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Ser Sonoro #4: das lavadeiras aos marinheiros, trabalhadores sempre cantam

Lavadeiras na margem do rio Ikopa, em Antananarivo, capital de Madagascar - Thomas Mukoya/Reuters
Lavadeiras na margem do rio Ikopa, em Antananarivo, capital de Madagascar Imagem: Thomas Mukoya/Reuters

Do TAB

30/01/2021 04h01

Das lavadeiras à beira do rio aos escravizados nas plantações de cana-de-açúcar, passando pelos estivadores portugueses nos navios vindos da África e pelas prisões dos EUA, praticamente em qualquer lugar onde se viam trabalhadores, ouvia-se música.

As batidas ritmadas ajudavam a içar as velas de uma embarcação, a arar o solo para o plantio, a cortar a cana do pé. "O ritmo é a chave para entender por que a humanidade trabalha cantando, desde que a gente inventou o trabalho. O único jeito de levantar uma âncora de centenas de quilos é se todos puxarem ao mesmo tempo. A vela do navio só vai abrir por completo se ambas as pontas subirem ou descerem juntas, e a roda da moenda só gira se todos empurrarem ao mesmo tempo", diz Fernando Cespedes no podcast Ser Sonoro (ouça abaixo partir de 11:03).

No 4° episódio distribuído por TAB, o comunicador especialista em estudos do som nos leva ao Brasil colonial, à África dos escravizados e às prisões dos Estados Unidos para mergulharmos nas canções que não só ajudavam a regrar o dia a dia dos trabalhadores, mas também serviam de código secreto entre eles.

"Nos campos de trabalho forçado das Américas, as canções de trabalho protegiam os idosos e aqueles em pior condição física de serem castigados por trabalharem devagar, já que era ela que ditava o ritmo das tarefas nos engenhos e nas plantações. Se alguém não conseguia seguir o ritmo de trabalho, bastava cantar mais devagar e o grupo todo se adequaria ao passo dos mais lentos, sem que os guardas percebessem", conta Cespedes (a partir de 9:48).

Por outro lado, algumas músicas ajudavam a marcar com clareza quem mandava e quem obedecia. Canções de pergunta e resposta, que seguem inspirando ritmos até hoje, faziam essa diferenciação. "Se a música cria sempre um lugar para si própria, como a gente tem visto por aqui, era para lá que os trabalhadores fugiam, pelo menos em espírito e pensamento, durante as longas jornadas de trabalho. Mas aquele era um lugar apertado: a maioria só respondia, repetindo os refrões das músicas. (...) Quem perguntava, até pelo status social, tinha alguma liberdade para improvisar. Mas quem respondia não tinha esse privilégio" (a partir de 4:20).

Hoje, boa parte do mundo do trabalho foi tomada por máquinas que, se não substituíram os trabalhadores, obrigam-nos a calar, e muitas vezes até os deixam surdos. Mas será que a tradição das canções sumiu por completo na labuta? Ouça o episódio completo para descobrir e mergulhar nos sons do passado e do presente.

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