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Mão de pedra e duro na queda: irmão de Popó quer treinar Whindersson Nunes

Popó e Luís Cláudio Freitas, seu irmão, antes da luta contra Whindersson Nunes em Balneário Camboriú (SC) - Arquivo Pessoal
Popó e Luís Cláudio Freitas, seu irmão, antes da luta contra Whindersson Nunes em Balneário Camboriú (SC) Imagem: Arquivo Pessoal

Luiz Felipe Fernandez

Colaboração para o TAB, de Salvador

03/02/2022 04h01

Foram cinco minutos percorrendo de carro o luxuoso condomínio Parque Encontro das Águas, em Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador, até a reportagem do TAB chegar à residência de Acelino Freitas, o Popó.

O lutador abriu sua casa à imprensa na terça-feira (1º) para celebrar a luta contra o humorista Whindersson Nunes, realizada no último domingo (29) em Balneário Camboriú (SC). O evento, marcado para às 19h, fora divulgado horas antes. Popó apareceu por volta das 20h.

As casas do Encontro das Águas são avaliadas em até R$ 12 milhões. Algumas têm cercas vivas e jardins a perder de vista. Outras, sem muros ou barreiras, logo transportam o visitante a um mundo paralelo, aparentemente seguro e tranquilo. O lugar, pelo menos na imagem, é o extremo oposto da violência urbana de Salvador. A mesma que vitimou o sobrinho do pugilista baiano, morto aos 17 anos em 2021.

Antes de Popó aparecer para conversar com os jornalistas (três veículos de comunicação e duas páginas de internet sobre boxe), andava de sandálias pelo pátio Luís Cláudio Freitas, 54, pai do jovem Nijalma Freitas, assassinado na porta de casa, no bairro da Baixa de Quintas, onde toda a família Freitas foi criada.

O crime, ainda sem solução, completou nove meses no último dia 24 — semana em que Luís Cláudio intensificava a preparação de Popó para seu retorno aos ringues.

Trajado com a camisa branca que uniformiza os treinadores de Popó, ele é um dos responsáveis pelo sucesso estrondoso do irmão nos anos 1990 e 2000. Luís Cláudio estava no córner do irmão na luta contra Whindersson. Seria impossível não saber que se tratava de um dos Freitas. São muito parecidos.

Mal iniciou a conversa com a reportagem de TAB e já apresentou a esposa, Sandra, com quem vive há 37 anos. Sentado num sofá largo e confortável, distante da caixa de som que reproduzia o axé tocado por uma banda ao vivo, à beira da enorme piscina, Luís Cláudio lembrou do filho logo na primeira frase.

"Temos 37 anos juntos, são seis filhos, três mulheres e três homens, um mataram agora, né? 17 anos", disse, antes de cair em lágrimas, emocionado. "A DHPP [Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa] está investigando, mas está nas mãos de Deus, né? É como se fosse um pedaço da gente que foi embora."

Com mais de 20 lutas no cartel, hoje instrutor de boxe e dono da academia Popó Mão de Pedra, Luís Cláudio nunca imaginou ser nocauteado daquela maneira. Nijalma morreu com dinheiro na carteira para comprar uma aliança para a namorada

"Foi na minha frente e eu não pude fazer nada. Se eu tivesse uma arma na hora, teria atirado", admite o treinador, que teve sua história e relação com Popó contadas na série "Os Irmãos Freitas", de 2019, dirigida por Sérgio Machado e Aly Muritiba.

Enquanto Sandra exibia fotos e vídeos do jovem cheio de talentos, o ex-atleta da seleção brasileira dizia que preferia não reviver as recordações. "Parece que ele ainda está vivo", justificou-se, contando que presta sua homenagem visitando o cemitério onde o filho foi enterrado.

Luís Cláudio (de boné, à esq.) e Popó, antes da luta contra Whindersson Nunes em Balneário Camboriú (SC) - Caio Florentino/UOL - Caio Florentino/UOL
Luís Cláudio (de boné, à esq.) e Popó, antes da luta contra Whindersson Nunes em Balneário Camboriú (SC)
Imagem: Caio Florentino/UOL

Humildade familiar

Por volta das 22h, os poucos jornalistas presentes se posicionaram para dar início à coletiva. Popó brincou, pediu uma cadeira e respondeu pacientemente às perguntas. O campeão mundial fez elogios à dureza e coragem de Whindersson e reconheceu que segurou a mão para que o espetáculo durasse até o fim. Afinal, o personagem principal era o próprio youtuber. Mesmo ciente da sua grandeza no esporte, Popó se rendeu à dimensão alcançada pelo influencer nordestino com mais de 57 milhões de seguidores no Instagram, e agradeceu ao esforço e "humildade" do nordestino.

