O que a inspiração punk do SXSW pode ensinar ao Brasil
"Crie a sua própria cultura." Essa é a mensagem de Louis Black, um dos quatro fundadores do South by Southwest (SXSW), uma das principais conferências do mundo sobre inovação e cultura, que ocorre anualmente em Austin, nos Estados Unidos.
Pode parecer otimista demais à primeira vista, mas quem ouve Black falar percebe logo a confiança de quem acredita no que diz e deseja que os outros cresçam como ele cresceu. E é fácil entender o porquê.
Como quem ainda está incrédulo, ele contou diversas vezes que a pequena conferência de música criada em 1987 fora do eixo Nova York - Los Angeles conquistou o mundo. "Nós criamos nossa própria cultura. Nós trouxemos o mundo todo a Austin, no Texas", disse em palestra no Rio2C, que acontece esta semana na capital fluminense. Começou com um encontro de 700 pessoas e, hoje, o evento vai bem além da música ao englobar também a indústria cinematográfica e inovação, com centenas de milhares de participantes de diversos países.
Mas as raízes não se perderam. O SXSW nasceu punk, e o do it yourself segue na ponta da língua de Black. "No punk não há diferença entre quem está na plateia e quem está no palco." Todo mundo tem espaço para criar. Dos anos 1980 para cá, é fácil perceber como isso ficou mais simples com a internet e, depois, as redes sociais. "Temos acesso à criatividade como nunca tivemos antes. Qualquer um em qualquer lugar consegue fazer qualquer coisa. Você não precisa estar em Nova York ou Londres."
Ele recomenda que o Brasil olhe um pouco menos para fora e se concentre mais em valorizar o que vem daqui. Cinema Novo e Bossa Nova são apenas dois exemplos do que o país é capaz de produzir. "É hora de pegar essa cultura de volta para vocês. Vocês criaram por tanto tempo e isso está sendo explorado em outros lugares." Mas então o que falta? Olhar para o lado business da coisa.
Ainda em tom otimista - ok, até um pouco idealista - Black garante que um dos motivos do sucesso do SXSW é a cooperação na hora de transformar cultura em negócios. Se o foco deixa de ser a competição e passa a ser a colaboração, todo mundo cresce junto. Até numa cidade antes desconhecida no Texas, como Austin, ou num país que procura reconhecimento internacional e investimento interno em sua produção cultural, como o Brasil.
Encontros de criatividade têm papel fundamental nessa mudança, segundo ele. "Quanto mais você conhece os negócios, mais controle tem sobre a parte criativa, e quanto mais você entende o lado criativo, vai para casa e percebe que você controla o futuro, que ele não é criado em nenhum outro lugar. É criado no seu coração, no seu cérebro."
Além da inspiração punk, ele cita o country e o rap como dois dos maiores exemplos de que a cultura pode nascer em qualquer ambiente. Se o rap foi criado no Bronx e o country veio da classe trabalhadora, Black está ansioso para descobrir o que vem das favelas brasileiras, principalmente na música.
E todo mundo precisa ficar atento. Prestar atenção ao que está sendo produzido, trocar ideias e não julgar a cultura que vem do outro são as principais dicas. "O motivo pelo qual eu estou aqui é porque nós tivemos essa ideia de que nós éramos a cultura, que nós éramos a arte. Que ela não era criada em Londres, em Nova York ou em Los Angeles. Mas que nós, o povo, poderíamos construí-la. De que se a gente conversar e aprender uns com os outros, dá para mudar o mundo."
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