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Podcast sobre sons, música e o mundo da escuta


Ser Sonoro #6: a batalha sonora entre os aplausos e a música clássica

Músicos da Orquestra Filarmônica de Bucareste, em apresentação em Trancoso, na Bahia, em 2017 - Ivan Ribeiro/Folhapress
Músicos da Orquestra Filarmônica de Bucareste, em apresentação em Trancoso, na Bahia, em 2017 Imagem: Ivan Ribeiro/Folhapress

Do TAB

20/02/2021 04h01

Um dos sons mais temidos e odiados no cinema, em salas de concerto ou em qualquer outro lugar que exija silêncio, é o toque de um celular. Talvez você não saiba, mas um dos mais famosos, o da Nokia, faz parte da "Grande Valsa", composta em 1902 pelo espanhol Francisco Tárrega.

Hoje, a apropriação do repertório clássico pela empresa de celulares gera várias piadas. De comentários no YouTube, que dizem que o músico foi interrompido por uma ligação aos 12 segundos de gravação, à Orquestra Sinfônica Nacional do México, que usou o som familiar no início de uma apresentação para lembrar a plateia de desligar seus aparelhos.

Se você ouviu o episódio 5 de Ser Sonoro, sabe muito bem que o toque de um celular pode até virar parte da música, mas definitivamente isso não é regra. Fernando Cespedes conta, no 6º episódio do podcast distribuído por TAB, quando e por que o som ambiente começou a ser um problema.

"Na Era Romântica, a música de concerto deixou de ser entretenimento, um pano de fundo para a interação social, e passou a ser expressão máxima do espírito humano e da Arte, com A maiúsculo", explica Cespedes (ouça acima, a partir de 6:55).

Se antes disso as pessoas usavam os concertos como eventos de encontro com direito a comida, bebida e até conversa, com o Romantismo (movimento artístico e cultural, iniciado nas últimas décadas do século 18, que corresponde à ascensão da burguesia e a valores nacionais), os músicos perceberam que queriam um pouco mais de atenção àquelas sinfonias que davam um trabalhão para ficarem prontas.

"Conforme a música ficava mais complexa e séria, os compositores ficavam mais megalomaníacos e detalhistas. A egotrip da música clássica teve seu auge no final do romantismo, em 1910, quando Gustav Mahler estreou sua 8ª sinfonia em Munique, com nada menos do que 1.028 músicos no palco", relata Cespedes (ouça a partir de 7:18).

Claro que isso era ainda mais importante em uma época em que a música só existia ali, enquanto era tocada. Era impossível ouvir Mozart sem ter ido a um de seus concertos. Com a gravação, a pressão da apresentação ao vivo diminui, mas outros problemas vieram, como a limitação no tempo das faixas. Cespedes conta como as gravadoras e os músicos lidaram com essa nova fase, em que a música começou a viver isolada dos outros sons do mundo — ou melhor, ficou à mercê dos sons ambientes de cada local onde é reproduzida.

Ah, e se você quiser dicas de quando pode ou não aplaudir em um concerto e ainda ouvir a história de como Richard Wagner foi xingado pelo seu próprio público quando resolveu assistir a uma apresentação direto da plateia, não perca o episódio completo. É só clicar no play ali em cima.

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