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Fetiche: mulheres fazem a festa com segurança de balada (após expediente)

Adams Carvalho/UOL
Imagem: Adams Carvalho/UOL

Julia Fontes

Colaboração para o TAB, de São Paulo

11/04/2023 22h00

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Já passa das 21h30 de uma segunda-feira em São Paulo, mas os frequentadores do grande bar de samba cravado na Mooca, zona leste da cidade, não parecem preocupados com os compromissos do dia seguinte: a banda da noite só subiria ao palco depois das 23h e, enquanto isso, os corpos suados na pista ou na muvuca da fila do bar seguem se esbarrando e consumindo cerveja estupidamente gelada como se não houvesse amanhã.

Em um canto estratégico entre palco e pista está J*. Vestindo um terno que cobre seus 1,98m de músculos bem trabalhados pela prática de judô desde os 12 anos, ele se mantém "posturado" e "poucas ideias" enquanto o público se diverte. Segundo ele, a cara fechada é importante para evitar distrações e para manter um certo distanciamento emocional dos frequentadores do bar caso precise intervir em alguma confusão na pista. "Mas a equipe de segurança fica de resenha o tempo todo no fone. A gente só fala barbaridades e segura o riso", confessa.

A testa franzida de J. pode ser suficiente para intimidar os homens héteros menos corpulentos que circulam pela pista, mas nada parece deter as mulheres de todas as idades e estilos que se aproximam para "tirar dúvidas", dançar esbarrando "acidentalmente" no segurança gato e, principalmente, as que chegam sussurrando propostas picantes e mais diretas — como um convite para fugir dali, sem que o namorado da pretendente soubesse. Naquela noite, J. achou melhor não topar, pois "não queria dor de cabeça com o cara". "Esperei uma semana para sair com a mina e foi top. Ela tem esse tesão de trair o companheiro, e eu também fiquei pilhado com essa fantasia."

Mil e uma noites

Aos 32 anos — quatro deles vividos intensamente com bicos de segurança em baladas de todos os tipos —, J. reconhece que é preciso ter um bom preparo físico para exercer a função. Nem tanto por causa das brigas. "É muita mulher que aparece ali, no fim da noite. Às vezes alguma coisa deu errado com a pessoa que ela queria pegar e eu tô por ali, às vezes é simplesmente fetiche. A coisa do terno tem isso, né?", reflete. E, para J., a questão racial também pesa: "Não era 'moda' ser negão quando eu era mais novo. Esse tipo de mulher nunca me dava moral. Agora, elas chegam junto". Segundo ele, as investidas têm aumentado ultimamente.

A abordagem delas não é lá muito discreta: durante o show, uma mulher que aparentava ter entre 40 e 50 anos ficou sussurrando insistentemente no ouvido de J. Ele garante que, enquanto está no serviço, se mantém sério e não corresponde às investidas. Quando o expediente termina, a coisa muda de figura.

"Gosto de mulher safada mesmo, das que mandam o papo reto. Às vezes, nem estou no pique de ficar com alguém aquele dia, mas tem abordagem que é irresistível", diz.

No carro, na escada, no cinema

J. lembra de um caso tórrido que mantém com uma cliente daquele mesmo bar. Na primeira vez, ela aproveitou o intervalo da banda para avisar no seu ouvido que sua calça estava "marcando o pau", perguntou onde era o banheiro e se ele não queria acompanhá-la. "Fiquei até sem graça. Falei que ali eu não podia, mas que um garçom ia deixar meu contato com ela", conta.

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Imagem: Adams Carvalho/UOL

Na mesma noite, J. mandou mensagem para a cliente perguntando por onde ela andava. Ela estava em um segundo bar. Disse que mora com a mãe, mas que podia oferecer uma carona "caprichada" para onde ele quisesse. Ela encostou o carro em uma rua residencial — "queria leite", disse. "Quando estava ali me chupando a toda intensidade, percebi que uma festa tinha terminado na casa da frente e várias pessoas começaram a passar pelo carro. Avisei o que estava rolando, achei que ela ia parar, mas aí é que ela se empolgou. De tanta adrenalina, gozei muito mais do que esperava."

Depois desse encontro, J. percebeu que a fantasia da mulher era transar em locais públicos. "A gente se encontrava para fazer sacanagem em vários tipos de lugar. Teve a vez em que a gente foi no cinema à tarde e foi serviço completo: comecei enfiando a mão por dentro do vestidinho bem curto (que ela disse que escolheu de propósito). Quando já estava muito molhada, ela pediu pra me chupar ali mesmo e achei arriscado, mas tive outra ideia: a gente levantou o assento da poltrona, eu abri o zíper da calça, abaixei a cueca e encaixei nela de ladinho. O medo do lanterninha chegar só deixava a sarrada mais gostosa. Se bobear, o lanterninha viu e curtiu também. Isso excita muito a gente."

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Imagem: Adams Carvalho/UOL

'Onde se ganha o pão, não se come a carne'

Essas não foram as únicas aventuras de J. com a cliente do bar em um lugar público.

Outra vez, ela o convidou para o churrasco na casa de uma amiga. A certa altura, levou-o para a garagem do prédio. "No escurinho da escada, ela só colocou a calcinha de lado e usou o corrimão para se escorar enquanto a gente respirava baixinho e torcia pra nenhum morador estragar o clima. Subimos de volta como se nada tivesse acontecido, e sempre que ela me escreve eu já começo a viajar pensando aonde mais a gente pode transar pela rua. A gente ainda quer fazer uma sacanagem em algum ônibus de viagem, mas ninguém tá com grana pra viajar agora. A ideia é ir para a praia e transar na areia também. A gente é meio sem limites."

Mas nem só de ambientes movimentados se alimenta a libido de J. Ele diz que gosta de entregar sexo delivery sem problemas. "Na noitada, acabo indo parar em casa de mulheres de todos os estilos. Poucas vezes foram ruins, na verdade. Gosto de fingir que estou concentrado ali no trabalho o tempo todo, mas também reparo nelas. Então, quando uma mulher chega em mim, eu já vi mais ou menos como é o jeito dela, como ela dança, como ela se mexe, imagino como seria nossa transa ou onde seria. A cabeça vai longe, né?"

Por orientação dos empregadores, J. é desencorajado a flertar com as clientes dos eventos onde trabalha. "Dá para entender, eu tô ali inclusive para evitar que elas sofram assédio, então não faz sentido nenhum eu tomar iniciativa enquanto estou uniformizado, cuidando da ordem em um show. Onde se ganha o pão, não se come a carne. Mas se eu sentir que tem abertura depois do trabalho, eu como o pão, a carne e a sobremesa", conta, caindo na gargalhada.

J. diz que não sabe quanto tempo ficará nas noitadas de sexo casual após o expediente. "Um dia eu encontro alguma doida por aí e sossego. Mas, enquanto isso, eu não tô morto."