Reza a lenda que, no futuro, o mundo se dividirá entre dois tipos de pessoas: as que podem viver por tempo indeterminado e as que morrem.
Movimento ideológico e filosófico que busca maneiras de transcender a condição humana através de tecnologias como a bioengenharia, a robótica, a nanotecnologia ou mesmo a inteligência artificial, o transumanismo busca a amplificação do corpo e da mente humanas, seja na forma de um corpo que "performe melhor" ou, em última instância, no prolongamento indeterminado da existência. Seus maiores entusiastas e pesquisadores são norte-americanos.
O transumanismo é também a face mais tecnológica do darwinismo social. O filósofo Francis Fukuyama defende que o transumanismo é uma das ideias mais perigosas do nosso século: enquanto as tecnologias de longevidade e amplificação permanecerem acessíveis apenas à parcela mais privilegiada da população mundial, estaremos fadados a uma desigualdade social ainda maior do que a atual.
Segundo o IBGE, a expectativa de vida do brasileiro em 2018 era de 76,3 anos, mas essa é uma média que contempla desde pessoas que ultrapassam os 100 anos até pessoas que têm uma expectativa de apenas 35, como é o caso da população transexual. Em outras palavras, para se alcançar a idade avançada, é preciso mais do que saúde e bem estar: é preciso ter condições financeiras e sociais.
Pesquisadores como o gerontólogo britânico Aubrey De Grey, autor do livro "O fim do envelhecimento", falam sobre a hipótese da "velocidade de escape da longevidade", isto é, uma situação hipotética na qual a expectativa de vida supera a passagem do tempo: em vez de envelhecermos com o passar dos anos, seríamos capazes de nos manter não apenas saudáveis, mas também jovens. Afinal, apesar de as causas do envelhecimento ainda serem um mistério para os cientistas, as principais teorias apontam que o processo decorre do acúmulo de danos gerados em nosso corpo que, em determinado ponto, já não consegue mais reagir em reversão.
Com o sequenciamento do genoma humano e a descoberta de técnicas de edição genética, como é o caso da CRISPR, novos tratamentos em biologia molecular prometem não apenas curar doenças, mas também atuar como terapias antienvelhecimento e, portanto, extensoras da vida. É o que De Grey está buscando em seu instituto de pesquisa SENS, bem como o que Elizabeth Parrish está fazendo com sua empresa BioViva e o que o Google pesquisa em seu projeto Calico. Mas a via da engenharia genética não é a única — e isso aumenta a cartela de atuação dos gurus do Vale do Silício.