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'Squirtei': o melhor sexo da minha vida foi com uma pessoa com deficiência

Foi a primeira vez, e até agora a única, que "squirtei" - Zé Otávio/UOL
Foi a primeira vez, e até agora a única, que "squirtei"
Imagem: Zé Otávio/UOL

C.W.*, em depoimento a Bruna Maia

Colaboração para o TAB, de São Paulo

27/12/2022 22h00

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Madri é uma cidade em que as pessoas estão muito à vontade com o sexo. Morei lá entre 2011 e 2014, recém-formada nos Estados Unidos, e me lancei à privilegiada aventura de morar na Europa sob o pretexto de dar aulas de inglês. Na capital espanhola, você está voltando de metrô lá pelas cinco da manhã, encontra um amigo e vai pra casa gozar — os madrilenos são notívagos. Nos bares de La Latina, tá todo mundo no mesmo espaço. O universitário de engenharia, o doutorando de sociologia, o padeiro marroquino, o motorista de Uber de origem indiana, algum idoso querendo pagar a noitada de uma jovem. Pegava todos.

Num desses dias de calor seco típicos da cidade, assisti a um documentário sobre a sexualidade de pessoas com deficiência bastante gráfico. Tinha a história de uma mulher que havia perdido os movimentos das pernas e fazia filmes pornôs bem violentos. E também a história de um cara que gostava muito de sexo e tinha se acidentado. Dedicava-se, então, a dar prazer às parceiras, tal qual Javier Bardem fazia com Elena no filme "Carne Trêmula", de Pedro Almodóvar.

Fiquei com aquilo na cabeça e fui tomar vinho branco no Lamiak, meu lugar favorito. Lá, num canto, reparei num moço branco, magro, de cabelos compridos. Não era meu tipo, gosto de homens corpulentos. Minhas melhores fodas até então tinham sido com um motorista de ônibus, um pizzaiolo e um pintor de paredes que conheci na rua em Atenas e que depois reencontrei em Paris.

Esse último me abordou do jeito que muitos homens abordam turistas desacompanhadas e fazem com que elas se sintam acossadas, assustadas, desconfortáveis. Eles passam por você na rua e começam a te seguir, querer saber sobre você. A maioria das minhas amigas rosnaria pra ele e entraria em uma loja para tentar se livrar. Eu o achei um gato e ele me levou pra almoçar. Demos uns beijos, trocamos contatos e então peguei meu voo.

Um tempo depois ele me mandou mensagem dizendo que estava morando em Paris e me convidou para ir. Não conhecia a cidade e me agarrei à oportunidade. Quando ele não estava trabalhando como pintor de paredes, levava-me a belos pontos turísticos. E, claro, transávamos loucamente. O doido é que nos sete dias em que fiquei lá, trocamos de casa três vezes — ele não tinha ainda lugar fixo pra morar, vagava de casa em casa. Ocupávamos quartos que os amigos tinham emprestado por duas ou três noites.

Enfim, sou bem obcecada por sexo. Devo ter transado com mais de 500 caras, sem exageros. Nas minhas épocas mais ferventes em Madri, era um por dia de quinta a sábado. Depois, fui morar em Nova York e trabalhei por cerca de quatro anos como repórter especializada em sexo e indústria pornográfica. Também fui vendedora na loja do Museu do Sexo, uma ocupação que me rendeu muitos brinquedos eróticos de graça, mas pouco dinheiro. Hoje edito textos SEO para uma agência de conteúdo. Chato, mas ganho mais.

Voltando ao branco magrelo do bar em Madri. Aquele rapaz, que logo descobri ser australiano, estava em uma cadeira de rodas. Minha buceta, meu coração e minha mente logo se voltaram para ele.

Começamos a conversar e ele era muito interessante. Contou que tinha batido o carro havia alguns anos e se lesionou. Isso não o havia impedido de viajar pelo mundo — algo que australianos amam — nem de transar.

Aba Anônima - squirtei - Zé Otávio/UOL - Zé Otávio/UOL
Imagem: Zé Otávio/UOL

A próxima coisa que me lembro é de estar de quatro numa cama de hotel, ele sentado em sua cadeira, dando cintadas na minha bunda e eu pedindo "mais forte, mais forte". Estava numa pegada mais masoquista, queria sentir minha pele arder, olhar no espelho e ver as marcas por muitos dias.

Depois, ele se deitou na cama, com habilidade, sem precisar da minha ajuda e pediu — pediu não, ordenou — que eu sentasse na cara dele. Ele descobriu muito rápido como eu gostava de ser chupada. Gosto que o cara sugue meu grelo até quase morder. Enquanto isso, ele enfiava dois dedos na minha vagina, depois dois, depois três, depois quase o punho todo. Gozei.

Mas ele não parou por aí. Mandou eu deitar na cama e começou a me dedar. Dedo no grelo, dedo na buceta, dedo no cu. Não sei bem o que ele fez, mas de repente saiu um jato que quase entrou no olho esquerdo dele pouco antes de eu ter um orgasmo muito longo. Um esguicho. Encharquei o lençol. Foi a primeira vez, e até agora a única, que "squirtei".

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Imagem: Zé Otávio/UOL

"Squirt" é como se chama um líquido sem cheiro que sai de glândulas próximas à uretra de algumas mulheres durante o sexo. Algumas têm muita facilidade e sempre chegam lá. Outras podem conseguir às vezes com os estímulos adequados, enquanto outras ainda talvez nunca o experienciem. Não ter um "squirt" não significa não gozar. Ele é como um pré-gozo, lindo de ver, gostosinho de sentir, mas não é essencial ao clímax. Contudo, até agora a medicina machista não entendeu como funciona o fenômeno e como alcançá-lo.

Alguns homens paraplégicos e tetraplégicos perdem completamente a sensibilidade do pênis e não conseguem ter ereção. Mas vários conseguem ficar com o pau duro — se eles ejaculam ou não, sentem muito, pouco, ou nada, depende muito da lesão. Ele teve uma ereção, mas não conseguia sentir muita coisa. Mas sentei e vi que ele curtiu demais ver meus peitos (enormes) balançarem pra cima e pra baixo.

Exausta, dormi. E no dia seguinte, pela manhã, ele me fez gozar mais duas vezes antes que eu voltasse pro meu apartamento no Lavapiés.

Ele me contou que seguiria viagem, para Saragoça e Barcelona. Depois, França. Australianos adoram desbravar. Espero que no caminho outras sortudas o tenham encontrado. Hoje não tenho bem certeza do seu nome — talvez Brian, talvez Ben. Depois disso tive muito sexo muito bom, mas ainda busco aquele esguicho. É lindo demais ver a cara do parceiro e o colchão encharcado de prazer.