas possam se ver, se tocar, já que 90% dos que estão ali buscam, com todas essas atrações, fazer algo diferente.

SWINGUEIROS TAMBÉM AMAM

De volta à sala comunal da suruba, um casal observa tudo se tocando: ela de peitos à mostra, ele com o próprio pênis de fora. Aos poucos vão se soltando. Ele chama um homem próximo para tocar os seios da parceira e logo em seguida toca a moça então mais desejada da cama, penetrada pelo parceiro desde o começo, observados pelos demais.

Ambos reaparecem já fora do labirinto, ainda aos amassos no charmoso corredor que dá acesso às duas alas de sexo liberado e explícito. A Villa Imperium conta com dúzias de cabines, a maioria margeadas por espaços menores que dão acesso aos "glory holes" — famosos buracos onde os mais atirados colocam pênis ou braços para aproveitar um pouco do que se passa no quarto vizinho. Vale também só espiar.

Sara e Cláudio*, o casal que timidamente se soltou no quarto da suruba, se conheceram em uma dessas realizações de fantasias. Há dez anos estavam em uma outra casa de swing, ele com a então esposa, ela com um namorado, quando a interação acabou contrariando o dono da casa e despertou sentimentos.

"Foi amor à primeira bombada", riem. "Ali na transa mesmo já pudemos perceber que era algo mais forte, e cá estamos curtindo o swing como nos conhecemos", conta Sara, swingueira há 15 anos como ele, à fila do chope.

HONRADO HERDEIRO

Há mais de 20 anos trabalhando com o setor, Paulo Machado faz questão de utilizar o termo "clube de swing" para sua balada, como forma de se distinguir do que chama de baladas liberais.

A Villa Imperium, criada em 2017, é herdeira da Casablanca, aberta em 2004 sob pedido da comunidade do swing para um espaço para poder liberar o tesão lá mesmo, sem ligação emocional, segundo ele. Ambas se distinguem, para ele, do primeiro projeto no ramo liberal, a Nefertiti.

Aberta nos anos 1990, a "avó" da Villa Imperium foi concebida como uma balada liberal, sem labirinto, mas com shows de strippers, um balcão longo onde mulheres dançavam, instigando o que ele chama de "sensualismo e erotismo". O conceito de swing ele só viria a conhecer no futuro, por um famoso apresentador de TV, e a pedido de swingers raiz que, segundo ele, sentiam falta de um espaço.

Além das cabines e salas para casais -- algumas com janelas, outras totalmente escuras; diversidade não falta --, a casa conta ainda com jaula e quarto com aparelhos de bondage e sadomasoquismo. "A maioria dos casais querem é realizar uma fantasia que não conseguem em outro lugar", diz Diego Ribeiro, outro membro da equipe da balada.

As terças-feiras são curiosamente um dos dias mais cheios da Villa Imperium. Com programação de sertanejo e paredão, a "Terçaneja" atrai um público menos assíduo do swing e universo liberal, com perfil mais popular. O "open chopp" ajuda a animar os mais tímidos, enquanto a banda ao vivo e seu vocalista performático embala homens e mulheres. Desenvolta, uma morena alta e bonita é convidada por ele ao palco e juntos dançam se esfregando, provocando gritos na plateia.

Apesar dos seguranças, é difícil para as mulheres escaparem do assédio de solteiros indesejados, o que exige, mais do que jogo de cintura, um "chega pra lá" mais vigoroso por parte do casal. Uma lição importante para os novatos e mais ainda para veteranos da troca de parceiros.

SERVIÇO
Villa Imperium:
Av. Chibaras, 992, Moema, São Paulo, tel.: (11) 5051-5057. Funciona de terça a domingo. De ter. a sáb., das 21h às 5h; dom. das 21h às 4h. Os preços variam de acordo com a atração da noite.

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