Brennand na cadeia: isolamento, exigências e briga com lutador
Thiago Brennand teve passagem conturbada pelo Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.
O UOL entrevistou quatro pessoas que acompanharam os 13 meses de Brennand no CDP. As identidades serão mantidas em sigilo.
Tido como "muito complicado" e "bipolar" segundo as fontes ouvidas, Brennand exigia comida diferente e tratava mal tanto os funcionários do presídio como os próprios advogados. Ele também se envolveu em uma briga.
Brennand ficou um mês na chamada "cela de inclusão", isolado dos outros detentos, quando foi extraditado dos Emirados Árabes para o Brasil, em 3 de maio de 2023.
Um mês depois, foi transferido para a cela 502, onde permaneceu sozinho a maior parte do período.
A reportagem procurou os escritórios de advogados que defendem Thiago Brennand, mas não obteve resposta.
O empresário, detido provisoriamente desde maio de 2023, foi transferido em 26 de junho para a Penitenciária de Tremembé (SP).
Brennand responde a pelo menos sete processos judiciais. As acusações são de crimes como estupro e agressão.
Ele já foi condenado em primeira instância em três casos — um deles confirmado em segunda instância —, aos quais recorreu e aguarda novas decisões.
Briga de jiu-jiteiros
As fontes ouvidas pelo UOL afirmam que Brennand se envolveu em uma briga no CDP no início de junho último.
O empresário discutiu com o tricampeão mundial de jiu-jítsu Erberth Mesquita. Brennand também é lutador da modalidade.
Mesquita está preso em São Paulo por suspeita de roubo, ameaça e estupro.
Os dois se encontraram no parlatório, onde os detentos recebem a visita dos advogados.
Brennand havia pedido a Mesquita que o cumprimentasse com uma saudação comum na arte marcial. O gesto é considerado uma demonstração de respeito entre atletas.
Erberth teria se negado e isso levou à discussão. Brennand teria agredido o lutador com uma cadeira, na frente de seus próprios advogados.
Testemunhas afirmam que detentos e funcionários da unidade precisaram apartar a confusão.
A direção do CDP, no entanto, não registrou o episódio nem puniu os envolvidos.
O UOL apurou que os advogados de Brennand conversaram com a direção e combinaram que o empresário seria atendido no parlatório sozinho.
Brennand já podia estar na penitenciária do interior paulista desde a condenação em primeira instância, mas a briga com Mesquita foi a gota d'água para que os advogados o convencessem a pedir transferência para Tremembé.
Uma das fontes disse à reportagem que o dinheiro e os advogados à disposição de Brennand inibiam reclamações contra ele.
Procurada, a defesa do lutador Erberth Mesquita não quis se manifestar.
Cela afastada
Segundo relatos, Brennand nunca quis se aproximar dos outros presos na cadeia de Pinheiros. A justificativa era que ele se considerava intelectualmente superior aos demais detentos.
O UOL apurou que Brennand foi o primeiro preso a ficar na cela 502, inaugurada pouco tempo depois da chegada dele ao CDP.
A cela de Brennand fica afastada dos outros quatro pavilhões, segundo relatos ouvidos pela reportagem.
"Ela fica perto de uma escola, próximo a uma muralha. Lá tem duas celas pequenas. Uma era dele, com banheiro e área para tomar sol, com grade, e um guarda 24 horas de plantão."
Brennand também exigia a visita diária dos seus advogados: um pela manhã e outro à tarde.
Os funcionários "já não aguentavam mais", porque aquilo atrapalhava o funcionamento do CDP, segundo fontes.
A reportagem enviou perguntas à Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) de São Paulo sobre os episódios.
Em nota, a pasta informou apenas que "até o momento, não há registro de ocorrência disciplinar envolvendo o detento em questão" nem no CDP de Pinheiros nem em Tremembé.
A SAP também disse que, ao entrar no CDP, Thiago Brennand "solicitou uma medida de segurança pessoal, disponível a todos os internos e prevista" em regimento padrão.
"Desta forma, foi alojado no referido pavilhão da unidade, em cela contígua que permitia banho de sol juntamente com outro custodiado", explica a secretaria.
Transferência
Em 5 de julho, Brennand encerrou o período de isolamento em Tremembé, que é um procedimento padrão de ingresso na unidade. O empresário agora está em cela comum, com outros presos.
Na última quinta-feira (11), a sexta Vara Criminal da Capital do Tribunal de Justiça de São Paulo concedeu ao empresário um habeas corpus pelo caso de agressão à modelo Helena Gomes, ocorrido em 2022.
Apesar do alvará, ele continua em Tremembé porque tem mais duas condenações que, somadas, dão quase 20 anos de prisão.
No dia anterior, a Justiça havia mantido a condenação de Brennand neste mesmo caso, com pena de 1 ano e 8 meses de prisão.
Os desembargadores, no entanto, reduziram a reparação civil à vítima de R$ 50 mil para R$ 20 mil.
Também foi mantida a absolvição dele pelo crime de corrupção de menor. Segundo o processo, o filho de Brennand presenciou os fatos ocorridos na academia Bodytech.
Podcast
Mais de 6.000 páginas de documentos e 10 horas de áudios inéditos, com detalhes dos crimes dos quais o empresário Thiago Brennand é acusado, dão base ao podcast "Brennand", lançado em dezembro de 2023 pelo UOL Prime.
A série revela detalhes do modus operandi do milionário.
Entre o material obtido com exclusividade há uma gravação em que Brennand assume o crime de estupro contra K., uma produtora brasileira radicada nos Estados Unidos, com quem manteve um relacionamento.
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