Vantagens a desembargadores aposentados do TJ-SP sobem 1.488% em 5 anos

Ler resumo da notícia
Desembargadores aposentados do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) tiveram seus ganhos globais mais do que triplicados de 2020 a 2025 graças a um aumento de 1.488% nos pagamentos de "vantagens eventuais".
O que aconteceu
Média de remuneração bruta a desembargadores aposentados subiu 283,6% em cinco anos. Esse valor passou de R$ 46.325 em março de 2020 para R$ 177.704 em março de 2025. As tabelas de remunerações usadas no levantamento feito pelo UOL foram as de março de cada ano.
Crescimento nos salários se deve a vantagens eventuais, que saltaram 1.487,6% em cinco anos. Em 2020, os desembargadores recebiam, em média, R$ 7.089 em vantagens eventuais, chegando a R$ 112.544 em março deste ano. O TJ-SP afirma que todos os pagamentos são justificados, mas não há uma estimativa de por quanto tempo ainda continuarão sendo pagos.
Os ganhos dos desembargadores englobam indenizações, gratificações e vantagens pessoais, além do próprio salário-base. Do valor, bruto, há descontos de Imposto de Renda e contribuição previdenciária.
Vantagens foram pagas de forma constante aos desembargadores aposentados nos últimos meses. A partir de dezembro de 2024, quase todos os juízes que atingiram o topo da carreira antes de se aposentar passaram a receber valores adicionais mensalmente. Veja:
- Setembro de 2024: dos 404 aposentados, 402 receberam o benefício;
- Outubro de 2024: dos 406 aposentados, 169 receberam;
- Novembro de 2024: dos 408 aposentados, 123 receberam;
- Dezembro de 2024: dos 409 aposentados, 401 receberam;
- Janeiro de 2025: dos 409 aposentados, 398 receberam;
- Fevereiro de 2025: dos 407 aposentados, 397 receberam;
- Março de 2025: dos 405 aposentados, 389 receberam.
O número de desembargadores aposentados varia pouco a cada ano. Eram 404 em 2020, 400 em 2021 e 2022, 395 em 2023, 398 em 2024, e 405 em 2025.
Vantagens eventuais não são privilégio, segundo o tribunal
As vantagens eventuais estão "longe de constituir privilégio", segundo nota do TJ-SP publicada no site do próprio tribunal. As vantagens se devem a indenizações de férias e "outros afastamentos regulares não usufruídos por absoluta necessidade de serviço".
Tribunal afirmou ao UOL que tem "efetuado, regularmente, pagamentos a magistrados e servidores de valores em atraso". "Os pagamentos retroativos se referem às diferenças salariais não recebidas à época em que foram reconhecidas. Os pagamentos de tais verbas foram e são efetuados de forma parcelada, observando estritamente a condição orçamentária e financeira do tribunal."
Pagamento está amparado por decisões do STF e do CNJ. "O reconhecimento desses valores e o seu correspondente pagamento possuem respaldo em decisões do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça e incluem férias não pagas e plantões trabalhados. É preciso observar que existe expressa recomendação do CNJ para que o tribunal reduza o seu passivo, a fim de que o orçamento não seja onerado por serviço de dívida (correção monetária e juros), redução essa que só pode ocorrer se o tribunal, na medida da sua capacidade, conseguir liquidar o principal mais rapidamente."
TJ-SP precisa explicar até quando esses pagamentos vão, diz advogado
Há uma tendência de que pagamentos de vantagens eventuais durem "algum tempo", explica advogado previdenciário. "À medida que alguns desembargadores obtêm decisões judiciais favoráveis para receber a mais, outros desembargadores que até então não tinham promovido ações judiciais, por exemplo, podem promovê-las e obter também decisões judiciais que obrigam que esses pagamentos sejam feitos", afirmou Francisco Gomes Junior, sócio da OGF Advogados e presidente da ADDP (Associação de Defesa dos Dados Pessoais e Consumidor).
É fundamental saber até quando vão os pagamentos dessas vantagens, defende Gomes. "É importante cobrar a transparência da administração do TJ-SP para que se saiba efetivamente até quando esses penduricalhos irão e qual percentual de desembargadores já tem decisão judicial a seu favor, e o que ainda falta. Na realidade, o que se tem é o seguinte: um pagamento crescente ano a ano com base legal, com base em decisões judiciais ou decisões do CNJ, por exemplo, mas não uma transparência de até onde esses pagamentos irão, quanto falta pagar e para quem."
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.