'A investigação sobre você é pra ver se me pega', disse Bolsonaro a Cid
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A Polícia Federal encontrou no telefone celular de Mauro Cid os registros de diálogos mantidos com Jair Bolsonaro (PL) entre dezembro de 2022 e maio de 2023, momento em que o tenente-coronel foi alvo de prisão.
Essas conversas mostram os bastidores da relação entre Bolsonaro e Cid —que foi seu ajudante de ordens durante os quatro anos de governo— e fazem parte de um conjunto de diálogos até hoje secretos, guardados no celular do tenente-coronel.
O UOL teve acesso exclusivo ao conteúdo do telefone celular de Cid. São mais de 20 mil arquivos e, apenas no WhatsApp, 158 mil mensagens.
Uma parte do material se tornou pública após a conclusão das investigações da PF, mas o restante do conteúdo ainda estava sob sigilo.
O tenente-coronel foi escolhido para a missão de ajudante de ordens pelo Comando do Exército após a eleição de Bolsonaro. Trata-se de uma função militar, com o objetivo de assessorar o presidente da República.
No entanto, os diálogos deixam claro que Cid tinha afinidade ideológica com o chefe e fez campanha eleitoral junto a familiares para que Bolsonaro fosse reeleito.
As conversas também mostram que Cid exercia influência sobre o então presidente por meio de conselhos para a gestão, oferecidos a título de "assessoramento".
Quando Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, morreu em 29 de dezembro de 2022, foi Cid quem avisou Bolsonaro e sugeriu decretar luto oficial pelo "máximo de dias" permitido.

Após o final do governo, as conversas entre Cid e Bolsonaro passam a abordar com frequência as investigações da PF contra o ex-presidente e seu entorno.
Cid demonstrava preocupação com o avanço dessas apurações e compartilhava com o ex-presidente notícias sobre o assunto.

Durante o 8 de Janeiro, Mauro Cid envia diversas mensagens a Bolsonaro. O ex-presidente apenas comenta que o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), perderia poder com a intervenção federal decretada por Lula na segurança pública do DF.

Dias depois, Bolsonaro envia a Cid uma notícia sobre a minuta golpista encontrada na residência de seu ex-ministro da Justiça Anderson Torres.
O ex-presidente não faz comentários sobre o fato, mas a investigação da Polícia Federal descobriu posteriormente que Bolsonaro debateu a minuta com os comandantes das Forças Armadas para tentar permanecer na cadeira de presidente mesmo após a derrota nas eleições.

Na noite de 30 de janeiro, Cid envia para diversos contatos uma reportagem publicada pela revista Veja que dizia que o tenente-coronel estava na mira da PF e que, por isso, seria impedido de assumir o Batalhão de Ações e Comandos de Goiânia.
O ex-presidente manda uma mensagem de áudio para se solidarizar.
"Cid, a investigação em cima de você é pra ver se pegaria alguma coisa contra mim. Não pegaram nada, e a narrativa foi pro espaço, daí o pessoal bate o pé nesta outra aí agora. Eu tô à disposição aqui, se quiser ligar pra mim será um prazer falar contigo. Abraço."

Os dois também conversaram sobre a investigação das joias, que começa depois de o jornal O Estado de S. Paulo revelar que Bolsonaro tentou recuperar da Receita Federal um conjunto de joias dadas de presente pelo governo da Arábia Saudita e retidas no Aeroporto de Guarulhos.
Cid avisou a Bolsonaro que estava providenciando os documentos para comprovar que todas as joias recebidas seriam destinadas ao acervo presidencial.
O ex-presidente interpela Cid após ler uma reportagem antecipando o teor do depoimento que o tenente-coronel daria à Polícia Federal sobre o caso das joias.
A reportagem dizia que Cid admitiria que tentou resgatar as joias retidas pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos por ordens de Bolsonaro.
Ao ser confrontado com a informação, Cid diz a Bolsonaro que o isentaria de qualquer responsabilidade.

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