Ricardo Barros diz defender empresa para garantir 'livre concorrência'

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O deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) disse que defendeu interesses da financeira Sudacred junto ao Banco Central e a bancos comerciais por ser "uma empresa paranaense que buscou o apoio para assegurar sua capacidade de concorrência no setor que atua".
Como o UOL mostrou, a Sudacred é acusada de fazer descontos indevidos de aposentados, via débito automático. O sócio majoritário da empresa, Luciano Fracaro, também foi condenado por integrar organização criminosa que lesava idosos —ele recorreu.
Barros solicitou e participou de reuniões no Banco Central, na Caixa e no Banco do Brasil para defender interesses da Sudacred. Também telefonou para um dos cinco maiores bancos privados do país com o mesmo objetivo.
Os bancos estudavam limitar os débitos automáticos da Sudacred, após reclamações de clientes sobre cobranças não reconhecidas. Nas reuniões, Barros e a financeira buscaram evitar que isso ocorresse.
"Luciano Fracaro é meu amigo. Um empresário paranaense que tem conseguido avançar no aprimoramento da regulação do setor financeiro para garantir a livre concorrência", respondeu o deputado, ao ser perguntado sobre qual é sua relação com Fracaro.
As ações de Barros em nome da Sudacred ocorreram entre 2022 e 2025. Nesse período, ele foi deputado federal - e líder do governo de Jair Bolsonaro na Câmara —e secretário da Indústria, Comércio e Serviços do Paraná, no governo de Ratinho Júnior (PSD).
No caso do Banco Central, Barros disse que "o objetivo das reuniões era de garantir o aperfeiçoamento no processo regulatório setorial, no que a Sudacred foi bem sucedida e continuará buscando mais avanços".
Já no caso dos bancos comerciais, a atuação de Barros visou "garantir a livre concorrência e a manutenção dos empregos gerados pela Sudacred no Paraná", informou o deputado.
Barros também afirmou desconhecer as decisões judiciais que condenaram as empresas de Fracaro e o próprio empresário.
O que diz a Sudacred
A Sudacred afirma que "sua atuação é 100% regular". A empresa realiza cobranças de seguros supostamente vendidos por outras empresas do grupo, como a seguradora Sudaseg.
"O grupo Sudaseg/Sudacred possui mais de três décadas de experiência no mercado financeiro com cerca de 180 mil clientes, e mantém compromisso com a transparência, a ética e a responsabilidade junto aos seus clientes".
Como o UOL mostrou, a seguradora Sudaseg se expandiu rapidamente pelo país. O pagamento de sinistros - quando o seguro é acionado pelo cliente —é de menos de 3% do valor recebido em apólices. A média do mercado é de 42%.
"O crescimento da Sudaseg nos últimos anos decorre do processo de gestão eficiente, com práticas internas sólidas e pautadas em processos técnicos, de conformidade regulatória e de governança. Reflexo da confiança dos clientes e parceiros na solidez da empresa", diz a empresa, em nota ao UOL.
"Quanto à sinistralidade, a Sudaseg atua com seguros individuais, com uma carteira diversificada de clientes de 18 a 85 anos. Ao mesmo tempo em que oferece apólices para públicos de maior risco — como policiais militares —também atende perfis de risco mais baixo, como professores, trabalhadores ativos e jovens. Essa amplitude gera equilíbrio e sustentabilidade à empresa", acrescenta.
Sobre a vida de luxo que Luciano Fracaro exibe nas redes sociais, os advogados da Sudacred afirmaram que o "patrimônio é fruto de uma trajetória de trabalho e dedicação".
"Luciano Fracaro é empresário há cerca de 30 anos, foi emancipado aos 16 anos após o falecimento do pai para assumir a empresa da família. Luciano Fracaro possui atuação sólida nos mercados de seguros e serviços".
Em relação à defesa dos interesses da Sudacred por Ricardo Barros, a empresa diz que "atua com o apoio de lideranças com trânsito em Brasília e nos Estados, capazes de auxiliar na interlocução junto aos órgãos reguladores e demais instâncias de decisão. Trata-se de uma prática legítima e comum no sistema democrático".
"Em relação ao deputado federal Ricardo Barros, a direção da empresa procurou-o para buscar auxílio em demandas junto a órgãos federais e instituições regulatórias e financeiras com o objetivo de assegurar livre concorrência no mercado, o fortalecimento das instituições financeiras de menor porte e a modernização do arcabouço regulatório".
Sudacred critica atuação dos bancos
Ainda em nota ao UOL, a Sudacred criticou a decisão de alguns bancos de restringirem os débitos automáticos da empresa, após reclamações de clientes.
"Os bancos mantiveram os estoques de clientes já vinculados à Sudacred [e que eram cobrados via débito automático], garantindo os direitos adquiridos. Alguns, porém, passaram a impedir novas inclusões [de clientes], mesmo quando essas solicitações são formalmente reconhecidas e autorizadas pelos clientes por meio de gravações de áudio", diz a Sudacred.
"Esse tipo de restrição, na avaliação da empresa, infringe as normas do Banco Central e do Conselho Monetário Nacional e os princípios constitucionais de liberdade de comércio e de escolha do consumidor", acrescenta.
"A empresa tem buscado com frequência interlocução com o Banco Central com o objetivo de colaborar para o aprimoramento e modernização das normas que regem o setor e suas atividades", afirma a empresa.
"A Sudacred reafirma que busca aperfeiçoar a qualidade de seus serviços, em linha com as exigências legais e regulatórias, e entende que a solução deve estar no fortalecimento da regulação e no cumprimento da lei, e não na imposição de proibições que desequilibram a concorrência e penalizam o consumidor final."
Na última quinta-feira, o Banco Central ajustou as regras do débito automático, determinando que os bancos peçam autorização de clientes para cobranças como as feitas pela Sudacred, em nome de terceiros.
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