Políticos dizem confiar em ONGs e ignoram relações com entidades suspeitas

Apesar disso, os parlamentares dizem ignorar a relação entre essas ONGs e a nova rede de entidades contempladas com R$ 274 milhões no ano passado para projetos no RJ e Amapá.

Veja o que dizem os políticos que direcionaram R$ 274 milhões em emendas às ONGs:

Senador Romário (PL-RJ) e o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que enviaram notas iguais por meio de suas assessorias de imprensa:

"Sempre atuei dentro da legalidade e com total transparência na destinação de minhas emendas parlamentares. A definição das instituições contempladas segue critérios baseados na análise de diversos ofícios recebidos, priorizando projetos que demonstrem
viabilidade técnica, impacto social e alinhamento com as áreas de atuação do meu mandato, especialmente esporte, saúde e assistência social.

É importante esclarecer que meu papel se restringe à indicação das emendas, conforme previsto na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). A execução dos recursos, incluindo repasses e fiscalização, é de responsabilidade exclusiva dos órgãos competentes, como ministérios, prefeituras e entidades conveniadas.

O controle externo é realizado por instituições como a CGU e o TCU, responsáveis por fiscalizar eventuais irregularidades.

Reitero meu compromisso com a transparência no uso dos recursos públicos e reforço minha postura de imediata correção diante de qualquer indício de falha identificado pelos órgãos competentes.

A única diferença é que o deputado Sóstenes também afirma: "Solicitei à minha assessoria a realização de um levantamento detalhado das ONGs com experiência comprovada na execução de projetos sociais."

Deputado Marcos Tavares (PDT-RJ), em nota enviada por sua assessoria de imprensa:

"No período que antecede ao prazo de indicação de emendas parlamentares, diversas instituições se apresentam nos gabinetes parlamentares para expor seus projetos portfólios, com o objetivo de conseguirem a destinação de verba para a execução de seus projetos.

Depois disso, em razão da análise dos projetos, o parlamentar seleciona a instituição e indica a destinação de verba, por meio de emenda, para a sua execução.

Mister ressaltar que, caso o parlamentar tenha notícia de qualquer irregularidade quanto à execução dos projetos selecionados e custeados pela verba, buscará os órgãos de controle para que possam corrigir qualquer distorção."

Deputado Luciano Vieira (Republicanos-RJ), por telefone:

"Troquei as ONGs que receberam os recursos das emendas por causa das denúncias, das suas reportagens. Não quis pagar para ver, não quero meu nome em reportagens com denúncias.

As [novas] ONGs apresentaram os portfólios no meu gabinete e vou acompanhar toda a execução dos projetos. Vou montar uma pasta para cada um, e a ONG vai ter que mandar fotos de tudo. Se eu perceber que tem alguma coisa errada, interrompo tudo na hora.

Sobre as ligações com as outras ONGs, não sabia, fiquei sabendo por você [repórter]. Vou pedir para a minha equipe checar."

Deputado Hugo Leal (PSD-RJ), em nota enviada por sua assessoria de imprensa

"O deputado identificou as ONGs Abepe e Núcleo Bem Viver por meio dos cadastros junto aos ministérios do Esporte e da Educação, órgãos responsáveis pela habilitação de entidades aptas a receber recursos para a execução de projetos na área.

As ONGs atendem aos critérios exigidos pelos ministérios e continuam aptas a executar os projetos, inclusive após as recentes apurações que levaram à suspensão de 15 entidades, sem impacto para Abepe e Núcleo Bem Viver".

Deputada Dani Cunha (União-RJ), em resposta enviada por WhatsApp:

"Coube à minha assessoria a tarefa de escolher a ONG que trabalharia com o gabinete, depois de pesquisas por critérios técnicos com a avaliação da sua capacidade.

Coube à mesma assessoria a iniciativa de troca da ONG, depois que informações contendo possíveis denúncias sobre a primeira entidade, com fatos os quais não temos concordância, selecionando um nova ONG, buscando os critérios de qualificação e transparência.

