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Bruna Ferraz revela estripulias nos sets de filme pornô dos anos 2000

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Imagem: Divulgação

Tiago Dias

Do TAB, em São Paulo

14/03/2023 22h00

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Tem quem veja filme pornô duvidando do prazer na tela. Na frente das câmeras, atores e atrizes gemem, suam e dizem o quanto tudo aquilo está gostoso, mas, apesar disso, muita gente acha que a técnica mascara o gozo genuíno. Pode valer para alguns, mas não para Bruna Ferraz. "Sempre tive prazer de verdade."

O feito aconteceu no início de sua carreira no pornô, em 2007. Foi numa cena gravada em cima de um sofá de couro preto em um hotel em São Paulo. O roteiro seguia certo script — ângulo x, iluminação y —, mas Bruna viveu a experiência aos gritos. "Foi a primeira vez que tive um orgasmo só fazendo anal, essa coisa de ficar molhada mesmo." Depois do clímax, o diretor da cena até exclamou: "Caraca, você está muito arrepiada!".

Ela sorri, hoje, orgulhosa de um desempenho que nunca mais se repetiu. "Os câmeras veem, né? Era nítido que eu estava gozando. Não tinha como dizer: 'ah, foi fake'. Contei a verdade. Foi tudo real. Na verdade, foi tudo surreal", diz.

A estreia a deixou insegura. Ela havia acabado de gravar a primeira cena de "Garota na Web", seu primeiro filme na produtora Brasileirinhas, quando o diretor avisou que fariam uma cena de anal na sequência. Estava no contrato, mas ela não imaginava que aconteceria logo no primeiro dia.

"Até então, a última vez que eu tinha tentado foi quando eu ainda era virgem. Fiz anal pra não engravidar. Depois não pratiquei mais. Neste dia, no set, eu suava frio, gelava. Me ofereceram vinho, dei uma bebidinha. Agradeci às pessoas que estavam em volta e fui."

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Só depois de encerrada a gravação ela descobriu que havia pulado uma parte essencial na preparação para aquela prática: a ducha anal, a famosa "chuca". "Eu realmente sabia muito pouco, fui me aprimorando. Nunca tinha assistido a um filme pornô na vida. O primeiro que eu vi foi o meu, mesmo."

Bruna Ferraz, 46, é uma das entrevistadas do podcast do TAB "Brasil para Maiores", que resgata a era do pornô de celebridades, algo que só existiu no país. O primeiro episódio já está no ar. Assinantes UOL têm acesso exclusivo a uma reportagem especial do UOL Prime.

Na série em áudio, Bruna falou abertamente sobre como a pornografia serviu para que ela descobrisse e explorasse seus próprios desejos, fantasias e prazeres.

"Antes era só aquela mesma posição, papai-mamãe. Vi que era possível me entregar e sentir, sem vergonha das pessoas e das câmeras ali. Eu era bem ingênua, nunca passou pela minha cabeça que pudessem existir aquelas coisas. Aprendi mais sobre mim, sobre meu corpo, fazendo os filmes. Nunca tinha visto um filme pornô, o primeiro a que assisti foi o meu. Achei um tesão do capeta."

14.out.2014 - A atriz pornô Bruna Ferraz subiu ao palco pare receber o prêmio de Melhor Cena de Orgia, pelo filme "Amigas da Minha Irmã", da produtora Brasileirinhas - Amauri Nehn / Photo Rio News - Amauri Nehn / Photo Rio News
Imagem: Amauri Nehn / Photo Rio News

Dom, não; tem que gostar

Bruna Ferraz nasceu em Alegrete (RS) e se mudou para Porto Alegre quando jovem para trabalhar em shows em boates. Foi ali que escolheu o nome artístico - e logo pensou na atriz Carolina Ferraz para coroar o sobrenome.

Já tinha passado dos 23 anos quando se instalou em São Paulo. Na nova cidade, conquistou um sonho que nutria desde criança: aparecer na TV. Participou dos quadros " Banheira do Gugu" e "Teste de Fidelidade", foi a Gata Molhada do programa "Sabadão Sertanejo" e musa de programas como "Sem Controle" e "A Praça É Nossa". Foi na capital paulista também que posou nua pela primeira vez, para a revista "Sexy".

