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'Chineses não comprariam', dizem influencers da 25 que vendem joias a R$ 7

Nada muito simples "pala não palecê poble". Nem nada muito "calo pala não sê loubado".

É com conselhos desse tipo e forte sotaque chinês que os jovens Jin Li (Paulo) e Feyping Lin (Lulu) turbinaram as vendas da PLB Importadora. A empresa cresceu quase 500% nos últimos cinco anos, segundo estimativas próprias.

A loja com sede na rua 25 de Março, no centro de São Paulo, que comercializa bijuterias e artigos religiosos no atacado, ficou conhecida pelos vídeos cômicos protagonizados pelo casal, em suas contas no Instagram e no TikTok.

Não são só jargões de venda e frases promocionais que impulsionam o conteúdo comercial para, em registros desta semana, 748 mil seguidores do Instagram e 507 mil no TikTok.

O casal da província de Fujian, ela com 28 anos e ele com 26, fazem cenas roteirizadas em que simulam brigas, pedidos de resgate para sequestro, flagras de encontros extraconjugais, vendas sem "galantia".

Até coreografias do "Chaves" entram no menu de esquetes.

'Poltuguês fofinho'

"Safado" é uma das palavras que Lulu mais usa, mesmo sem falar português fluente. "Por que tanto o 'safado'?", "Poquê fala poltuguês fofinho", ela responde.

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Lulu e Paulo fazem parte de um cenário que está ganhando plateia em São Paulo.

Os mesmos comerciantes chineses que ocupam em grande número os bairros paulistanos com vocação para o comércio estão disparando conteúdos cômicos na internet, o que se acentua agora na semana da Black Friday.

"Acho que veem os chineses como pessoas sérias e ficam surpresas que a gente está fazendo um papel engraçado, por isso que faz sucesso", diz Paulo.

Além deles, o Chefe do Benefício protagoniza o fenômeno, com 6 milhões de seguidores no Instagram.

Com o nome brasileiro Alex, ele é dono da Busca Busca, loja no Brás de importados chineses, com foco em eletrônicos e que, já pela manhã, faz formar em um pequeno shopping do bairro uma fila quilométrica.

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As redes sociais foram uma aposta, diz Paulo, que mora no Brasil desde os seus cinco anos e fala um português impecável.

"A gente queria fazer alguma coisa diferente. Algo que não precisasse gastar dinheiro. Se desse errado, qualquer coisa, a gente apagava."

No primeiro vídeo, publicado em 2022, ele sentiu muita vergonha, diz, ereto em sua cadeira em um escritório daqueles do tipo aquário.

Ao nosso redor, pelas janelas de vidro, é possível ver o interior do galpão e muitas caixas de papelão acumuladas no quarto andar de um prédio da 25 de Março.

Tanto a rua como o galpão costumam servir de locação para a própria produção artística do casal.

"Não fiz o primeiro vídeo, foi outra pessoa. Deu 60 mil visualizações em quatro horas. Entrei no segundo vídeo. Eu não queria depender dos outros, queria ser influencer da minha loja. O conteúdo já era engraçado. A gente já atuava desse jeito", conta.

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O segundo vídeo, com roteiro e direção de Lucas Pereira Lima de Sousa, RP da empresa, bateu a casa do milhão.

História de imigrante

Por trás dos vídeos e das vendas, o que se vê também é a prosperidade de uma típica família chinesa no Brasil. O pai de Paulo era um pescador que não via maneira de crescer na China do fim dos anos 1990.

Assim que Paulo nasceu, ele veio para o Brasil, porque outros países não lhe deram visto. "Não fomos nós que escolhemos o Brasil, foi o Brasil que nos escolheu", diz Paulo.

O pai de Paulo permaneceu trabalhando aqui ilegalmente sem falar uma palavra do português. Dividia com outros vinte chineses um apartamento na região da rua 25 de Março.

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Começou a arranhar a língua e criou a PLB com outros dois sócios, para então trazer a família, incluindo as irmãs de Paulo, a mãe, e ele. "Conheci meu pai quando eu tinha cinco anos", conta o empresário.

A família, porém, brigava muito e gastava muito dinheiro, diz, o que os levou ao endividamento. "Quando assumi a empresa, aos 18 anos, ela estava com uma dívida de R$ 5 milhões", conta.

"Eu tinha uma mulher e um filho e não queria deixar meu pai sozinho. Passamos muito aperto, mas aos poucos fomos pagando tudo", conta.

"Tínhamos gastos mensais de dois mil reais nessa época. A gente só comprava comida barata, coisas em promoção."

Conforme as coisas foram se acertando, o filho do casal foi para a China junto do pai de Paulo, que abriu uma nova fábrica, hoje o principal fornecedor de produtos da PLB.

Na loja, há correntes por menos de R$ 5 e anéis por R$ 7,50. Eles não vendem seus produtos na China.

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"Lá é um lugar seguro e as pessoas preferem usar ouro ou prata", diz Paulo. "Os chineses não comprariam os nossos produtos."

Feyping Lin, a Lulu, dona da importadora PLB, na cobertura da loja da rua 25 de Março, em São Paulo
Feyping Lin, a Lulu, dona da importadora PLB, na cobertura da loja da rua 25 de Março, em São Paulo Imagem: Helena Wolfenson/UOL

Casório com pagamento de dote

O casamento de Paulo e Lulu, em 2017, foi um episódio à parte. Quem apresentou as partes foram seus pais, seguindo um velho costume chinês.

Ele aprovou a escolha, "nós nos gostamos", e a família dele pagou um dote para a família dela. Quatro dias depois, estavam casados. Logo vieram ao Brasil, onde ele já morava.

Lulu saiu de uma cidade do interior, um lugar bucólico —sua casa na China tinha até patos no quintal. Havia concluído o ensino médio e estava aprendendo informática.

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Paulo se vê como uma pessoa muito esforçada.

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Imagem: Helena Wolfenson/UOL

"Quero crescer e prosperar. Eu já sofri, passei dificuldade, passei fome. Não quero mais sentir aquilo. E também quero contratar mais pessoas. Hoje a gente tem cinquenta colaboradores", conta.

Na época em que assumiu a loja, diz, eram três funcionários (além da dívida). Para ele, os brasileiros "são muito gente boa, entendem o que a gente quer".

Muita gente "não sabe o que quer para sua vida aqui, mas algumas pessoas sabem bem o que querem, e os chineses são assim", explica.

Fã de churrasco, especialmente o bife ancho, e rato de academia —ele acorda todo dia às 6h para treinar—, o empresário vive hoje de olho no Brás, onde planeja abrir um novo estabelecimento.

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Atualmente, a PLB distribui artigos para 50 mil lojas do país.

Se eles são engraçados em casa também? Nem tanto, diz Paulo. "A Lulu é gente boa. Mas quem vê ela no vídeo pode achar que ela é mais engraçada."

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