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'Zé Celso é o grande herdeiro da tradição modernista', diz ator Ivam Cabral
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Um extenso projeto desenvolvido pela SP Escola de Teatro colocou a Semana de Arte Moderna de 1922 no centro da cena em São Paulo. Uma das ações foi a Residência SP Modernista, que já teve a cantora Anná cantando "Tico-Tico no Fubá" e os bailarinos e coreógrafos Cláudia Nwabasili e Roges Doglas, da Cia Pé no Mundo, performando na sede da instituição, no Brás.
O calendário de atividades artísticas que incluem também a exposição "Universo Pagu", as Leituras Modernistas e a organização pedagógica do semestre escolar — que envolveu os conceitos de tradição e ruptura a partir das reflexões sobre a contemporaneidade provocadas pela efeméride.
Tudo para celebrar um dos momentos mais importantes como marco na criação de uma identidade nacional na arte, de acordo com Ivam Cabral, ator e diretor-executivo da Escola SP de Teatro.
Ele conta que a antropofagia, conceito cunhado por Oswald de Andrade para defender a absorção das referências estrangeiras e nacionais na arte brasileira, teve um forte impacto no começo da carreira de Os Satyros, companhia teatral fundada por Cabral e Rodolfo García Vázquez em 1989, vindo através da influência do Tropicalismo dos anos 1960. "Com o passar dos anos, houve uma releitura do conceito de antropofagia pelos olhos da guerra cultural que estamos vivenciando, que pode ser chamada de uma pós-antropofagia. José Celso Martinez Corrêa é o grande herdeiro da tradição modernista. Seu trabalho até hoje nos provoca e instiga a pensar sobre a arte brasileira", diz.
Em 1967, ainda durante a ditadura, Martinez Corrêa dirigiu no Teatro Oficina de São Paulo a primeira montagem da peça "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade. A obra é até hoje considerada um manifesto satírico e insurgente contra as relações de poder no país e se tornou um marco e uma referência aos artistas do tropicalismo.
Para Ivam Cabral, o melhor da cultura atualmente no Brasil ainda vem dos respiros da Tropicália. "Não à toa, a gente tem em evidência, ainda nos dias de hoje, as atuações de Caetano, Gil e Tom Zé, só para ficar em três exemplos".
A lista de herdeiros dessa transmissão é extensa. Cabral destaca os trabalhos de Emicida, Linn da Quebrada, Liniker, Johnny Hooker e até mesmo de Anitta e Ludmilla. "Acho que toda essa efervescência da cultura na periferia é fruto dos tropicalistas".
Os exemplos extrapolam a música e chegam, segundo ele, ao cinema de Andradina Azevedo, Dida Andrade, Alberto Camarero e Alberto Oliveir. "E também nas artes visuais, com Niggaz, OSGEMEOS, do trabalho da galeria Transarte, na literatura, com Vanessa Bárbara, Santiago Nazarian, Marcio Aquiles, e no teatro, com a Oficina Uzyna Uzona, a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz e Mugunzá".
Diante das (re)discussões sobre a importância da Semana de 22 em seu centenário, Cabral afirma que os modernistas, apesar de serem majoritariamente um grupo de artistas vindos da elite paulista, eles propuseram, sim, "um olhar sobre o que seria a identidade brasileira na cultura, que trazia referências não colonizadas".
"As críticas atuais à Semana de Arte Moderna estão relacionadas ao seu caráter excludente, que traz um olhar da elite paulista sobre o que seria a cultura brasileira. Existiram outras manifestações modernas em outros pontos do país, que trouxeram grandes contribuições ao debate sobre a cultura brasileira e que não estavam contempladas pela Semana de Arte Moderna. Mas, se pensarmos no momento histórico que São Paulo vivia no começo do século 20, com os grandes fluxos migratórios, a violenta transição do fim da escravidão e o processo de industrialização, a Semana de Arte Moderna foi a síntese cultural desse momento radical da sociedade paulista", afirma Cabral.
Mas o que é ser moderno hoje? "Não penso que possamos ser mais modernos. Hoje vivemos um mundo de múltiplas narrativas e disputas de espaços de poder fragmentados", responde.
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