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Em visita extraoficial a Lula na prisão, Janja entrou como advogada

Na primeira vez em que visitou Lula na carceragem da Polícia Federal, Janja entrou como advogada. Foi em 30 de julho de 2018, uma segunda-feira (apenas as quintas-feiras eram reservadas a visitas).

A história inédita é contada no primeiro episódio de "Janja", podcast original UOL Prime que estreia nesta segunda-feira (25) para assinantes e estará disponível na terça (26) no YouTube do UOL Prime e em todas as plataformas de podcast.

Ouça no vídeo acima a íntegra do primeiro episódio.

Ao ver a namorada que não encontrava havia 114 dias, Lula fez um gracejo. "Quer dizer que agora tenho uma advogada nova?"

Fazia tempos que Lula vinha pedindo a seus advogados e aos agentes da Polícia Federal para encontrarem uma maneira de permitir a entrada de Janja na carceragem.

Quando reencontrou o namorado, Janja vestia um terninho "discreto e elegante", nas palavras de uma testemunha do encontro.

Lula estava bem-humorado. Ela, chorosa. Beijaram-se discretamente — um selinho — e sentaram à mesa redonda para conversar, de mãos dadas.

Outro lado

Após a publicação do primeiro episódio do podcast "Janja", a primeira-dama negou, por meio de seu advogado, Marco Aurélio de Carvalho, que tenha entrado na Polícia Federal para visitar Lula "como advogada".

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"Ela nega que em qualquer circunstância tenha entrado em outra condição que não a de visita", disse Carvalho ao UOL.

Segundo o advogado, trata-se de "lenda urbana" disseminada por pessoas que querem fingir "ter uma intimidade com Janja que não têm".

Ele afirmou que Janja "respeita a advocacia" e não cometeria tal irregularidade. Não fosse assim, disse Marco Aurélio de Carvalho, ela não seria homenageada pelo grupo de advogados Prerrogativas — do qual ele é coordenador — em festa no próximo dia 6.

UOL reitera a informação de que Janja visitou Lula em 30 de julho de 2018, uma segunda-feira. Apenas quintas-feiras eram reservadas para visitas.

Lula e Janja em frente a vigília em Curitiba, em 2019, após o petista deixar a prisão
Lula e Janja em frente a vigília em Curitiba, em 2019, após o petista deixar a prisão Imagem: Gibran Mendes/CUT Paraná

Presença constante

Pela Lei de Execução Penal, presos têm direito a visitas de cônjuge, parentes e amigos em dias determinados.

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Lula recebia visitas diárias dos advogados e, às quintas, de parentes e amigos — Janja, como namorada (à época, não assumida publicamente), não se enquadrava em nenhuma categoria.

Se fosse enquadrada como amiga, Janja tomaria uma das duas vagas dos visitantes de Lula que tratavam com ele de política, planejamento eleitoral e outros temas inadiáveis para o então ex-presidente.

A presença constante de uma mulher entre os amigos não passaria despercebida pela imprensa, e Lula, na época, queria preservá-la.

Rosângela Silva, a Janja
Rosângela Silva, a Janja Imagem: Matheus Reche/UAI Foto/Folhapress

Buchada e bolinho de carne

A segunda visita de Janja à carceragem da Polícia Federal em Curitiba ocorreu no dia 207 da prisão.

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Ela só conseguiria ser autorizada a visitar Lula como namorada em 20 de dezembro de 2018, após negociação entre a defesa do ex-presidente e a Justiça.

Passou então a frequentar a carceragem semanalmente, ocasiões em que levava refeições especiais e roupas limpas ao namorado.

Parte das refeições eram preparadas na casa do vereador de Curitiba Angelo Vanhoni (PT), que foi chefe de Janja nos anos 1990, quando ele era deputado estadual e ela, assessora geral do mandato.

As refeições eram preparadas pela cozinheira de Vanhoni, sob supervisão de Janja. Dentre os pratos que saíram da cozinha de Vanhoni para a cela da PF estão buchada, bacalhau (que Lula não gostou) e bolinhos fritos de carne, que ele adorou e pediu mais.

As roupas eram lavadas, entre outros lugares, no apartamento de Wilson Ramos Filho, advogado e um dos fundadores do PT no Paraná. Seria na casa dele que o casal passaria a primeira noite após Lula sair da prisão.

Sem visitas íntimas

Em maio de 2019, Janja sairia do anonimato com a revelação — feita pelo ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira — de que Lula estava apaixonado e pensava em se casar, feita em post no Facebook.

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Pereira contou a novidade após visitar Lula na prisão e ouvir o amigo falar sobre o namoro.

As visitas não eram íntimas. Um agente da PF ficava na porta da cela durante a permanência de Janja no local.

Lula não se vestia de maneira especial quando recebia a visita da namorada. Continuava com as roupas de hábito — calção e camiseta esportivas (como o uniforme do Corinthians), ou conjunto de moletom, quando estava mais frio.

Janja com a cadela Resistência na vigília em Curitiba, em foto postada por ela em abril de 2018, mês em que Lula foi preso
Janja com a cadela Resistência na vigília em Curitiba, em foto postada por ela em abril de 2018, mês em que Lula foi preso Imagem: Instagram/Reprodução

Cartas na gaveta

A reportagem do UOL visitou a cela em que Lula esteve preso por 580 dias.

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O local está modificado. Não tem mais os móveis de quando o ex-presidente ficou lá, como a esteira de corrida e a mesa em torno da qual conversava com Janja.

Também não tem mais o armário em cuja gaveta Lula guardava as cartas que recebia de Janja, por intermédio dos advogados.

De manhã, Luiz Carlos da Rocha, advogado de Lula, recebia da equipe do cliente uma série de correspondências a serem entregues a ele. Entre os papeis, um envelope colorido. A recomendação era que tivesse especial cuidado com o item.

Rocha guardava o envelope no bolso do paletó e, eventualmente, esquecia de entregá-lo a Lula, que cobrava: "Cadê a carta?".

Então o advogado se desculpava pelo lapso e dava a correspondência para o cliente, que a guardava na gaveta, para ler depois, com privacidade.

De tarde, quando recebia a visita do outro advogado, Manoel Caetano, Lula já tinha a resposta escrita em mãos. Caetano recolhia o novo envelope e entregava à equipe de Lula, que fazia o objeto chegar à Janja.

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Desconhecida na vigília

Regina Cruz, ex-presidente da CUT no Paraná e uma das coordenadoras da vigília Lula Livre — que se formou em frente à PF para prestar solidariedade ao ex-presidente — acompanhou a visita do UOL à cela.

Ela chorou de emoção diante da janela pela qual Lula podia ver um pedaço de uma araucária, por meio de uma fresta de um palmo.

Da cela, ele escutava as saudações feitas pelos apoiadores, como o "bom dia, presidente Lula".

Regina Cruz conviveu com Janja na época da prisão. Embora fosse antiga militante do PT, a então namorada de Lula era pouco conhecida entre integrantes da vigília.

"Eu a conhecia de vista", diz Cruz. "Como ela trabalhava em Itaipu, não tinha muito tempo para ficar na vigília. Ela nos agradecia por estar organizando tudo, já que era difícil para ela."

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Quando saiu da prisão, Lula apresentou Janja como a namorada que arrumou enquanto esteve preso. Não era verdade. Os dois já namoravam quando ele se entregou à Polícia Federal, em 7 de abril de 2018, no sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo.

Lula e Janja se conhecem desde, pelo menos, o final da década de 1990.

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