Só para assinantesAssine UOL

Voo com família de Beto Louco foi marcado três dias antes de operação da PF

O piloto de aeronaves Mauro Mattosinho contou em entrevista ao ICL Notícias que um voo com integrantes da família do empresário Roberto Leme, o Beto Louco, acusado de operar uma rede de lavagem de dinheiro do PCC, foi marcado três dias antes da mega-operação da Polícia Federal e do Ministério Público de São Paulo que revelou o esquema da organização criminosa.

Mattosinho trabalhou na TAP (Táxi Aéreo Piracicaba) entre novembro de 2023 e setembro deste ano. O piloto afirma ter transportado ao menos 30 vezes Beto Louco e Mohamad Hussein Mourad, o Primo. Ambos são apontados como líderes do esquema que atendia ao PCC e estão foragidos da Justiça.

Procurada, a defesa de "Primo" informou que não irá se manifestar. Já o advogado de "Beto Louco", Celso Vilardi, não retornou os contatos.

Realizadas simultaneamente, as operações Operação Carbono, do MP-SP, e Quasar e Tank, da PF, foram deflagradas no dia 28 de agosto, uma quinta-feira. As investigações têm como foco um suposto esquema de fraudes bilionárias fiscais no setor de combustíveis e o uso ilegal de fundos de investimentos da Faria Lima.

No dia 25 de agosto, uma segunda-feira, Mattosinho afirmou que foi avisado em um grupo interno da TAP, que a família de Beto Louco havia marcado um voo para o Uruguai no dia 27 de agosto, véspera da deflagração das 3 megaoperações.

O ICL Notícias apurou que tanto a PF quanto o MP-SP têm certeza de que houve vazamento de informações sobre a ação, o que teria possibilitado a fuga de suspeitos. Uma investigação foi aberta sobre o assunto.

"Na segunda-feira, eu enviei uma mensagem no grupo perguntando se haveria algum voo previsto e me foi respondido que haveria um Punta del Este na quarta-feira. Não me foi dito quem era. Eu soube quem eram os passageiros na própria quarta-feira quando eu me dirigi ao aeroporto e olhava a documentação de voo", contou Mattosinho.

Segundo ele, o voo partiu do aeroporto Catarina, localizado em São Roque, no interior paulista. O jato utilizado foi o de prefixo PR-SMG e tinha como passageiros sete integrantes da família de Beto Louco. A reportagem teve acesso à lista de passageiros.

"O clima durante o voo era de tensão e abatimento entre os passageiros", afirma o piloto."A família do Roberto é uma família de pessoas muito amáveis. E naquele voo, especificamente, eu percebi que a família estava abalada", relata.

Continua após a publicidade

De acordo com Mattosinho, os familiares de Beto Louco ficaram hospedados em um hotel na cidade de Punta Del Este. Ele afirma que Beto Louco não voou em sua aeronave, tampouco foi visto no período em que ficaram na cidade uruguaia.

A volta para o Brasil ocorreu em 31 de agosto, um sábado, quando agentes da PF abordaram a tripulação e os passageiros. Havia a suspeita de que Beto Louco estivesse presente.

"Ao longo do período em que estive em Punta del Este, as notícias começaram a circular com muita intensidade. Os nomes apareceram no jornal, inclusive o nome do Roberto, e, embora aquilo não tenha me causado exatamente surpresa, entendi a situação que a família estava passando ali", contou Mattosinho.

A TAP informou, por meio de nota, "desconhecer qualquer declaração atribuída a funcionário sobre aquisição de aeronaves" e atuar "em observância à lei".

A empresa afirmou que "não tinha conhecimento do envolvimento de investigados na Operação Carbono Oculto até sua deflagração".

"Por fim, não pode fornecer informações sobre clientes ou passageiros sem autorização destes ou por requisição das autoridades competentes", acrescentou.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.