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Matheus Pichonelli

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lição da treta Felipe e Verônica: suruba em motel é coisa do passado

ménage, sexo a três - Getty Images
ménage, sexo a três Imagem: Getty Images

Colunista do TAB

17/04/2021 04h00

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O Felipe já transou em banheiro químico. Já transou em obra de vizinho. Por que não transaria na casa da Verônica, a anfitriã do Airbnb que não desconfiou das intenções do jovem que pagou uma fortuna de diária para celebrar ali seu aniversário com amigos e amigas?

A pergunta, feita pelo próprio Felipe, viralizou pelo Twitter durante a semana e lançou o jovem anônimo ao estrelato dos trending topics. O resto é história — e uma história (ainda) mal contada.

Pouco se sabe sobre eles, a não ser que a Verônica não gostou nada de saber que o rapaz e os 15 amigos transformaram sua residência, alugada através da plataforma, em um bordel. Pior: no meio de uma pandemia, como frisou a proprietária em um áudio furioso que virou meme.

Nessas horas, falta uma Marcia Goldschmidt, uma Christina Rocha — além, é claro, de legendas tipo "Ele alugou minha casa e pegou geral" — para mediar a querela, ouvir as ponderações, trazer contrapontos e colher o veredicto da plateia. A do Twitter, além de milhares de sentenças, deixou evidente que:

1- o jovem adulto não tem maturidade para discutir suruba. Toda vez que o tema aparece, o deboche que esconde o assombro transforma todo mundo em criança desfraldada que ri ao ouvir palavras como "xixi" e "pum";

2- pelo buzz, dá para imaginar o tamanho do estrago que mais de um ano de encontros escassos vai resultar nos carnavais fora de época quando sair essa vacina. Não tem Verônica que dê conta de tanto afervoramento reprimido.

3- suruba em motel é coisa do passado.

Sobre a última sentença, quem analisa a conjuntura a médio e longo prazo é um velho especialista do mercado.

"O Airbnb hoje em dia é uma baita opção", diz Michel Chamon, 33, publicitário paulistano conhecido, e já retratado por aqui, como organizador extraoficial de surubas.

Embora faça aquele alerta básico de que, em tempos de pandemia, encontros do tipo não são recomendáveis, o autor de "As Crônicas da Esbórnia", obra autobiográfica, não esconde de que lado está na treta viral. "Ouvi o áudio e achei maravilhoso. Acho que o cara tá certo. O argumento dele é maravilhoso no final."

Chamon tem lá seus motivos. Ainda estão frescos na memória os perrengues que já passou quando tentava entrar em motéis com casais de amigos e precisava ficar deitado, escondido e desconfortável, no chão do banco de trás. Isso porque, a depender do local, é cobrada uma pernoite extra a cada novo elemento nos quartos inicialmente planejados para dois. Daí a estratégia que remete à clandestinidade.

Por isso, num balanço rápido feito pelo especialista, o modelo oferecido pelas plataformas da gig economy parece tão promissor.

Chamon conta que ele e os amigos já alugavam residências, casas na praia, chácaras e áreas de lazer para encontros do tipo muito antes disso tudo virar modinha ou existir Airbnb. E que já ouviu reprimendas dos proprietários por causa dos, digamos, resíduos deixados no ambiente (a descrição das cenas não são permitidas para o horário). Ele vê o Airbnb como um manancial de possibilidades. Só não testou ainda.

Para Chamon, o motel não vai morrer assim tão fácil. Vai ser sempre uma pedida para algo mais urgente e menos rastreável. Mas quem quiser uma alternativa mais segura, com tempo para desenvolver uma experiência mais elaborada, tem agora, com a ajuda das conexões online, opções mais atraentes. Em resumo: vem mais treta por aí entre Felipes e Verônicas.

Que ninguém estranhe se, no futuro, os proprietários aderirem à sugestão do aniversariante surubeiro — que ainda não reivindicou em público a autoria do áudio — e botarem alertas nos anúncios deixando claro o que pode e o que não pode fazer entre as muitas paredes das casas alugadas pela plataforma.

Enquanto isso, segue o mistério sobre se Verônica e Felipe chegaram a um acordo que fosse minimamente bom para os dois lados após a arrelia. Permanece em aberto, por exemplo, a pergunta sobre como ela descobriu o que os convidados fizeram durante a estadia. Isso nem o Airbnb, procurado pela coluna, soube dizer. Em sua política de uso, a empresa prevê medidas cabíveis, embora não especificadas, caso as partes causem "incômodo" aos vizinhos ou usem câmeras em espaços privados.

Ainda não se sabe também se o jovem cheio de planos e amigos foi banido ou se poderá em breve celebrar outros aniversários pela plataforma.

Até o fechamento desse post, a companhia ainda apurava as circunstâncias da suposta suruba.