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'Sempre gostei muito de sexo': atriz PcD revela estripulias com namorado

Mona Rikumbi é atriz e participa do Projeto Transo, cujo objetivo é retratar a pluralidade dos desejos e romper tabus capacitistas em torno do sexo - Bruna Bento/UOL
Mona Rikumbi é atriz e participa do Projeto Transo, cujo objetivo é retratar a pluralidade dos desejos e romper tabus capacitistas em torno do sexo
Imagem: Bruna Bento/UOL

Mona Rikumbi*, em depoimento a Claudia Castelo Branco

Colaboração para o TAB, de São Paulo

28/03/2023 22h01

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César* e eu nos encontramos na noite de sexta-feira de Carnaval, 17 de fevereiro. Foi nosso "grito do Carnaval", se é que você me entende.

Nós namoramos há dez anos, mas moramos em cidades diferentes — ele, em Joinville; eu, em São Paulo. O combinado é um encontro mensal com três dias de sexo intenso. Temos um trato: fazer tudo que for gostoso para nós dois, sem julgamentos se é chato, feio ou proibido.

Foi com muita confiança um no outro, e no que passamos juntos, que ele começou a falar das fantasias dele. Muitas vezes, os caras não querem falar, mas sentem prazer se tocados perto do ânus. É o tipo de coisa que a sociedade pensa que é "errado" ou "feio", que é isso ou aquilo, o que impede muita gente de se entregar de verdade e gozar sem pudor.

Há um tempo, nós começamos a gravar nossos momentos mais íntimos, inclusive a depilação — não gosto de rola cabeluda, com moita junto. Entre um encontro e outro, ficamos nas preliminares, nesse sexo virtual, o que também me excita muito.

Na última vez que nos encontramos, fomos a um bar e, depois, ao hotel. Eu estava com um vestido estampado, pouca roupa de caso pensado, para ser mais rápido. Durante a espera, carícias e olho no olho. Depois, fomos tirando a roupa e começamos a nos beijar, sem muitas delongas. Ele já estava com o pau duro; o tesão, nas alturas.

César é um cara atlético e forte, do jeito que gosto. Tem um pau grosso e gostoso de 17 cm — ele jura que eu não medi direito e que na verdade teria 23 cm. César é amputado (coxa e perna). Assim como ele, sou uma pessoa com deficiência.

Aos 30, recebi o diagnóstico de neuromielite óptica, uma doença degenerativa rara que, no meu caso, atingiu membros inferiores. A fisioterapia me ajudou a conseguir fazer coisas mínimas, mas importantes, como tomar banho, comer sozinha e me maquiar. E a masturbação me ajudou a sentir prazer de novo. Foi assim que aprendi a entender meu corpo, aprendi a gozar. É um clichê, mas clichês também são úteis: muito melhor uma siririca bem feita que uma foda mal dada.

Mona Rikumbi - Bruna Bento/UOL - Bruna Bento/UOL
Imagem: Bruna Bento/UOL

Sempre gostei muito de sexo. Sou uma atriz, bailarina e performer que não para. Na casa dos 50 e com muito fogo. César diz que um dos primeiros encontros foi um dos mais incríveis para ele, pois ele não tinha a menor ideia de como eu, cadeirante, ia gozar. Ele pensava que ia rolar beijo na boca e sexo oral. Mas rolou tudo e fomos muito além do gozo. Rolou intimidade.

Gosto quando ele me penetra e vai com os dedos no clitóris. Dessa vez, ele meteu massageando meu grelo explodindo. Gozou primeiro e já veio com a língua chupando meus peitos. César é do tipo que não tem preguiça: mando uma buceta na cara, ele já dá um trato. Gozei minutos depois. Orgasmos múltiplos. Foi o primeiro dos muitos "gritos do Carnaval".

Peguei um dos nossos brinquedos, uma das próteses que tornam tudo mais gostoso. Tenho várias de látex, que imitam a textura de um pau de até 20 cm. Dessa vez, a escolhida foi uma cinta de couro e fivelas com um "pênis realístico" de silicone de 17 cm, com glande definida e veias salientes, uma das queridinhas do meu acervo. É ótima para a inversão de papéis. Naquela noite, foi a que usei para penetrá-lo por trás. Ele chegou a ficar trêmulo de prazer e gozou no meu corpo.

Depois, foi a vez dele usar um dos brinquedos em mim. É uma prótese para dupla penetração que vibra ao entrar em contato com o clitóris e o anel escrotal, com um extensor de 2,5 cm. César intercalava a vibração das duas próteses com um sexo oral bem gostoso, daquele que põe o grelo bem dentro da boca. Perdi as contas dos orgasmos que senti.

Mona Rikumbi - Bruna Bento/UOL - Bruna Bento/UOL
Imagem: Bruna Bento/UOL

Jantamos depois, para recarregar as energias. De sobremesa, bolo de copo de chocolate. Trinta minutos depois, estávamos transando novamente.

Não foi a primeira vez que gravamos, mas foi a que gravamos mais vídeos detalhados das nossas transas, com mais zoom. O lance do vídeo dá um tesão diferente: uma coisa é se excitar vendo os outros; outra é se excitar revendo você mesmo fazendo e sentindo prazer com aquilo. A gente gravava, olhava e ficava excitado de novo. Daí trepava gostoso, sem preguiça. E nessa fomos direto até as 14h de sábado.

César já foi embora. O relacionamento a distância é bom porque ficamos o tempo todo com saudade. Agora, a gente passa um mês revendo nossos vídeos. As lembranças são nosso energético até o próximo encontro. É um amor 50+, com muito fogo, prazer, respeito, e o melhor de tudo: liberdade.

*Mona Rikumbi, 52, é atriz e participa do Projeto Transo, cujo objetivo é retratar a pluralidade dos desejos e romper tabus capacitistas em torno do sexo