Após apagões, Enel contratou gente e aumentou podas em SP. É o suficiente?
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Após dois grandes apagões que deixaram milhões de paulistanos sem luz em 2023 e 2024, a distribuidora de energia italiana Enel trabalha para superar a crise que se abateu sobre a empresa e convencer o poder público brasileiro a renovar seu contrato por mais 30 anos.
O que foi prometido
Compromissos após os apagões. Sob a ameaça de perder a concessão do serviço, a empresa assumiu uma série de compromissos e conseguiu reduzir o tempo para religar a energia elétrica após problemas na rede causados pelas chuvas. Ainda assim, há muito por fazer.
Empresa prometeu investir R$ 25,3 bilhões no país de 2025 a 2027. O investimento engloba todas as operações de distribuição da Enel no Brasil, o que inclui São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará. Em São Paulo, a promessa é investir R$ 10,4 bilhões no período.
A empresa se comprometeu ainda com a expansão de seu quadro de funcionários. O compromisso era contratar mais 1.200 trabalhadores em São Paulo até março de 2025. No Brasil todo, a Enel disse que vai contratar mais 5.000 pessoas até 2026.
A distribuidora fez compromissos específicos com a Prefeitura de São Paulo. Prometeu alocar um agente na sede do Smart Sampa, central de monitoramento de câmeras da prefeitura, e dar acesso à prefeitura ao monitoramento das ruas da cidade que estão sem energia, dentre outros pontos.
Também se comprometeu a podar mais árvores e melhorar sua capacidade de resposta a eventos extremos. Disse que iria atuar conjuntamente com a prefeitura para desligar redes elétricas em locais com árvores caídas. Prometeu ainda um plano prioritário para atender hospitais e escolas com geradores em casos de interrupção do serviço.
O que aconteceu
A Enel diz que já contratou 1.200 novos funcionários em São Paulo. Também passou a promover um curso técnico de capacitação com o Senai, a fim de formar mão de obra. A empresa começou ainda a mobilizar equipes antecipadamente, de acordo com as previsões meteorológicas.
Distribuidora agora tem 561 geradores em São Paulo - antes eram 15. Eles são usados nos locais em que haverá mais demora na religação da energia ou em locais de atendimento prioritário. A Enel passou a contar também com dois helicópteros para ajudar a identificar os locais mais comprometidos pelas chuvas.
A distribuidora diz que dobrou o número de podas de árvores realizadas na cidade de São Paulo. Em 2023 foram 300 mil e, em 2024, 600 mil. Em resposta ao UOL, disse ainda que tem atuado em conjunto com prefeitura, Bombeiros e Defesa Civil, em casos de queda de árvore, desligando a rede elétrica para que as autoridades possam atuar.
Empresa diz que está atuando em conjunto com a prefeitura. A Enel diz que designou um profissional para ser deslocado ao Smart Sampa sempre que necessário e que participa ativamente do Gabinete de Crise do Estado. Também disse que disponibiliza o monitoramento detalhado de sua operação às autoridades quando necessário.
Como está a situação hoje
O tempo de atendimento caiu nos últimos meses. Segundo a Enel, o tempo médio de atendimento a emergências caiu 40% nos dois primeiros meses de 2025, na comparação com janeiro e fevereiro de 2024. Ainda assim, esse tempo aumentou na média dos anos de concessão da Enel em São Paulo.
O tempo médio de atendimento a emergências em São Paulo subiu 56% desde que a Enel assumiu a concessão. A empresa passou a operar em São Paulo no final de 2018. De 2019 a 2024, o tempo médio de atendimento a emergências foi de 10,7 horas. O pior ano foi 2023, com 13,7 horas. Nos seis anos anteriores (2013 a 2018), o tempo médio para atendimento a emergências era de 6,9 horas. Os dados são da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
Apagão em 2025 deixou regiões de São Paulo sem energia novamente. As melhorias implementadas aceleraram o atendimento. A resposta no apagão de 2024 já foi mais rápida que a de 2023. Ainda assim, paulistanos voltaram a ficar sem energia elétrica no início deste ano. Em janeiro, o Procon-SP notificou a Enel por interrupção prolongada do serviço. Foi a quarta notificação do órgão para a Enel desde novembro de 2023. Em fevereiro, comerciantes da rua 25 de março, no centro, ficaram dias sem energia. A empresa forneceu geradores, mas houve prejuízos aos estabelecimentos.
O que explica o resultado
A falta de manutenção agrava a situação em São Paulo. Um levantamento do Sindicato dos Eletricitários feito em abril de 2024 estimou que a rede de distribuição da capital paulista tem cerca de 18 mil defeitos: um problema a cada 420 metros. São necessidades como poda de árvores, troca de postes, troca de cruzetas (estrutura de madeira que segura os fios), substituição de peças e fios partidos ou danificados.
Manutenção ocorre só para atender indicadores e não é preventiva, diz sindicato. "O que eles fazem é a manutenção nas regiões que estão em pior estado, para melhorar a estatística dos indicadores da Aneel. Já na manutenção preventiva você atua mesmo sem existir problema, cria uma rotina de manutenção. Isso se perdeu com o tempo", diz Eduardo Annunciato, presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo.
Número de funcionários próprios diminuiu nos últimos anos. A Enel São Paulo terminou 2024 com 4.400 funcionários próprios, 576 a mais do que em 2023, conforme dados divulgados pela empresa. Mas em 2018 eram 7.200. "Quando privatizou, em 1998 eram 10,8 mil trabalhadores na empresa. Hoje estamos lutando para chegar em 6.000. Se havia exagero no passado, e não havia, hoje há falta", diz Annunciato.
Quais os próximos passos
Enel pediu renovação da concessão por mais 30 anos. No início deste ano, a distribuidora entrou com um pedido junto à Aneel para renovar a concessão do serviço de distribuição de energia em São Paulo. O contrato atual venceria em 2028. A Aneel tem 60 dias para analisar o pedido da distribuidora, que depois ainda precisa passar pelo Ministério de Minas e Energia.
Melhorias no serviço serão exigidas. A Aneel aprovou recentemente novas regras para as concessões, com a intenção de contemplar as necessidades atuais - os contratos vigentes hoje foram assinados há quase 30 anos. Dentre as novas exigências, está a determinação de que as distribuidoras adotem medidas para aumentar a resiliência das redes de distribuição diante de eventos climáticos.
Opinião dos consumidores terá mais peso. Os contratos renovados darão maior importância à satisfação dos usuários, podendo resultar na substituição da distribuidora caso haja insatisfação generalizada e recorrente. Além disso, os consumidores participarão do desenvolvimento do Plano de Ação da Distribuidora por meio de consultas realizadas a cada ciclo tarifário.
Prefeitos de São Paulo se mobilizam para evitar renovação com a Enel. O UOL perguntou à Prefeitura de São Paulo se a administração entende que as promessas da Enel foram cumpridas. A prefeitura não se manifestou especificamente sobre os compromissos firmados pela empresa, mas destacou que prefeitos da Região Metropolitana vão mover uma ação conjunta para evitar a renovação da concessão da Enel. O anúncio sobre a ação dos prefeitos foi feito no final de março e visa pressionar a Aneel a não renovar a concessão da Enel.
Prefeito diz que governo federal faz "manobra" para renovar contrato com a Enel. No início de abril, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), elevou o tom das críticas à empresa e atacou também o governo federal. "A gente sabe que a Enel não serve para operar aqui. Eles estão fazendo uma manobra para antecipar esse contrato que vence em 2028", disse.
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