Moria caiu.
Era noite alta quando um incêndio tomou conta dos barracos, construídos em um território isolado da ilha de Lesbos. Um grupo de refugiados discutia as medidas restritivas implementadas após o primeiro caso de Covid-19 ter sido confirmado no campo. A discussão virou briga, e a briga virou incêndio. Seis afegãos estão em prisão preventiva.
Quase 13 mil pessoas tiveram de correr do fogo para se proteger, no meio da madrugada. Incêndios eram comuns no campo, dada a aglomeração. Em março, uma garota afegã de sete anos perdeu a vida: morreu carbonizada em um contêiner.
Fugindo às pressas, deixaram para trás suas parcas provisões e passaram a vagar no asfalto, sem rumo. A polícia foi chamada para impedir que pegassem a estrada rumo a Mitilene, a capital de Lesbos.
O governo grego, sob pressão da União Europeia e dos moradores da ilha, cada vez mais revoltados com a presença dos refugiados, levou quase um mês para resolver a questão — leia-se, construir um novo campo, plantado próximo ao mar, a seis quilômetros do original. A vista da "Moria 2.0" é linda, mas as condições são as piores possíveis. A água encanada é escassa. Parte dos moradores terá água salgada sob os pés, na maré cheia. O vento que sopra do mar é inclemente.
As famílias desalojadas estão presas num limbo diplomático e humanitário. Ao contrário do resto do território grego, os refugiados de Lesbos vivem em quarentena forçada desde março por causa da pandemia. Sair do campo é terminantemente proibido. As crianças sofrem muito: apenas 9% iam à escola, antes do incêndio. Depois de um tempo, algumas crianças acabam desenvolvendo Síndrome de Resignação: a tensão e a ansiedade são tamanhas que elas entram em estado de dormência. Mal se alimentam. Só querem dormir.
Era essa a promessa de prosperidade do acolhimento europeu?