Caso surja qualquer dúvida sobre a nova ONG, não hesitaremos em suspender ou trocar caso ainda possível, por outra que preencha os mesmos critérios de qualificação e transparência que buscamos".

Deputado Dimas Gadelha (PT-RJ), por email:

"O gabinete está sendo sempre procurado e de portas abertas durante todo o ano para projetos sociais, voltados para o Esporte e a Cultura, inclusive, buscando capacitação de jovens para retirada dos iminentes riscos dos locais em que vivem.

As instituições que se destacam são as que demonstram maior capacidade de impactarem no empoderamento e na inclusão social da população. Diante disso, quem busca e apresenta os projetos são as ONGs e estes são enviados ao ministério competente, que por sua vez, é quem faz a análise técnica.

Sou um instrumento da população para efetivar programas. O ministério é quem faz a análise técnica de requisitos específicos. As instituições que demonstram capacidade técnica suficiente têm seus projetos realizados, e as que não demonstram capacidade técnica não celebram parcerias."

Deputado Julio Lopes (PP-RJ), em nota enviada por sua assessoria de imprensa:

"Em relação à capacidade das entidades para executar projetos com o volume de recursos indicado, posso afirmar que possuem uma estrutura e equipe técnica altamente qualificadas.

A Abepe, por exemplo, conta com profissionais experientes em gestão de projetos esportivos, muitos deles com histórico de atuação em grandes eventos e programas sociais. Sua diretoria é composta por especialistas em diversas áreas, como educação física, administração esportiva e captação de recursos, garantindo uma abordagem multidisciplinar e eficiente na execução dos projetos.

No caso da Ibra-tec, a diretoria possui vasta experiência em gestão de projetos e compliance, um profundo conhecimento das necessidades e desafios do setor esportivo no Rio de Janeiro. Seu corpo técnico é formado por profissionais especializados em diferentes áreas do conhecimento, além de contar com o apoio de consultores e parceiros estratégicos que agregam valor aos projetos.

É importante ressaltar que a escolha dessas ONGs para receber as emendas parlamentares foi pautada em critérios técnicos e na avaliação do potencial de impacto social de seus projetos. Acreditamos que, com o apoio financeiro adequado e uma gestão eficiente, essas entidades serão capazes de promover o desenvolvimento do esporte e o bem-estar da população do Rio."

Deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), por WhatsApp:

"Fui apresentado a essas organizações sociais por indicação de amigos deputados. São entidades que têm a capacidade de realizar os projetos porque, se não tivessem, não ia valer a pena para mim colocar aquele recurso lá.

No meu mandato, nunca tive nenhum transtorno, nenhum problema, no que tange à entrega que as entidades se propuseram a fazer."

Deputada Laura Carneiro (PSD-RJ), em nota enviada por sua assessoria de imprensa

"As emendas parlamentares são destinadas a ONGs por sua habilidade técnica em projetos de inclusão social, de acordo com os critérios estabelecidos pelo ministério responsável.

As emendas de meu mandato são sempre destinadas a projetos que comprovadamente funcionam, com aprovação dos ministérios específicos."

Deputado Gutemberg Reis (MDB-RJ), em nota enviada por sua assessoria de imprensa:

"O deputado informa que essa é uma emenda de bancada destinada à Unirio. O objetivo da verba são projetos em comunidades, com foco no desenvolvimento científico e social. A instituição de ensino analisa e encaminha o recurso para entidades devidamente cadastradas pela mesma".

Os deputados Juninho do Pneu (União-RJ), Sargento Portugal (Pode-RJ) e Vinícius Gurgel (PL-AP) foram procurados por email e por WhatsApp de seus chefes de gabinete, mas não responderam.

Os deputados Bebeto (PP-RJ), Jorge Braz (REP-RJ), Carlos Jordy (PL-RJ) e Max Lemos (PDT-RJ) e o senador Carlos Portinho (PL-RJ) foram procurados por meio de suas assessorias de imprensa, mas não se manifestaram.

Os deputados Josenildo Abrantes (PDT-AP) e Murillo Gouvea (União-RJ) foram procurados por email, mas também não se pronunciaram.

A reportagem será atualizada caso haja resposta.