De humildade, a propósito, Luís entende. Em determinado momento, parou de falar do filho e perdeu um tempo falando do passado de pobreza, quando pulava a cerca do vizinho para roubar frutas e se esquivar da fome — necessidade de onde surgiu a força e a determinação que simbolizam a família.

"Hoje os melhores atletas estão parando de trabalhar para ganhar dinheiro. Eu dei sorte. Atrás da minha casa tinha sítio com todo tipo de fruta, algumas que vocês nunca ouviram falar. Abricó, conhece?", narrou, antes de descrever o fruto.

O treinador Luís Cláudio Freitas, irmão de Popó, na casa do boxeador em Lauro de Freitas, na terça-feira (1) - Larissa Valtrudes/UOL - Larissa Valtrudes/UOL
O treinador Luís Cláudio Freitas, irmão de Popó, na casa do boxeador
Imagem: Larissa Valtrudes/UOL

Lutador abstêmio

Mais alguns minutos e a conversa foi interrompida por um garçom servindo cerveja. Prontamente, Freitas respondeu que não bebia.
Não foi diferente na noite do último domingo, após o empate simbólico de Popó com Whindersson. Com a presença de artistas e personalidades, a noitada celebrava o evento que arrecadou R$ 25 milhões. Naquele dia Luís Carlos aguardou o jantar, fez seu prato e se retirou, antes de ouvir uma homenagem do irmão a ele.

"Durmo cedo. Às 20h, 21h, já estou dormindo. Fico um pouco [nas festas], depois vou dormir. Agora na luta, quando vi que o bicho tava pegando, fiz meu prato e saí. O Popó é mais ambientado. Quando ele me chamou no microfone, eu já estava no segundo ou terceiro sono."

Acostumado a uma vida de treino duro e pouca distração, Luís utilizava o plural quando falava das conquistas no esporte. Juntos, ele e Popó conseguiram um feito único, sendo campeões em um mesmo torneio Pan-Americano.

Ele sabe que o esporte não lhe deu o sonhado título mundial, nem o fez rico, mas garante ser realizado com o cinturão do irmão, que o ajudou a construir sua casa e a academia no bairro onde cresceram.

Nos últimos anos, foi presenteado com pelo menos quatro carros, o último deles "hidramático" [sic], modelo avaliado em mais de R$ 100 mil — que não pretende dirigir por medo de machucar os outros.

Essa preocupação, que parece coisa de família, também foi a sorte de Whindersson. O influencer andou para frente, foi aguerrido, mas só não foi nocauteado por opção de Popó, garante o treinador. O objetivo era prolongar a festa e aumentar a repercussão do evento, o que deu certo. Após apelo de Whindersson, Popó saltou de 400 mil para mais de 3 milhões de seguidores em seu perfil no Instagram.

É essa visibilidade que Luís Cláudio quer aproveitar para si. Ele deve acompanhar Popó nos próximos projetos, um deles o desafio ao ex-campeão do UFC José Aldo, em uma possível luta combinada de boxe.

Mas seu desejo mesmo é poder ajudar a treinar Whindersson na luta contra o youtuber norte-americano Logan Paul. "Estou para falar com Whindersson. Sei que ele tem uma ótima equipe, mas eu quero treiná-lo. Vi Logan lutando, sei pegar nas falhas", afirmou. Nos bastidores em Balneário Camboriú (SC), contou que o humorista o abraçava muito, falando da série que assistiu sobre os dois irmão.

O feedback do cliente — no caso, Popó — é o melhor possível. "Grande treinador, com 40 anos de história no boxe...", elogiou Popó na coletiva de imprensa.

Na tentativa de dar novo sentido à vida após perder o filho, Luís Cláudio apela para que Whindersson se interesse pela proposta. Campeão brasileiro em duas categorias e de torneios na América Latina, ele confia que pode fazer da luta entre Whindersson e Popó a chance perfeita para redefinir-se. "Whindersson, meu irmão, estou esperando essa oportunidade. Vou te preparar igual preparei meu irmão. Se eu te treinar, você ganha", promete.