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Bolsonarista Bruno pergunta sobre pênis de repórter. De onde vem a fixação?
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"Você tem pau?"
Foi o que perguntou o cantor Bruno, da dupla Bruno e Marrone, pouco antes de conceder uma entrevista à repórter da "Rede TV!" Lisa Gomes, uma mulher trans, em uma balada na Villa Country, em São Paulo, na sexta-feira (12).
A pergunta, criminosa e invasiva, deixou a profissional desconcertada. "Estou à base de calmantes desde sexta. Sei que a gente enfrenta preconceito a vida inteira, mas o ocorrido fez eu me sentir invadida. Para as pessoas pode parecer uma bobagem, mas não é."
Diante da repercussão, o cantor foi a público pedir desculpas pela ofensa. "Fui totalmente infantil, totalmente inconsequente", afirmou ele, depois de três dias.
A ofensa expõe a violência com a qual pessoas como Lisa Gomes precisam conviver. Revela também uma obsessão de homens como Bruno e grande elenco.
O cantor, que em 2022 declarou voto e fez campanha para Jair Bolsonaro (PL), tem em quem se inspirar.
Em maio de 2019, durante a escala da comitiva presidencial no aeroporto de Manaus, o então mandatário foi abordado por um passageiro de origem asiática que pediu para tirar uma foto com ele. "Tudo pequenininho aí?", perguntou Bolsonaro, simulando com os dedos um micropênis. O rapaz, que pouco falava português, não entendeu a piada. Mas a humilhação correu o mundo.
Em outra ocasião, conta a colunista do UOL Thaís Oyama, no livro "Tormenta", Bolsonaro apresentou o amigo e deputado Hélio Lopes ao então presidente dos EUA Donald Trump com a seguinte recomendação: apesar de negro, o integrante da comitiva tinha "bilau de japonês".
A fixação pelo pênis alheio não é a única da turma aprisionada em algum momento da primeira infância.
"Merda", "bosta" e "estrume" foram algumas das palavras mais usadas pelo então presidente na famosa reunião de 22 de abril de 2020 — aquela em que ele acusou adversários de cobiçarem sua hemorroida.
Ele também costumava constranger aliados e ministros com insinuações sobre "troca-troca", para marcar posição, e outras simulações de virilidade ao falar de si. Como quando aproveitou um discurso, em 7 de setembro do ano passado, para dizer à multidão que ele era "imbrochável".
Era a escola Olavo de Carvalho aplicada à prática da escatologia política.
Como lembrou o psicanalista e também colunista do UOL Christian Dunker, em uma entrevista recente, Bolsonaro compensava, com uma sintaxe própria, cheia de insinuações sexuais, a limitação pessoal com a necessidade de justificar o lugar que galgou.
O problema, prosseguiu, é que "a pessoa que está nesse lugar não só exerce autoridade e poder, mas sanciona um tipo de poder, uma maneira de como o poder deve ser exercido pelos outros". "O sofrimento para a população brasileira tende a aumentar porque esse tipo de uso da autoridade é um uso opressivo. Que mensagem ela passa? Se você é chefe, você pode abusar do seu empregado. Se você está em posição de poder, você pode humilhar o outro."
Dito e feito. Autorizados e identificados com essa gramáticas, muitos eleitores morreram abraçados ao mito que empoderou esse ideal de homem comum — aquele que, limitado, assustado e acovardado por tudo o que o ameaça, precisa humilhar para se impor. É o caso de Zé Neto, outro sertanejo fã do mito que não esquecia o "toba" da Anitta nem quando subia ao palco.
De vez em quando essa reivindicação de autoridade se revela, como fez o cantor Bruno, provavelmente saudoso dos tempos em que olhava para cima e via esse tipo de comportamento no poder — logo, autorizado. Não faz muito tempo, ele causou polêmica ao fazer um comentário machista na foto da influenciadora Luana Targino e, em um show em Goiânia, reclamou da vacina contra a Covid e disse que não era gado para ficar no curral.
Não é à toa que os meninos que acham graça ao falar sobre "pipi" correm para pedir desculpas dizendo que, no fim, agiram apenas de modo infantil, como crianças que não sabem o que fazem nem podem ser julgadas como adultos. Podem e devem.
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