Por volta das 9h30 de um sábado outonal em São Paulo, homens de terno e sapatos bem engraxados e mulheres de salto alto e meia-calça se levantaram para cantar o hino da Independência do Brasil. Para quem não se lembrava da letra, aprendida por muitos ainda nos bancos escolares, uma legenda era projetada: "Já podeis, da Pátria filhos / Ver contente a mãe gentil [...]". Diante do canto tímido, um homem que aparentava mais de 50 anos, e que destoava do grupo ao vestir calça jeans, agitava as mãos tal qual um maestro e tentava puxar um canto mais alto, em voz exaltada.
Com a presença de "nobres" como Dom Bertrand de Orléans e Bragança, tetraneto de Dom Pedro 1º e segundo na ordem de sucessão ao trono brasileiro — fosse este um país monarquista —, o 32º Encontro Monárquico Nacional teve programação extensa em 5 de junho, "sob o leitmotiv 'Independência do Brasil: hoje, amanhã e sempre'", como dizia o convite. Incluiu palestras, mensagens de membros da família real e um almoço em uma sala do subsolo do Clube Português, um edifício baixo em uma rua calma do bairro paulistano das Perdizes.
O evento, promovido pelo "Pró Monarquia", grupo ligado à Casa Imperial Brasileira, não chegou a lotar as 60 cadeiras dispostas na sala do clube — neste dia ornamentado com três bandeiras imperiais na fachada. Uma delas, imensa. "Nunca tinha visto uma deste tamanho", comentou alegremente um participante enquanto tirava fotos com o celular.
Era preciso desembolsar entre R$ 155 e R$ 210 para prestigiar o evento. O valor mais alto incluía o almoço às 12h e, antes disso, um café, com sabor de solúvel, mas servido em bule de prata.
Para alguns, também foi preciso arcar com custos de viagem. Um casal de meia idade dirigiu cerca de 100 km de São José dos Campos (SP) especialmente para o evento. Duas mulheres, de 25 e 27 anos, embarcaram em um ônibus, que saiu da região de Itatiba, também no interior de São Paulo. A mais velha deixou o tempo todo uma bandeira imperial dobrada no colo. Preocupava-se, sobretudo, com os protocolos: "Quais são as regras? Porque no caso dos ingleses, tem muitas regras, mas aqui não sei quais são", agitava-se, ao pensar em como faria para se aproximar de Dom Bertrand.
Enquanto isso, no Telegram, no grupo "Monarquia Constitucional, SIM", com 107 membros, era compartilhado o link de transmissão ao vivo do evento. "Este é o hino do Brasil, não o hino da República, que é o da CBF também", alguém comentou, referindo-se aos versos nacionais "Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heróico o brado retumbante". Ganhou emojis de aplausos. Outro post trazia uma foto com a frase "Nós entendemos que lugar de monarquista é na política", dita por Thomas Medeiros, um dos palestrantes do dia.