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Podcast sobre sons, música e o mundo da escuta


Ser Sonoro #10: de Nova York ao Morro do Alemão, batida eletrônica domina

Afrika Bambaataa, em show do quarto dia do Rock in Rio, em 2011 - Danilo Verpa/Folhapress
Afrika Bambaataa, em show do quarto dia do Rock in Rio, em 2011 Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

Do TAB

01/05/2021 04h01

Um encontro inusitado de sons entre África e Europa — ou melhor, entre Afrika Bambaataa e o disco "Trans-Europa Express", dos alemães do Kraftwerk — em 1982 mostrava a cara da música que estava despontando na época. A colagem de sons diferentes, que deu origem ao rap, ao acid jazz e até ao funk carioca, é tema do novo episódio de Ser Sonoro distribuído aqui em TAB. Ouça abaixo o episódio na íntegra.

"Cantaloop" é um dos grandes exemplos disso. Mixando sons gravados em 1954, 1964 e 1970, a música foi lançada em 1993 e provavelmente já foi ouvida por todo mundo que estava vivo no planeta Terra naquela década. O US3, grupo que fez essa mistura toda, levou um susto quando foi acionado pela Blue Note, um dos principais selos da música negra dos Estados Unidos, dona dos sons usados na mixagem.

"Quando o selo chamou os caras do US3 pra uma reunião, eles pensaram que iam ser processados por piratear a música, mas saíram de lá com um contrato para um disco e a permissão para samplear os mais de 50 anos de música do catálogo da Blue Note. Era um sinal dos tempos. Depois de 20 anos do primeiro baile do Kool Herc, o remix finalmente começou a ser reconhecido pelas gravadoras como parte do processo de criação musical", conta Fernando Cespedes no episódio (ouça a partir de 11:56).

Emprestando as batidas da drum machine digital — uma espécie de banco de sons à disposição de músicos do mundo todo criados a partir dos anos 1980 em máquinas como a TR 808, da japonesa Roland —, vários ritmos foram ganhando espaço. Sabe o funk "Rap das Armas"? Então, ele é um dos que nasceram graças à TR 808. "O funk carioca foi ter uma batida criada por aqui só em 1998, quando o DJ Luciano, da zona oeste do Rio, criou o Tamborzão. A partir dali o som do atabaque, que ecoava na paisagem sonora carioca desde a chegada do primeiro navio negreiro ao Cais do Valongo, invadiu as batidas do funk" (a partir de 13:54).

A ideia para o tamborzão, aliás, veio do Funk'n Lata, contou o DJ Luciano em uma entrevista. O líder desse grupo é Ivo Meirelles, compositor campeão do Carnaval com a Mangueira em 1986. Acontece que a escola de samba não curtiu muito a introdução do funk no samba, e o Meirelles saiu da Mangueira em 1995.

Não demorou muito para a escola verde e rosa se arrepender de esnobar a colagem. Aconteceu dois anos depois, com a vitória da Viradouro no Carnaval carioca. "A bateria do mestre Jorjão botou a Sapucaí abaixo com a batida do funk logo na abertura do desfile. E ela voltou outras vezes na forma de breque, que depois ficou conhecido como 'paradinha funk'" (a partir de 17:14).

No ano seguinte, DJ Luciano pegou sua drum machine e criou o tamborzão, primeira batida tupiniquim do funk carioca. Do Blue Note ao Morro do Alemão, da Europa à Afrika, do rap ao jazz e ao funk, a colagem de sons diferentes ou uma música nela mesma nunca dominou a paisagem sonora.

Se você quer ouvir todas essas misturas e ainda descobrir detalhes inusitados da história do som, coloque os fones de ouvido e escute o episódio completo de Ser Sonoro acima.