"Nessa época eu ainda era bem bobinha. Não que eu não gostasse de sexo. Sempre gostei. Lembro de uma vez que um menino foi lá em casa, pulou a janela com a minha mãe dormindo. Eu não sabia se eu prestava atenção no pau dele ou ficava de olho se minha mãe ia abrir a porta. Ainda assim, não sabia muito bem as coisas. Demorei muito pra saber o que era gozar. Foi aos 23 que eu descobri usando o bidê, com aquele chuveirinho."

O trabalho na pornografia veio aos 27 anos e foi movido, segundo ela, por uma ideia de vingança, contra um namorado abusivo - e que tinha fixação por atrizes pornôs. "Eu comecei a fazer pra me vingar, mas depois gostei realmente. Além do dinheiro, eu queria mesmo fazer."

Ela passou a ver o set como o lugar ideal para testar fantasias e sensações. "Fui me soltando mais e mais. Descobri que o anal era fundamental. Descobri o carinho nos seios, que eu não deixava antigamente, e até transar com mulher." Porém, ela avisa: "Não me considero bi, gosto mesmo de homem, mas numa festa, num ménage, numa brincadeira, sim."

Não demorou para ser uma das atrizes mais bem pagas e respeitadas da indústria - antigos diretores e profissionais dos bastidores elogiam até hoje o profissionalismo e o carisma da atriz, que sempre estava de olho na câmera, querendo avaliar a cena que acabou de protagonizar. Virou lenda no mercado. "Eu não acho que seja um dom, viu? Mas tem que gostar da coisa."

Ela lista as fantasias que só realizou gravando, como na cena em que praticou gangbang e dupla penetração, e gosta de destacar um certo recorde: "Já gozei trinta e sete vezes em uma hora, e quarenta e cinco vezes em três horas. Mas o cara também gozou umas quatro, cinco vezes", diz.

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Bruna, como faz anal?

Bruna é assim até hoje: gosta de falar de sexo sem meias-palavras. A franqueza, ela diz, a faz ouvir de volta todo tipo de pergunta, principalmente das mulheres.

"Em todos os lugares que vou, seja na manicure, em restaurante, balada ou em outro lugar diferente, vem a mesma pergunta: Bruna, como é que faz anal? Eu falo: 'Não, meu amor, você passa um gel. Às vezes você mesmo se lubrifica'. Eu penso até em fazer um workshop."

Ela deixou de fazer filmes em 2017, quando achou que não compensava mais emprestar seu tesão real para vender fantasias em DVDs facilmente pirateados.

"Não quis mais fazer quando eu vi um declínio. Tinha a pirataria, as vendas caíram, os cachês diminuíram. Se eu continuasse, ia cair o nível [do trabalho]. Parei no momento certo e sou reconhecida até hoje. Mulheres também, todos sempre chegaram com carinho. Nunca ninguém abusou. Nunca ninguém passou a mão. Sempre me respeitaram. Às vezes, os homens ficam sem reação até para falar comigo. Eles têm medo. Eu falo: 'gente, eu não mordo, mas posso chupar'."

Hoje, ela trabalha para criar sua própria produtora e quer apenas dirigir, mas mantém vídeos antigos (e novos) em plataformas como OnlyFans e Privacy.

"Todo mundo vê filme pornô. O filme pornô é muito antigo, querendo ou não, todo mundo se inspira, todo mundo olha, todo mundo quer ver o sexo. E isso cresceu na pandemia."

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Agora, ela diz, a busca por prazer tem ficado entre quatro paredes mesmo. Ainda há muita coisa que ela quer experimentar - como transar com dois homens. "Aqui do lado de fora, eu nunca fiz. E ainda tenho curiosidade." Mas a vida real tem suas dificuldades, ela admite:

"Eu afugento os homens quando vou para a balada. A maioria deles sempre fala do pau do Kid [Bengala, lendário ator pornô, com seus autodeclarados 30 cm]. 'Ah, você transou com ele, então você não vai gostar do meu'. Eles têm um problema com o tamanho. E suspeito que eles assistem aos filmes porque querem ver o pau do outro, pra se comparar, não querem ver a cena. Mas eu sempre digo, tamanho não é documento e sexo não é força, é jeito. Tudo encaixa, é só fazer com jeitinho."

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