As ideias da indústria da comida para alimentar 10 bilhões de pessoas
Parece ficção científica, mas o futuro próximo nos reserva hortas vivas e carne produzida em laboratório nas gôndolas dos supermercados, além de pílulas de fezes à venda em farmácias para combater aquele probleminha intestinal. Não vai nem demorar muito: as tais cápsulas já são comercializadas nos Estados Unidos, assim como carne de boi, frango e pato que nasceu de células - sem que nenhum animal tenha sido abatido.
"Teremos 10 bilhões de pessoas vivendo na terra nos próximos 30 anos, e alimentar todas essas pessoas não é tarefa fácil para ninguém", afirmou Maria Macedo, diretora de marca e criação da Memphis Meats, durante o painel que debateu comida e saúde num mundo super habitado no Rio2C, conferência sobre inovação e criatividade que vai até domingo (28) no Rio de Janeiro. Com sede na Califórnia, a empresa produz carne, mas é uma startup de tecnologia que tem financiamento tanto de Bill Gates, fundador da Microsoft, como de grandes produtores do agronegócio.
Com fotos de pratos atrativos mostrando almôndegas e bifes na tela, Maria apresentou argumentos de sobra para você pensar duas vezes antes de comprar carne para o próximo churrasco. Ela adianta que o consumo mundial de carne vai dobrar até 2050, e que um terço de toda a terra do planeta é ocupada hoje por animais destinados à indústria de alimentos. "E quem conhece um pouquinho como funciona uma fazenda sabe que não é uma indústria muito eficiente. Então a gente olha pra esse sistema e pensa: não está funcionando. Nós, seres humanos, temos a obrigação de pensar num modelo que funcione melhor", afirma.
Enquanto Maria promove o consumo de carne sem dilemas éticos ou morais, o pesquisador chefe da Universidade Mackenzie, Timotheo Silveira, anunciou que São Paulo deverá ter uma fazenda vertical no coração do bairro de Higienópolis até o fim de 2019. Será a primeira do Brasil, e o conceito promete enfrentar alguns problemas conhecidos causados pela agricultura tradicional, como o uso de pesticidas, consumo de água em grandes quantidades e a emissão de poluentes, além das condições de armazenamento e conservação. "Vamos utilizar um modelo de manipulação de incidência de luz e da quantidade de micronutrientes na hidroponia, já adotado pela FarmOne em Nova York", promete Silveira.
A chegada da americana FarmOne ao Brasil deve se concentrar, inicialmente, em atender a demanda de restaurantes. "Se o chef Alex Atala quiser um manjericão da Tailândia, será possível fazer a transferência de produção de forma controlada e escalonada dessa erva para consumo fresco no Brasil", diz o pesquisador. Mas ele não descarta que o modelo da horta vertical permita, num futuro próximo, que você mesmo colha ingredientes frescos para sua salada num supermercado. Por enquanto, avisa, essa produção terá escala apenas laboratorial, mas os estudos de impacto para ampliação já começaram.
"Hoje, nós temos um cabo de guerra na sociedade. De um lado, será necessário aumentar muito a produção de alimentos e, de outro, precisaremos atender cada vez mais demandas específicas, com maior número de veganos, de consumidores de orgânicos", diz o pesquisador.
Com trânsito na indústria de alimentos e de medicamentos, coube ao diretor de negócios da Neoprospecta Luiz Fernando Oliveira falar de microorganismos num painel com fotos de vegetais apetitosos e carnes suculentas. Não adianta torcer o nariz: hoje, temos mais bactérias no nosso intestino do que células no nosso organismo, garante o especialista em biotecnologia. Pense no iogurte funcional e você terá uma ideia de como a indústria de microorganismos está presente na sua vida.
Com estudos para gerar inteligência e conhecimento a partir de bactérias, Oliveira define a empresa que criou como uma startup de biotecnologia hard science. Não por acaso, sediada em Florianópolis, conhecida como a Ilha do Silício no Brasil. O futuro, alertou, terá de lidar com a mudança de gostos e costumes da sociedade de forma sustentável. "É importante racionalizar o uso de substâncias antimicrobianas e investir em tecnologia para enfrentar a ameaça das mutações de microorganismos", recomenda. Maria, da Memphis Meats, avisa que a próxima década será desafiadora no mercado de alimentos. "Há muita coisa sendo pesquisada com inteligência artificial e biotecnologia." Em breve, num supermercado perto de você.
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