A glamourização de crimes reais deixa de lado a história das vítimas
Na onda de obras audiovisuais que retratam crimes reais, um lado da história tem sido esquecido: o das vítimas.
Em "Era Uma Vez em Hollywood", Tarantino adapta a história da atriz Sharon Tate, assassinada grávida em 1969 por seguidores de Charles Manson. A crítica, no entanto, notou que Margot Robbie, atriz que interpreta Tate no filme, tem poucas falas na trama.
Na vida real, para inverter a lógica de glamourizar os criminosos, a primeira ministra da Nova Zelândia, Jacinta Ardern, se recusou a citar o nome do responsável pelo ataque terrorista em Christchurch, em maio deste ano.
"Vamos nos lembrar daqueles que deixaram este lugar. Vamos nos lembrar dos primeiros socorristas que deram muito de si mesmos para salvar os outros. Vamos nos lembrar das lágrimas de nossa nação e da nova determinação que formamos", afirmou Ardern em seu discurso após o crime. O país também criminalizou a distribuição e exibição do vídeo dos tiros. A pena pode chegar a até 14 anos de prisão. Um homem foi condenado a dois anos por compartilhar um vídeo estetizado do crime.
Na Austrália, Michaela Dunn, 24, vítima de um esfaqueador, foi homenageada após ser identificada e teve seu nome destacado na imprensa, ao contrário do responsável pelo crime.
Nos Estados Unidos, país onde mais acontecem massacres, há uma campanha intitulada "Don't Name Them", do Centro ALERRT da Universidade Estadual do Texas, aconselha a não divulgar os nomes dos assassinos. Dar publicidade "permite ao atirador realizar um de seus objetivos e valida sua vida e suas ações".
"Sociólogos e criminologistas devem estudar o criminoso - mas não vamos glorificar o atacante, dando-lhes tempo nas telas. Não compartilhe seus manifestos, suas cartas, suas postagens no Facebook. Esteja acima do sensacionalismo. Conte as histórias reais - as histórias das vítimas, os heróis e as comunidades que se reúnem para ajudar as famílias a se curarem", afirma o manifesto da campanha.
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