Evento de monarquistas tem erro no upload, briga e só 1 minuto de príncipe
O 1° Encontro Monárquico da Ordem dos Jovens Monarquistas deveria ter acontecido às 16h30 de sábado (20). Mas o movimento que busca voltar ao poder no Brasil não conseguiu subir um vídeo no YouTube e todos tiveram que esperar até as 13h de domingo (21).
O atraso irritou a audiência. Mais precisamente, as 52 pessoas que aguardavam pela apresentação no horário anunciado. O ponto alto do evento era a participação de Rafael de Orleans e Bragança, o quarto na linha de sucessão ao trono da família imperial brasileira. Demorou três horas e dezenove minutos, mas ele finalmente apareceu no vídeo. Deixou uma mensagem de um minuto e 14 segundos para o público que o aguardava — mais ou menos 15 pessoas.
O encontro, na verdade uma série de palestras previamente gravadas, foi organizado pela Ordem dos Jovens Monarquistas. Seu canal no YouTube tem 686 inscritos. O perfil no Instagram, 1.564 seguidores. Alguns dos apresentadores que apareceram no vídeo eram realmente jovens — tão jovens que talvez o TAB não possa citar seus nomes sem autorização dos pais. Eles poderiam estar jogando videogame ou RPG, mas preferiram vestir ternos e defender a volta da monarquia.
Antes da participação de Rafael, alegadamente "príncipe", falaram sobre os benefícios da monarquia o médico Rodrigo Dias, o jornalista Eduardo Gonçalves, o professor de arte Nelmar Nepomuceno e a especialista em direito público Julia Bittencourt, entre outros com breves aparições.
Dias lembrou que, durante a Assembleia Nacional Constituinte, aberta em 1987, após mais de 20 anos de regime militar, até "grupos totalitários como a extrema-esquerda comunista tinham abertura", enquanto os monarquistas, segundo ele, precisaram convencer os deputados a derrubar a cláusula pétrea que proibia os defensores da monarquia de se organizarem em um partido.
Eduardo Gonçalves basicamente defendeu que a manutenção da monarquia teria sido melhor para os negros recém-libertos da escravidão, enquanto Júlia Bittencourt elogiou a Constituição de 1824 e disse que o Brasil poderia muito bem ter preservado alguns de seus artigos e disposições.
Atraso e treta no chat
Os problemas técnicos que impediram a divulgação do vídeo no sábado levaram a discussões no chat do YouTube. De início, os participantes enviavam mensagens como "Ave Império, Glória a Deus!" e "#vivaAçãoOrleanista". Mas as horas foram passando e muitos começaram a se preocupar com a imagem do movimento. "Os caras vão zuar pra c...", avisou o participante Leonardo Narciso. "Por que não reproduziram o vídeo na live? Foi um papelão isso aí", reclamou Luiz Carlos Estolano.
"Papelão é o que você está fazendo" e "Você é muito chato", respondeu a própria Confederação Monárquica do Brasil (pelo menos, o perfil que se apresentava como tal). "São jovens de 15 e 16 anos. É o primeiro evento que eles organizam e tem gente chata que vem encher o saco."
"Pedro" alertou para a vergonha que o movimento iria passar se Felipe Neto estivesse assistindo. O nome do youtuber foi mencionado algumas vezes. Parece que os jovens monarquistas nutriam grande receio de que ele os descobrisse incapazes de subir um vídeo na plataforma. "Vergonha é ter monarquistas como vocês, que tacam pedra por um imprevisto", rebateu o perfil da Confederação Monárquica.
"Minha gente, tira isso do ar? Vai ficar chato essa discussão aí pra eternidade", pediu Gustavo Henrique.
'Cuidado com a esquerda'
Rodrigo Dias foi o primeiro a falar no vídeo. Ele traçou um histórico do movimento monarquista, pediu para seus membros tomarem cuidado com a esquerda e lembrou de sua participação nas "manifestações contra o governo totalitário de Dilma Rousseff". Chamou o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) de "grupo terrorista" e apresentou a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) como "defensora da monarquia".
Também mostrou uma foto em que membros do movimento carregam faixas com a frase "Dos 10 países mais democráticos do mundo, 6 são monarquias" e "Dos 10 países mais prósperos do mundo, 8 são monarquias".
"É importante trazermos dados científicos", comentou Dias sobre os números.
Negros monarquistas
Eduardo Gonçalves contou a história da Guarda Negra da Redentora, instituição formada por ex-escravizados para defender a liberdade que (teoricamente) acabavam de conquistar, com a imagem da Princesa Isabel, a autora da Lei Áurea, como heroína. Toda a apresentação transcorreu em torno da ideia de que os republicanos eram os verdadeiros inimigos.
"A ascensão da República desmantelaria todos os feitos históricos com medo de que ocorressem novamente motins contra a imposição do novo sistema de governo no país que amava D. Pedro e toda sua corte", dizia um dos slides mostrados por Gonçalves.
"O movimento negro que existe hoje busca conteúdos estrangeiros para mostrar que os negros daqui são como os dos Estados Unidos, mas não é bem assim", disse Gonçalves. "Aquele movimento lá? 'Live Black Matters'...não sei falar direito porque não sou de falar inglês? O 'Vidas Negras Importam', fica trazendo esses conteúdos externos para o nosso cotidiano. Mas o Brasil é um país miscigenado. Temos todas as raças, povos e culturas unidos, não ocorreu como nos Estados Unidos", completou.
"Ser negro e monarquista nos dias de hoje demanda muita força e garra. Todas as vezes que os haters e esquerdistas podem nos atacar com palavras que ferem nossos intelectos, eles não perdem a oportunidade", dizia outro slide. A apresentação terminou com uma lista de negros que hoje estão à frente de movimentos monarquistas.
'Liberdades garantidas'
Júlia Bittencourt explicou que a Constituição de 1988 é chamada de "constituição cidadã" por dar muitos direitos aos cidadãos, o que considera uma "coisa boa". Para ela, porém, "a Constituição de 1824 não ficava atrás. Dava muitos direitos e era até mais ampla que a atual".
Júlia seguiu defendendo a antiga constituição. Ela a considera muito organizada e avançada para a época. Explicou que o texto de 1824 previa que o Imperador suspendesse um juiz, mas ele não poderia expulsá-lo ou demiti-lo. "Ou seja, o Imperador não podia fazer o que bem entendia", disse, ao completar o raciocínio.
"Falam que o Império era retrógrado e atrasado. Mas é só pegar a constituição da época, que garantia liberdades para o indivíduo, para ver que era muito avançado. A monarquia trouxe desenvolvimento para o nosso Brasil", concluiu.
A escravidão vigorou durante quase toda a vigência da Constituição de 1824.
D. Rafael, o breve
A brevíssima participação de Rafael de Orleans e Bragança, ao final do evento, fez com que mensagens como "Glória à volta do Império" e "Viva o legado de D. Pedro 1º" surgissem no chat.
"As atuais circunstâncias impedem que nos encontremos presencialmente, mas estou certo de que não faltarão oportunidades no futuro. Cada vez mais jovens aderem à causa, e me enche de esperança ver uma juventude tão corajosa defendendo e propagando os ideais de que o Brasil tanto precisa", disse o príncipe.
Nem todos, entretanto, ficaram satisfeitos. "Nem f... Esperei quatro horas e meia pra isso?", desabafou um espectador.
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