Esquecemos a covid? Sistema de saúde evoluiu, mas vacinação cai e preocupa

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Cinco anos após a pandemia de covid-19, o Brasil —assim como o resto do mundo — vive hoje um cenário totalmente diferente. O número de mortos diminuiu e há vacinas e medicamentos disponíveis para a população. A doença, aos poucos, foi sendo cada vez mais controlada.
Como está o Brasil no momento
Casos de covid seguem em baixa. Até 10 de maio deste ano, o Brasil registrou 197.927 casos e 1.556 óbitos por covid-19. No mesmo período de 2024, esses números eram de 591.951 diagnósticos e 3.452 mortes.
Avanço positivo. Medidas coordenadas pelo Ministério da Saúde para conter o avanço da covid-19, principalmente após a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), são avaliadas como positivas por especialistas consultados pelo UOL.
Médicos, porém, contam que ainda internam pacientes graves com covid-19. Carlos Magno Fortaleza, infectologista e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista), diz que a situação atual é parecida com o que já ocorre com a influenza.
A covid se instalou com quadros graves, sem aquele impacto da pandemia, que era uma emergência de saúde pública. Mas ainda hoje interno pacientes com covid, principalmente idosos. Então, não dá para negligenciá-la. Carlos Magno Fortaleza, infectologista
Especialistas citam os mais afetados. Grupo engloba idosos (acima dos 70 anos), crianças com menos de um ano e pessoas imunossuprimidas.
No geral, há vacinas disponíveis para a população. No momento, quem deve se preocupar em manter a vacinação atualizada são os seguintes grupos:
Crianças de 6 meses a 5 anos: vacinação de rotina;
Gestantes: uma dose por gestação;
Idosos (com mais de 60 anos): uma dose a cada 6 meses;
Pessoas com doenças pré-existentes e grupos prioritários a partir de 5 anos (imunocomprometidos): uma dose a cada 6 meses;
Demais grupos prioritários (pessoas vivendo em instituições de longa permanência e residência de idosos e seus trabalhadores, indígenas, profissionais de saúde, entre outros): dose anual.
Indivíduos da população geral (5 a 59 anos) devem tomar uma dose caso não tenham sido vacinados anteriormente. Para quem já tomou a vacina, não há orientação de doses adicionais no momento.

Brasil já aplicou mais de 564,2 milhões de doses de vacinas contra a covid desde 2021. Números do Ministério da Saúde incluem as três primeiras doses do esquema vacinal, além de doses únicas e as de reforços que grupos prioritários tomam anualmente ou a cada seis meses. Os dados levam em conta os imunizantes monovalentes (vacinas mais atualizadas, com as cepas mais prevalentes) e bivalentes (cepa original e outras não tão mais prevalentes).
O que foi feito para melhorar
Os médicos elogiam as mudanças em relação ao governo Bolsonaro. Evaldo Stanislau, professor e infectologista do Hospital das Clínicas da FMUSP, aponta como as principais melhorias na gestão o aprimoramento do sistema de vigilância da doença e a rápida produção de tecnologias —como as vacinas e os testes rápidos.
Nós saímos do nada, e agora temos até teste rápido, seja molecular ou por antígenos, para os principais vírus respiratórios. No SUS, por exemplo, temos um medicamento antiviral [remdesivir] contra covid já disponível.
Nós evoluímos demais do ponto de vista científico. A gente entendeu que temos de ter diversificação de insumos em saúde, sejam para proteção, para medicamentos ou para pesquisa. Evaldo Stanislau, infectologista
Outro ponto levantado são os boletins semanais emitidos pelo Ministério da Saúde. Atualmente, mesmo com o fim da pandemia, há uma disponibilidade semanal dos dados no Brasil —embora, de fato, não seja tão divulgado.

O que precisa melhorar?
Entre os especialistas, há uma crítica sobre as campanhas de divulgação da vacinação. Levando em consideração os impactos de fake news e de grupos antivacina, as campanhas deveriam ser melhores, justamente para desfazer os "estragos" causados pela postura antivacina do antigo governo, que ainda tem eco.
Campanhas vacinais existem, mas me parece que precisamos descobrir novas estratégias. Nisso estamos falhando, tanto o governo, como a sociedade e os profissionais da saúde. Temos de conseguir uma adesão melhor às vacinas. Carlos Magno Fortaleza, infectologista
Stanislau também acredita que grupos sem outras doenças poderiam se vacinar. O infectologista entende que os indivíduos com interesse em atualizar a vacina poderiam ter acesso, mesmo sem fazer parte de grupos prioritários. "A consequência de não deixar as vacinas disponíveis é passar essa mensagem distorcida de que a doença não é tão grave assim. Acredito que pode ser um erro não disponibilizar a quem tenha interesse", explica.
Falta de acesso às vacinas mais atualizadas. Segundo Julio Croda, infectologista, há uma disponibilidade maior das vacinas com a cepa XBB.1.5, que é de 2023, portanto menos atualizada. A mais recente, contra a JN.1 (da farmacêutica Moderna),é mais difícil de encontrar, explica Croda. "Dados mostram que a XBB garante menos proteção", alerta.
Ministério da Saúde garante que disponibiliza as vacinas mais atualizadas e aprovadas pela Anvisa. A pasta afirma que os dois imunizantes estão disponíveis nos postos —isso deve variar de acordo com a localização. "Até o momento, não há solicitação de atualização de cepa em análise pela Anvisa, e o Ministério da Saúde adquire apenas vacinas licenciadas pela agência. Portanto, os imunizantes ofertados atualmente são os mais atualizados e os únicos autorizados para uso no país", diz o Ministério em nota.
Uma crítica mais ampla é quanto ao rápido esquecimento da pandemia. Para Stanislau, há uma sensação de que a população já deixou para trás os impactos da pandemia, que começou há 5 anos. "Uma reflexão é: será que entendemos o que é uma emergência sanitária? Ou o potencial que uma doença tem de mudar nossa vida de um dia para o outro?"
Desafios contemporâneos podem trazer novas pandemias. O infectologista frisa que há uma preocupação muito grande com as mudanças climáticas e a instabilidade geopolítica. "As doenças infecciosas vão aumentar e teremos novas pandemias. E o que aprendemos?", questiona.
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