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A solução para a crise dos cemitérios? Enterrar mortos na estrada

Cemitério Cachoeirinha, na zona norte de São Paulo, em 2015 - Zanone Fraissat/Folhapress
Cemitério Cachoeirinha, na zona norte de São Paulo, em 2015 Imagem: Zanone Fraissat/Folhapress

Do TAB, em São Paulo

29/07/2019 19h58

Não faltam momentos na história em que a sociedade precisou enfrentar o problema da crescente população de mortos. Essa discussão voltou à baila no Reino Unido, que passa por uma crise com cemitérios e crematórios operando no limite -- mas vale também para o Brasil, onde há cemitérios abrindo sepulturas em espaços que antes serviam de calçadas.

Diante dessa realidade, um importante especialista em saúde pública defende o uso de ambos os lados de uma estrada, de uma ciclovia e até mesmo instalações industriais antigas para abrigar os mortos.

Segundo John Ashton, ex-presidente da Faculdade de Saúde Pública do Reino Unido, o resultado seria a criação de novas florestas e espaços verdes. Assim, além de enfrentar a crise dos cemitérios, ainda seria possível ajudar a combater a poluição e o aquecimento global.

Os chamados "enterros verdes" já acontecem em alguns países. Sem embalsamento, os cadáveres geralmente são envolvidos em uma mortalha ou um caixão biodegradável. No lugar da pá de cal, a ideia é plantar uma árvore no local.

"Há 500.000 a 600.000 mortes por ano na Inglaterra e no País de Gales, então se todos que morreram tiveram um enterro verde - não estou dizendo que isso vai acontecer -, mas se todos pudessem, plantaríamos meio milhão de árvores por ano", afirma Ashton.

Atualmente, o que está em debate, tanto no Reino Unido quanto em outros países, é a reutilização de sepulturas, mas o especialista afirma que isso só retardará a crise.

Já a cremação, tida como uma solução óbvia para a questão, é vista com maus olhos. Em muitos casos, as urnas com as cinzas também são enterradas e o próprio processo de cremação contribui para a poluição do ar, por conta da quantidade significativa de combustível utilizado.

Ao Jornal da Sociedade Real de Medicina, Ashton defendeu a opção proposta pelo estado americano de Washington para essa questão. "A mais recente oferta americana é a de compostagem humana usando um processo no qual os cadáveres são colocados em vasos de aço reutilizáveis juntamente com lascas de madeira, palha e alfafa, depois que membros artificiais, articulações e marcapassos forem removidos", escreve Ashton.

"Isso cria as condições para o corpo se decompor em 30 dias em uma cobertura de composto, que pode ser usado para plantar uma árvore ou cultivar vegetais."

Julie Dunk, diretora executiva do Instituto de Gerenciamento de Cemitérios e Crematórios do Reino Unido, disse que o instituto defende há tempos a reutilização de sepulturas, mas diz acolher a abordagem proposta por Ashton.

"Como na vida temos o dever de proteger o planeta, devemos [fazer o mesmo] na morte e é importante que se considerem novas ideias que forneçam uma forma respeitosa e apropriada de descarte sem onerar a terra", disse.

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